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09/10/2021 às 15h33min - Atualizada em 05/10/2021 às 00h59min

Mais que vaidade, resistência: corte de cabelos afro masculinos

Raíssa Sousa - editado por Larissa Nunes
Por uma literatura infanto-juvenil mais representativa. Ilustração de Juliana Barbosa Pereira no livro O Pequeno Príncipe Preto, de Rodrigo França.

Crianças pretas crescem ouvindo que seu cabelo natural é “feio”, sinônimo de bagunça e desleixo, além de constantemente receberem comparações racistas fantasiadas de brincadeira ou elogio. Afinal, quem gostaria de ter o cabelo “armado” da bruxa quando se pode ter os fios dourados e lisos da princesinha?

Meninas e meninos afrodescendentes em sua infância escondem seus cabelos. As meninas em coques ou tranças; os meninos raspam os fios e mantém o corte baixo, e, permanecem com o mesmo corte de cabelo até tornarem-se rapazes, homens e idosos.

“Chegou à adolescência e eu já podia deixar meu cabelo maior, mas eu não gostava. Sempre estudei em escola particular, e é aquela galera com um pouco mais de dinheiro, branca com cabelo liso. Aí, alisei o meu cabelo. Era tipo, ‘o padrão é esse, ser bonito é assim’”, disse Marcos, jovem negro de 21 anos.

Para eles, o processo de assumir suas raízes passa ainda pela etapa da masculinidade tóxica. O ciclo masculino e supostamente viril em que se encontram não as permitem cuidar de sua estética, manter um comprimento longo, e nesse caso, não ter aquele black power poderoso ou os cachos definidos.

Essas pessoas vivem em um mundo como o de milhares outros jovens, um país de desigualdade social e racista que oprime as minorias desde muito cedo.

E lembra do que falamos sobre masculinidade tóxica? O jovem Cauê de 17 anos viveu em sua infância situações constrangedoras por manter suas raízes e um cabelo longo de cachos definidos. “Eu fui muito estereotipado, muito ao ponto da professora perguntar a mim o meu nome usando pronomes femininos”, disse o rapaz. Ele cortou o cabelo ainda na infância optando pelo comprimento curto.

Atualmente, não somente Marcos e Cauê descobriram formas de cuidados estéticos, como acreditam estarem mais conectados com o que são.


As mídias sociais chegaram trazendo dois grandes fatores, um positivo e um negativo: facilitou a exposição de jovens em busca de seus iguais e tendo outros deles como referência, mas também aumentou a noção de “padrão de beleza” baseada no que o público branco e muitas vezes elitista acha.

Com mais de 25 milhões de seguidores no Youtube, o blogueiro Raphael Lorranh compartilha sua rotina de cuidados com os fios crespos e cacheados, empodera outros rapazes e luta contra os estereótipos tóxicos. Raphael está prestes a inaugurar sua barbearia e com isso, dar continuidade ao seu trabalho também de forma física e direta em sua comunidade.

É em criadores de conteúdo como o Rapha com quem acontece a verdadeira identificação, aquela capaz de mudar os pensamentos, abrir os olhos e promover o autoconhecimento como base para um empoderamento de si e daqueles com traços semelhantes.

Mas se você não curte muito as mídias, tudo bem. Não se preocupe. Pois provavelmente conhece o Reality Show da Rede Globo, Big Brother Brasil, que nas últimas edições contou com o orgulho de Babu Santana e João Pedrosa combatendo o preconceito racial, compartilhando suas experiências com as madeixas e até mesmo cuidados com elas utilizando o pente garfo.

Assim, eu gostaria de finalizar este artigo com um questionamento... Em quem você está se inspirando para valorizar suas raízes?

 


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