16/06/2022 às 13h34min - Atualizada em 16/06/2022 às 12h49min
O design da Disney e a percepção de beleza
É a vez de corpos e feições reais nas animações!
Ana Beatriz Magalhães - Revisado por Flavia Sousa
Animação mais recente da Disney, 'Red: crescer é uma fera'. (Fonte: Twitter/Reprodução) É certo que filmes refletem as características e normas de um determinado período. É possível ver costumes e trajetos e, assim, percebe-se quais eram as ambições das pessoas em uma determinada época e o lugar na qual a história é ambientada.
Os valores, o que era visto como belo e elegante e a estética do período retratado é explorado e mostrado da maneira mais real e convincente possível. Nessas representações, era visível e nítido o que a sociedade da época considerava bonito ou feio e bem ou mal. Os limites, em sua maioria, eram bem delimitados.
A Disney e o ideal de beleza inalcançável
Isso sempre foi bem evidente nas animações da Disney, por exemplo. Era comum o design ser feito de uma maneira em que as protagonistas, principalmente as princesas, costumavam ser representadas com corpos minúsculos, rostos com traços finos e delicados e personalidade calma e gentil. Já as antagonistas eram gordas, feias e gananciosas.
Nas animações infantis, a ilustração das mocinhas, na maioria das vezes, remete a ideais irreais de beleza, além de ter características que fazem referência a graciosidade e inocência. Essa era a maneira padronizada que era usada: finura e proporções excessivas do corpo. Enquanto isso, as vilãs possuíam traços fortes que lembravam a agressividade e dureza. A Branca de Neve, Ariel e a Bela Adormecida, por exemplo, são personagens com aparência amável e de confiança, tanto que agradam até os animais. Por outro lado, suas oponentes (a Rainha Má, Úrsula e a Malévola, respectivamente) são mostradas com fisionomias vistas – na época – como desagraveis e invejosas, sempre querendo o que a princesa conseguia.
Essas associações foram ensinadas às crianças e reforçam a ideia de que é preciso ser magra para ser uma boa pessoa, bonita, amada e admirada. Uma pesquisa realizada pelo HAYES & TANTLEFF-DUNN investigou os efeitos da breve exposição de animações com a imagem corporal de meninas de 3 a 6 anos.
Nesse estudo, foi pedido que elas selecionassem a verdadeira princesa entre uma seleção de diferentes tamanhos. A maioria escolheu a mais magra. Assim, percebe-se que a mídia contém muitas mensagens relacionadas à aparência que podem afetar a insatisfação corporal e, com o passar do tempo, provocam alterações na percepção de mundo. Isso gera comparação e, consequentemente, a insatisfação corporal.
É preciso ter cuidado com essa representação de corpos irreais, mesmo que o público-alvo seja muito jovem. Com isso em mente, a Disney parece ter ouvido as reclamações e os conselhos, tanto que, em ‘Divertidamente’, ‘Luca’ e o mais recente ‘Red: Crescer é uma fera’, o desenho das personagens femininas sofreu modificação. A evolução do design de meninas
Saindo do padrão, os desenhos da Disney mostraram evolução no design, ao trabalhar com características físicas que até então não existiam: rostos redondos, dentes tortos e cabelos despenteados como toda criança/adolescente na vida real.
Tudo começou com a Riley de ‘Divertidamente’. Nela, não é visto o “rosto de boneca” tão famoso da Disney e a protagonista tem feições naturais de uma adolescente. Já em ‘Luca’, os personagens são e aparentam ser crianças, com seus narizes pontudos e suor embaixo do braço. Leia mais: A magia das animações da Disney: A arte imita a vida
Encanto e a família imperfeita da Disney
Por fim, mas não menos importante, ‘Red: crescer é uma fera’ é uma junção dessas mudanças e evidenciou ainda mais o amadurecimento do estúdio. Apesar das críticas, a animação mostra diversos formatos de corpos, expressões intensas e representa fielmente o drama de ser pré-adolescente.
São essas representações fidedignas que acrescentam e atribuem mais valor aos filmes. Ainda há um longo caminho de desconstrução e atualização a ser percorrido, mas esses primeiros passos já dizem muito.
