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22/03/2022 às 00h31min - Atualizada em 22/03/2022 às 23h29min

Russofobia: boicote cultural à Rússia

Invasão à Ucrânia leva ao cancelamento de artistas russos

Letícia Abreu - editado por David Cardoso
A soprano Anna Netrebko no Baile da Ópera de Viena em 2019. (Foto: Reprodução/ Reuters)

Desde que se iniciou a invasão russa à Ucrânia em fevereiro, o setor cultural do país vem enfrentando boicotes em diversas áreas. Cinema, moda, música, dança, esportes e até fast foods fecharam as portas para a Rússia. 

A soprano Anna Netrebko, assim como o maestro Valery Gergiev, ambos russos, foi retirada de suas futuras apresentações da Ópera de New York, que aconteceria na Metropolitan Opera House, devido ao suposto apoio da soprano russa a Vladimir Putin. Em 2008, Netrebko recebeu o "People’s Artist of Russia", maior honorário da Federação Russa, atribuído por realizações notáveis no campo do teatro, música, circo e cinema de Putin. Entretanto, em uma publicação da artista em 26 de fevereiro, dois dias após a invasão, Netrebko faz uma declaração contra a guerra. 

 

A musicista expõe seu descontentamento pela cobrança de um posicionamento político através do Instagram: “Forçar artistas, ou qualquer figura pública, a expressar suas opiniões políticas em público não é correto. Esta deve ser uma escolha livre. Como muitos dos meus colegas, não sou uma pessoa política. Não sou especialista em política. Eu sou uma artista e meu propósito é unir as pessoas através das divisões políticas.”

Numa tentativa de pressionar o governo russo a cessar fogo, os festivais de cinema de Cannes, Estocolmo e Glasgow baniram todas as produções russas e filmes financiados por eles. Alguns estúdios de Hollywood, entre eles a Disney, Warner, Sony e Paramount, cancelaram o lançamento de novos filmes no país, incluindo um dos mais novos sucessos mundiais, “The Batman”. 

Ainda no universo cinematográfico, a Netflix suspendeu seus serviços e produções originais russas na plataforma. 

Além de todas as perdas no audiovisual, o boicote não para por aí. Uma das companhias de balé mais prestigiadas do mundo, o Bolshoi, também sofre em decorrência do conflito. Próximo à turnê de verão, em que os bailarinos ensaiam por meses, foi cancelada pela Royal Opera House em Londres. 


 

Devido à movimentação contra as obras relacionadas ao país, diversos artistas e empresas vêm à público declarar repúdio à guerra, por medo de serem relacionados às crenças políticas e ao líder do país. A primeira bailarina russa Olga Smirnova e o solista brasileiro David Motta Soares, em solidariedade aos ucranianos, deixaram o Bolshoi nas últimas semanas.

 

Russofobia

Não é a primeira vez que o boicote cultural é utilizado como recurso em confrontos, porém todo esse afastamento de artistas e produções russas levantou um debate sobre o ódio e repulsa direcionado aos russos, sem levar em conta o posicionamento de cada um. 

Diversos comunicadores expressam que as proibições culturais não ganharão a guerra da Ucrânia, enquanto outros portais indicam que essa atitude pressiona os cidadãos russos a se rebelarem contra o governo de Putin. 

Faz sentido privar a Rússia de organizações e eventos que servem como vitrine para a cultura russa, mas os indivíduos não devem ser martirizados por atos governamentais. Apesar da dimensão do conflito, os Estados Unidos e outros países europeus nunca enfrentaram qualquer tipo de punição ou discriminação por provocarem guerras no Oriente Médio e na África, como a Rússia vem vivenciando. 

A problemática não está em intimidar o governo russo, mas nos possíveis danos financeiros e profissionais que os cineastas, atletas, músicos e bailarinos críticos ao regime podem vir a sofrer. 


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