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30/11/2021 às 03h35min - Atualizada em 30/11/2021 às 01h59min

Cultura do Remix na produção musical | Tudo se cria ou tudo se transforma?

O documentário “Everything is a Remix” do Kirby Ferguson, defende por meio de argumentos e explicações que o remix está presente nas mais diversas variações dos processos criativos e que tudo que temos no mundo é uma remixagem de algo já existente.

Dayane Cibelle - revisado por Jonathan Rosa
A Cultura do Remix está presente em diversas formas de expressão artística, na reprodução de algo já existente. (Foto/Reprodução: Blog Uoregon)

A cultura do remix faz parte do cotidiano social de tantas formas que muitas vezes pode passar despercebida, seja em um filme ou em uma música, grande parte das obras artísticas partem de um referencial já existente e isso se chama remixagem. A palavra remix tem uma ligação forte com a música e sua definição surgiu nos anos 70, em um contexto onde às novas tecnologias passaram a possibilitar alterações em áudios originais já gravados. Junto com o remix surge o grande boom dos DJ’s (disc jockey), pessoas responsáveis por agrupar e misturar sintonias que resultam em novos tons para músicas. A partir de então, os artistas passaram a perceber que revisitar outros gêneros era uma forma de criar, recriar e inovar estilos para as suas músicas.

No documentário “Everything is remix”, o cineasta Kirby Ferguson argumenta que o processo criativo possui três fases: copiar, transformar e combinar, gerando uma mistura de conteúdo já existente a fim de criar um outro significado para uma nova obra. Ferguson destaca que quando acontece essa ressignificação chamamos de Remix, ela transmite a sensação de já ter visto aquilo em algum outro lugar.

Com o advento da internet, ficou ainda mais acessível para as pessoas realizarem a criação e reprodutibilidade de alguma obra, pois os novos meios de comunicação geraram uma certa facilidade na disseminação e manipulação de tudo o que é produzido. Hoje em dia pode-se transformar não só música, mas fotos, vídeos, pinturas, ou qualquer outra expressão artística e se tornar um remixadore no quarto de casa. Para Henry Jenkins, estudioso na área de comunicação: "a web tem se tornado um local de participação do consumidor, que inclui muitas maneiras não autorizadas e não previstas de relação com o conteúdo midiático”, relata.

O uso do Sample

Quando um artista pega algo já existente e usa como inspiração, é fácil perceber essa relação através de todas as referências inseridas em sua obra, tanto na música quanto na estética. Quando se observa o álbum Future Nostalgia da Dua Lipa, identifica-se tons dos anos 70 e 80 lembram Bee Gees e Madonna, já ao ouvir Halsey é fácil recordar do pop rock de Avril Lavigne, até quando o Kendrick Lamar utiliza explicitamente um jazz em sua música, dessa forma nada morre, e sim, se transforma. 

Essa forma de reviver músicas é possível por causa do nosso conhecido Sample (palavra que vem do inglês e significa “amostra”). O Sample nada mais é do que trechos sonoros selecionados das mais diversas músicas, que podem ser reutilizados dentro de novas gravações de forma remixada, cortada ou direta. Diferente do plágio no sample, o artista pega um trecho de uma música original e cria uma nova versão da mesma composição. 

No Brasil, de acordo com a lei, se um sample for recortado da obra original e inserido em uma música nova, deve-se fazer os devidos créditos ao criador original, sem prejudicá-lo ou atrapalhar a sua obra. Caso a nova música seja comercializada sem a autorização do criador ou da gravadora, o “sample” é considerado infração por estar sendo distribuída ilegalmente.

Sua banda favorita é uma cópia?

A resposta é: não! Ou, talvez. Nada surge do nada, novas obras só são possíveis por conta das referências culturais adquiridas durante a vida. Observando artistas como Twenty One Pilots em seu álbum Blurry Face, é encontrada uma mistura de diversas vertentes musicais, tudo dentro de único disco. Com a Cultura Remix os artistas não são obrigados a ficar refém apenas de um gênero, com ela é possível explorar novos mundos, experimentar outros sons e rememorar gêneros do passado.

Algumas músicas que usaram Sample em sua estrutura 

1. A música Teeth da banda 5 Seconds Of Summer lançada em 2019 utiliza sample da música So What (Too in love), música não lançada do Juice WRLD, mas ainda assim foram devidamente creditados pela banda australiana 5SOS.

Teeth da banda 5 Seconds Of Summer. (Reprodução: 5SOS - YouTube)


So What (Too in love) do Juice WRDL (Reprodução: Mr Brain Lyrics - YouTube)


2. A famosa Crazy in love  da diva Beyoncé utiliza sample da introdução da música Are You My Woman, do grupo de soul The Chi-Lites, formado em 1959. 

Crazy in Love da Beyoncé (Reprodução: Beyoncé - YouTube)


Are you my woman do grupo The Chi-Lites (Reprodução: Newmaidumosa - YouTube)


3. Ariana Grande voltou ao passado e utilizou My Favorite Things, do filme clássico A Noviça Rebelde em sua música 7 Rings lançada em 2019.

7 rings da Ariana Grande. (Reprodução: Ariana Grande - YouTube)


My Favorite Things do filme clássico Noviça Rebelde de 1965. (Reprodução: Fox Family Entertainment - YouTube)


Caso tenha ficado interessado no assunto e queira pesquisar mais músicas que utilizam samples, você pode acessar o site WhoSampled e ver várias músicas que aplicam sample em suas estruturas. 

Presente e futuro estarão sempre ligados através de várias expressões artísticas, e a remixagem é um meio de difundir isso através da reinvenção e ressignificação. Atualmente, a cultura participativa, colaborativa e de fã são os grandes responsáveis pela disseminação daquilo que é produzido através das mídias. Se as músicas irão se tornar repetitivas é uma incógnita, mas até agora esse processo permitiu cruzar fronteiras e explorar novas culturas e estilos musicais que talvez nunca teriam sido descobertos se não fosse pela Cultura do Remix.

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