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18/08/2021 às 12h23min - Atualizada em 16/08/2021 às 19h41min

Pronome neutro: exclusão ou inclusão?

Karina Santos - Revisado por Mário Cypriano
Bandeira da não-binariedade - Créditos: Reprodução / Site Em Todo Lugar
Recentemente, o secretário de Cultura, Mario Frias, usou sua rede social para criticar o uso da palavra “todes" pelo Museu Da Língua Portuguesa. No dia 12 de Julho, o perfil oficial da instituição publicou um tweet sobre a nova fase de reabertura do patrimônio, recorrendo à linguagem neutra, que não consta no dicionário nem no Vocabulário Ortográfico da Lingua Portuguesa (VOLP).

O caso atingiu as pessoas não binárias (que não se identificam com o genêro masculino ou feminino)  que fazem uso do pronome neutro no seu dia a dia. De um lado, a língua deve acompanhar as adaptações e fazer as inclusões necessárias na sociedade. Do outro lado, o termo pode ser uma agressão á língua portuguesa, visto que a linguagem neutra pode excluir alguns grupos.


Mas, o que seria o pronome neutro e qual a visibilidade do assunto?

 
O uso do pronome neutro para pessoas não binárias consiste na troca dos artigos “a/dela/ela" e “o/dele/ele" por “x/ile/dile". Enquanto uma parcela da população defende o uso relacionado à inclusão social de grupos LGBTQIA+, outra parcela encara como exclusão social, visto que haveria uma readaptação que afetaria grupos como pessoas surdas, cegas ou que não tiveram acesso à educação.

O Doutor em Letras e pesquisador de Linguística Cognitiva, Pablo Jamilk critica:

 

“Você entende que uma mulher trans quer ser vista como mulher? Assim como um homem trans quer ser visto como um homem? Quando você propõe uma linguagem que elimina essas distinções, você acaba de colocar o dedo na ferida da comunidade trans. Porque a pessoa que luta para ser enxergada como ela se vê, está enxergando nesse momento uma tentativa de apagar essa identidade dela. Ou seja, de utilizar uma estratégia que impeça a identificação daquilo que a pessoa lutou por tanto tempo.”

Não somente a comunidade LGBTQIA+, mas também outros grupos sofrem adaptações. A grande problemática envolvendo o assunto é: como explicar e reestruturar tudo o que aprenderam? Ao mudar o sistema linguístico, os cegos precisariam adaptar esse sistema para o braille e os softwares teriam problemas ao realizar uma leitura nessa linguagem. Além disso, seria um grande desafio para as pessoas disléxicas, autistas e disgráficas que já possuem dificuldade no processamento cognitivo dos textos.

Se houvesse uma mudança, todos os grupos sofreriam alterações graves e enfrentariam muitas dificuldades, o que ocasionaria em uma exclusão na tentativa de haver inclusão.

 

Quem pensou nessa ideia, julgou que ela fosse muito interessante pra atender o interesse de algumas pessoas, de uma parcela da população, mas não parou pra pensar que fazendo isso vai omitir mais as outras pessoas.", pontua o especialista


Quem são os defensores?


Cada vez mais artistas e cantores utilizam a linguagem neutra, como Demi Lovato, que recentemente se assumiu não binária e pediu em suas redes sociais para que seja usado os pronomes neutros. Em entrevista ao site Nonada, o cantor Emilio Juane, que também defende o uso do termo e critica o binarismo da língua, contou sua expêriencia, além de comentar que a difuldade do uso parte do preconceito com pessoas não binárias:
 
“Isso parte da não aceitação da pessoa não-binária. A linguagem é muito flexível, ela muda muito ao longo do tempo e ela tem determinados usos. Então ela não é uma coisa concreta, a língua está em constante transição e a gente precisa reconhecer isso. O primeiro desafio é o reconhecimento de que sim, é possível mudar a língua e sim, existem identidades diferentes e que poderiam ser contempladas e respeitadas através dessa linguagem”, diz.

Entender a linguagem neutra é compreender que há outros lados da sociedade que buscam reconhecimento. A esperança é que não somente uma linguagem seja alterada, mas também as políticas públicas, permitindo que, ao incuir um grupo, todos sejam igualmente reconhecidos.


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