Após quase dois anos de enfrentamento ao alastramento do novo Coronavírus em escala mundial, para além das discussões populares e das reuniões de gestoras, a pauta do enfrentamento à pandemia passou a ser também discutida nos contextos de produções artísticas e culturais. Dentre estas, podem ser elencadas as obras que foram produzidas em meio a esse período e as já existentes, que passaram a ser ressignificadas e interpretadas junto ao contexto em questão. Uma das maiores reflexões apresentadas por esses produtos têm relação com as medidas adotadas pelos governantes em combate ao vírus.
“A ineficiência do governo federal, primeiro responsável pela tragédia que vivemos, é notória. Governadores e prefeitos não podem assumir o papel de cúmplices no desprezo pela vida”, é o que afirma trecho de documento composto de críticas destinadas à atuação do Governo Federal brasileiro. Assinada pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), a Academia Brasileira de Ciências (ABC), a Associação Brasileira de Imprensa (ABI), a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e a Comissão de Defesa dos Direitos Humanos Dom Paulo Evaristo Arns (Comissão Arns), a carta citada aponta diversas falhas no direcionamento da situação causada pelo Coronavírus no País para as entidades competentes e, além disso, aborda possíveis atos de solucionamento das carências provocadas pela gestão.
Esse documento exemplifica um consenso gerado em escala global: a interrupção do alastramento da pandemia é, em sua definitiva maioria, responsabilidade governamental. Esse fato, ainda que interpretado também de acordo com ideologias favoráveis a gestões negacionistas, gerou, desde o início da contaminação, diversas manifestações em julgamento e questionamento às condutas de governos em todo o mundo. Essas críticas, advindas desde cientistas até populares, ganham espaço, precipuamente, por meio das redes sociais de grande alcance, como o Twitter.
O Governo tenta criar uma realidade paralela como se tudo "estivesse resolvido" e existe quem embarque.
— Contagem coronavírus - Brasil (Notícias 24 horas) (@contagemcorona1) January 18, 2022
A verdade é que uma vacinação tão importante envolvendo crianças, não será com a rapidez necessária e NÃO TEMOS TODAS AS DOSES, AINDA.
Lamentável.https://t.co/6Icc5HcoXc pic.twitter.com/aJN6xDplR2
Twitter de Contagem Coronavírus - Brasil (Notícias 24 horas). (Reprodução: @contagemcorona1 - Twitter).
Hoje batemos a marca NEFASTA de 500 mil mortes por Covid-19 no Brasil. Uma doença para a qual JÁ EXISTE vacina, mas ela não chegou para todos porque o governo escolheu o negacionismo e rejeitou DEZENAS de ofertas. Quantos mais perderemos? Basta!! #500MilMortos
— Fafá de Belém (@fafadbelem) June 19, 2021
@MidiaNINJA pic.twitter.com/j7Gw469OsB
Twitter de Fafá de Belém. (Reprodução: @fafadbelem - Twitter).
Dentre as obras responsáveis por gerar comparações, reflexões e discussões acerca dessas gestões na pandemia de Covid-19, podem ser citadas:
A Gripe (2013):
A transmissão descontrolada de uma doença viral traz caos a toda uma comunidade. (Vídeo: USP CDCC São Carlos / Youtube).
Apesar de se apresentar como um drama que narra de modo estereotipado o avanço de uma pandemia, A Gripe foi um dos filmes mais buscados em plataformas de streaming nos últimos dois anos por se encaixar no contexto atual que o mundo enfrenta. A produção sul-coreana foi desenvolvida por Kim Sung-Su e expõe as crises passadas por um governo em enfrentamento ao vírus abordado. A gestão, durante a narrativa, adota medidas drásticas de combate ao vírus e isso repercute como despreparo frente ao desespero populacional. O filme está disponível nas plataformas Netflix, iTunes e NetMovies.
Ensaio Sobre a Cegueira (1995):
Também disponível como adaptação cinematográfica, o romance é uma obra escrita por José Saramago. A epidemia de cegueira branca que se alastra por uma cidade é causadora de grandes impactos sociais, advindos principalmente da gestão responsável pela região. O governo age de modo a assumir uma quarentena geral, que gera conflitos por instintos humanos ativados pela medida incompetente. A obra é apontada por teóricos literários como um produto bastante eficaz para a reflexão acerca da proporção que as diligências adotadas por gestores nesse tipo de contexto podem ter em consequência à sociedade afetada.
Não Olhe Para Cima (2021):
Dentre as produções indicadas, esse filme é o mais atual e o que mais foge do enfoque de enfrentamentos a situações de contaminação. Porém, esta produção está sendo altamente interpretada de acordo com as atuações dos líderes governamentais na contaminação pelo Coronavírus que assola o mundo atualmente, já que essas figuras, em muitos momentos, são negligentes quanto às informações fornecidas por profissionais quanto à pandemia, sejam eles de setores sociais, sejam de biológicos. No filme, cientistas de fenômenos astrológicos são, publicamente, postos em descrença, ainda que comprovem e afirmem o alcance de um fenômeno catastrófico descoberto em estudos. A obra também chama a atenção para a importância do questionamento popular aos gestores governamentais e suas atuações, não só em contextos desse nível; o filme está disponível na Netflix.