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25/09/2022 às 15h50min - Atualizada em 24/09/2022 às 20h30min

Crônica | Trilha João e Maria: Um convite para passeios menos instagramáveis

Localizada no Bosque Alemão, em Curitiba, a trilha é guiada pela leitura do conto infantil dos irmãos Grimm

Madson Lopes - Revisado por Flavia Sousa
Os chalés com formato de chapéu de bruxas contém as partes do conto. (Foto: Fundação Cultural/FCC).
Em uma época que os passeios turísticos são influenciados pelas quantidades de hashtags que determinados locais alcançam nas redes sociais – especialmente no Instagram -, é cabível dizer que Curitiba é uma cidade muito bem “Instagramável”. Seus mais de 40 parques e bosques espalhados pela cidade, além de centros históricos e espaços culturais, proporcionam aos visitantes cenários deslumbrantes e fotogênicos.

“Instagramável” é uma palavra nova, porem os viajantes sabe muito bem seu significado. Refere-se ao quão fotogênico é determinado lugar, o quão deslumbrante é a ponto de ser postado nas redes sociais. Uma pesquisa feita pelo ‘Evolution of the Hostel Traveller’ mostrou que um quarto dos viajantes escolhe suas viagens com base no Instagram.

É como se a estética do lugar fosse mais importante que a experiência proporcionada pela viajem. Não há apenas um interesse em contemplar vistas magnificas ou como viajar pode trazer benefícios à saúde. Sim, isso tudo importa e é levado em conta, mas no fundo, muito dos turistas estão apenas procurando lugares que rendem uma boa foto.

O Bosque Alemão com certeza seria um desses locais – para muitos ainda é – se não fosse uma intervenção literária que constrangesse os visitantes a guardarem seus celulares no bolso enquanto caminham mata dentro.



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Trilha literária

Localizado na região central da cidade rodeado de prédios e mansões, o Bosque é um verdadeiro oásis. Seus 38 mil metros quadrados de mata nativa, cortadas por um riacho de águas cristalinas, trás um pouco de verde para a cinzenta Curitiba. Inaugurado em 1996, recebeu esse nome em homenagem aos imigrantes alemães que chegaram à cidade no século XIX, e influenciaram a cultura da região, inclusive nos gostos literários.

Foi dai que partiu a ideia de construir a trilha de João e Maria, um caminho de pedras que liga uma extremidade a outra do bosque. O conto infantil dos irmãos alemães Wilhelm e Jakob Grimm, escrito em 1812, foi readaptado e postos em pequenos chalés com formatos de chapéu de bruxas.


Claro que o texto original sofreu alterações e a história se apresenta numa versão mais 'light' e menos assustadora: Joãozinho e Maria não foram abandonados na floresta encantada porque seus pais estavam sem dinheiro, e a bruxa rapidamente vira fumaça ao tentar acender o fogo. Não que essa versão mais ‘lúdica’ da história diminuísse o medo das crianças ao entrar no bosque. Na Torre dos Filósofos – escadaria de acesso à entrada principal – é possível ver crianças chorando e agarrando as mãos dos seus pais para voltarem, pois segundo elas “as bruxas estavam soltas” lá em baixo.
 
De fato, as crianças acertaram, as bruxas realmente estavam soltas e passeando no meio da trilha. Mas longe de serem criaturas assustadoras, na verdade elas são bem amigáveis e adoram contar historias para crianças. E assim como na história original, o caminho vai conduzindo os visitantes em direção à Casa das Bruxas, que não é feita de doces e biscoitos – como no conto -, e sim uma biblioteca de livros infantis. Na porta de entrada as bruxas deixaram um aviso importante: “Destinado aos interessados nas clareiras da inocência em meio à densa floresta da modernidade”.



Ali os visitantes formam círculos para ouvir as histórias e as crianças devem entregar suas chupetas para as bruxas, pois esse é o significado do conto; a trajetória de todas as crianças, da infância ao conhecimento. Essa atmosfera literária, a reação das crianças ao verem as bruxas, captura a atenção dos visitantes. Com exceção de certo estudante de jornalismo, não há pessoas tirando fotos ou filmando, até porque isso é proibido na hora da contação. O passeio está sendo muito bem aproveitado aos moldes antigos, quando turistas não precisavam tirar centenas de fotos para fazer valer a experiência.

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