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17/02/2022 às 13h09min - Atualizada em 13/02/2022 às 21h45min

Estilo de milhões: reflexões sobre vestimentas de participantes do BBB

Sandro Gardel - Revisado por Jéssica Meira
Virginia Barros, Lina da Quedada e Silvio Massao (Fonte: Globoplay:/Arquivopessoal)

O Big Brother Brasil começou. Por três meses os olhares atentos de grande parte do país estão voltados ao maior reality popular do Brasil para dar aquela famosa espiadinha. A quem não goste do programa e discorde, mas o fato é que o cotidiano social é diretamente afetado pelas referências do reality. Desde a estreia em 2002, o BBB virou febre nacional, gerando fanatismo pelo público que acompanha e não perde nem um detalhe, aumentando a parcela de fãs que sonham em um dia fazer parte da casa mais vigiada do Brasil. 

Segundo dados divulgados pela empresa de mensuração de audiência e investimento publicitário, Kantar Ibope, o Big Brother Brasil 22 registrou o maior índice de audiência nos últimos anos, registrando na estréia 30,2% perdendo somente para o BBB 18. Quando apresentado por Tiago Leifert, o programa marcou a média de 30,9%.

O apreciador de reality show e comentarista, Silvio Massao, não perde nenhum só dia da ‘novelinha popular brasileira ’'. “O BBB tem o mais puro suco exprimido do entretenimento para você se apaixonar, rir, chorar e dá um frio na barriga [...] Então ele te condensa fazendo o seu dia mais leve [...] Tudo é motivo para voto e uma peça de movimentação para o jogo”, diz ele.  

 

Itens de desejo 

“O roupão do líder é um item de desejo para os apreciadores do reality. Se não custasse uma bagatela de quinhentos reais e um pedaço da córnea, até seria interessante para ostentar [...] Esse ano a casa está muito colorida, não dá para se apegar muito nas coisas. Na edição vinte, queria ter o macaquinho da Flayslaine, que ela colocava cílios nele e isso me traz uma memória afetiva muito boa”, comenta Silvio. 
 
Mas será que o programa é capaz de gerar tendência e fazer com que o público consuma seus itens exclusivos? 
“Ano passado em uma festa do Mc Donald’s, me deu uma vontade incontrolável de pedir um lanche deles [...] com coisas de casa não rola tanto porque a gente avalia o custo benefício e preferências”. Antes de começar a edição 22, que atualmente está no ar, o comentarista relembra um episódio com a camisa que o participante, Eliezer, usa na casa. “Eu antes de começar o BBB, tinha provado a mesma camisa que o Eliezer tem, toda estampada [...] ainda bem que não comprei, vai que chega uma risada acompanhada. Até tirei uma foto e usei como conteúdo nas redes sociais”, relembra Massao. 
 

Em contraponto, Camila Sanchez, psicóloga com ênfase em comportamento cognitivo, faz um alerta as pessoas que buscam de alguma forma se renderem ao mesmo consumo dos brothers.  

“As pessoas vão sempre procurar se identificarem com algo ou alguém. Deste modo, copiar roupas, acessórios ou o que comem, pode ser uma forma de ter ou ser como aquele participante que está no programa [...] na cabeça delas, o inconsciente acredita que fazendo estas coisas estão sendo mais legais ou bem aceitas no mundo”, comenta a psicóloga.  

 

Modinha BBB

Com a chegada de grandes influenciadores no programa, o desejo do público em adquirir as mesmas tendências que os participantes usam se intensificou ainda mais. Segundo dados da
pesquisa da MindMiners, 42% dos consumidores brasileiros afirmam já terem consumido alguma marca ou produto por meio de um reality show. Porém, 32% declararam que o interesse por determinado produto aumentou após ele ser visto no programa.

A empresária Virgínia Barros viu suas vendas alavancarem do dia para noite. Isso se deu porque a participante Lina da Quebrada faz uso de uma de suas sandálias na edição. Nas redes sociais o calçado rendeu muitos comentários e memes, comparando a sandália com um balão e até um sofá de sala.  


