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26/08/2021 às 08h51min - Atualizada em 23/08/2021 às 17h40min

Bo Burnham: Inside | Comédia musical produzida totalmente em casa durante o isolamento social gera reflexões profundas

O especial que foi escrito, produzido e estrelado por Bo Burnham está disponível na Netflix

Bianca Mingote - revisado por Jonathan Rosa
Robert Pickering ou "Bo" Burnham em uma das cenas que questiona o espaço ocupado pelas mídias digitais em nossas vidas. (Foto/ Reprodução: Netflix)

Precisamos falar sobre Inside. A produção foi lançada no final de maio no catálogo de streaming da Netflix, mas nunca é tarde para uma boa indicação que, provavelmente, vai te encantar ao ver o reflexo de si mesmo em cada verso das canções. No início pode ser estranho: uma câmera, um homem branco em um cômodo da casa, na pandemia, fazendo um show de comédia – um mix de elementos que resultou no especial do norte-americano Bo Burnham, comediante, compositor, músico, poeta, cantor, rapper e ator. Ufa, quanta coisa! 

 

As músicas são regadas à ironia e críticas acerca das novas formas de relação na internet, ansiedade, depressão, angústia de estar vivendo em monotonia em um quarto e até a comemoração de seu aniversário de 30 anos, tudo isso dosando humor e autocrítica. Além dessa imensidão temática, a obra também satiriza o uso de mídias sociais, especificamente por mulheres brancas, e aborda comicamente o termo sexting.

 

Inside põe em pauta como é possível encontrar refúgio na criatividade. Entre as canções e performances o comediante “conversa” com o espectador. Em uma dessas transições se questiona o que ele irá fazer quando terminar o filme, atividade a qual se dedicou por um bom tempo. 

 

O especial de comédia tem 1h27min de duração e foi totalmente gravado na casa do comediante durante um ano. O primeiro ano de pandemia, essa palavra de oito letras no português e no inglês pandemic, é o fator primordial da produção, mas em nenhum momento o artista a pronuncia. Não é necessário. Arrisco dizer que Bo Burnham: Inside é o retrato concretizado da minha e da sua mente durante o isolamento social.

Inicialmente podemos imaginar que o show de comédia pode ser tedioso ou maçante, visto que só há um ator e um cômodo da casa, mas não se deixe enganar pela limitação de espaço ou de personagens. A criatividade de Bo Burnham é evidenciada em cada segundo da produção. As músicas, compostas e cantadas por ele, são interpretadas e envoltas de luzes, efeitos visuais e mudanças de planos de foque e desfoque, o que acentua os momentos dramáticos do show.

 

A crítica e a autocrítica embasam a narrativa musical do filme. Em cada canção Burnham demonstra sagacidade ao evidenciar a autoconsciência sobre os assuntos levantados. Em certo momento questiona a si mesmo se deveria estar produzindo conteúdo humorístico no atual cenário: “Deveria estar fazendo piadas num momento como esse?”, canta em Comedy.

A música FaceTime With My Mom (Tonight) faz um relato de como é uma videochamada com sua mãe, a letra diz: “Esses 40 minutos são essenciais”, mas mostra como pode ser um momento de estresse e desgaste mental por inconvenientes técnicos ou de mau uso do celular feito pela sua mãe. Na cativante White Woman’s Instagram o comediante satiriza a ação contínua dos indivíduos em demonstrar a felicidade e positividade nas redes sociais. Após listar uma série de tipos de fotografias e reproduzir algumas imagens comumente encontradas na rede ele ironiza: “Isto é o paraíso”.  

 

Em uma das canções põe em pauta como o tédio e a apatia podem ser elementos de ruína na vida das pessoas na atualidade, caracterizada pela imersão na internet. O mundo acelerado, as respostas para todas as questões, interesse por tudo o tempo todo, as bizarrices inimagináveis disponíveis a um clique de distância. Na frenética Welcome To The Internet Bo Burnham interpreta e canta a relação dos indivíduos com a rede global de computadores e ironiza essa quase dependência. “Bem-vindo à internet, o que você prefere? Ou lutar pelos direitos civis ou tuitar um insulto racial”, pesado demais ou a realidade? 

O artista relata a sua saúde mental em All Time Low: "Algumas coisas começam a acontecer, minha visão começa a se achatar. Meu coração bate forte e acho que vou morrer”, declama. Aproximando do final do filme, Bo Burnham conta sobre sua pausa de cinco anos nos shows com platéia para tratar de sua ansiedade, mais especificamente dos seus ataques de pânico que aconteciam no palco. A pausa iria findar em 2020, mas sabemos o que aconteceu.

Além do filme, a produção de Bo em meio ao isolamento social resultou em um álbum que pode ser conferido abaixo:

 

Álbum ‘Inside (The Songs)' no Spotify. (Reprodução: Spotify)



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