 

No mercado há 17 anos, a marca Casa Virgínia, desenvolvida por Barros oferece ao público um trabalho autoral, produzindo calçados artesanais feitos a mão. Questionada sobre as polemicas que envolveram sua peça nas últimas semanas a design garante que a males que vem para o bem e que seus calçados não são para a moda: “Eu não trabalho com tendência de moda, com demanda de mercado. Eu conto história e cada coleção que eu penso é uma temática”. 

Virgínia garante que abre uma demanda muito grande, pois o nicho de pessoas que gostam desse tipo de produto é restrito. “Tenho um produto que é nichado e que não vai agradar a maioria, e não é por conta de dinheiro é por conta de afinidade e gosto. O que é legal nessa grande exposição é que a gente fica conhecida por várias pessoas que não me conheceria normalmente [...] claro que não é algo legal as pessoas ficarem zoando do seu produto e aí tem um monte de gente que não gosta, é super agressivo.”, ressalta a empresária.  

 

Para o apreciador de reality, Silvio Massao, os looks escolhidos pelos participantes não agradaram nada. "Eu acho os looks horrorosos, mas é uma questão muito pessoal e de gosto [...] no início da telenovela, televisão sempre ditou moda [...] então é só uma continuidade, os realitys entraram para pegar uma parcela do público que gosta”.  

“No Brasil é algo sintomático. É difícil para as pessoas em lidar com a diversidade [...] se isso acontece com uma questão estética, imagina nas outras questões? Nas questões humanas”, diz Virgínia.  


Exagero pode te fazer mal

Silvio, garante que não acha que o programa é uma perda de tempo e afirma: “Essas pessoas que dizem que você é alienado, elas também são alienadas por outras coisas, por um livro, musculação, comida, então é meio que cada um na sua [...] quanto tempo se pode gastar para ficar assistindo ou lendo, ouvindo música e estudando?”, questiona Silvio Massao.  

O excesso pode fazer mal em diversas áreas da vida e no caso dos realitys isso não é diferente,“Tudo na vida é equilíbrio, até a natureza se observamos só funciona quando tudo está em equilíbrio, o mar, a floresta; e como parte da natureza temos que equilibrar as coisas. Então assistir, gostar e torcer é uma coisa, passar o dia todo e abandonar suas tarefas é outra. Você já observa um vício claro em algo, uma certa dependência. [...] se te atrapalha fazer suas obrigações, toma todo o seu tempo, não consegue pensar, nem aproveitar outras coisas, pode ser considerado um vício sim”, alerta a psicóloga Camila Sanchez.  
 

Vidas após BBB 

Para a psicóloga, grande parte da população que adere ao programa de forma massiva, possivelmente passa por grandes desafios. “O comportamento das pessoas após o final pode ser uma sensação de vazio, tristeza, angústia, sentimento de luto por ter acabado e em casos mais graves de vício, causar nervosismo, ansiedade, desânimo extremo e crises existenciais por não ter mais como acessar o programa”. 

Para entender mais sobre o fenômeno que gera este engajamento e movimenta  as redes sociais, alimentando suas estratégias de marca, a Globo realizou uma pesquisa sobre o comportamento dos brasileiros em relação aos realitys shows. O estudo apontou que este conteúdo faz parte da vida de seis a cada dez brasileiros, 64% são mulheres e 54% são homens, sendo em sua maioria da classe A e B. Outro ponto é que 59% das pessoas demonstraram interesse por programas que expõe a vida de pessoas desconhecidas e 42% acreditam que realitys são uma possibilidade de melhorar de vida.

Além disso, 57% acham que realitys representam a diversidade brasileira e 47% torcem pelos mesmos participantes da sua região. Apesar do gosto pelo programa somente 20% topariam participar de fato. Entre os motivos estão: ganhar dinheiro, experimentar coisas novas, ficar rico e se desafiar.


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