Atualmente, a Marvel Comics, também conhecida como “House of Ideas” ou “Casa das ideias”, se firmou como a principal editora americana de histórias em quadrinhos. Seu catálogo possui mais de 5000 personagens que rendem milhões de dólares em faturamento através das tradicionais revistas em quadrinhos, filmes de cinema, mídia digital, jogos para videogames e licenciamentos dos mais variados produtos.
Foi apenas após longos anos e enfrentando altos e baixos que a empresa obteve toda a fama e sucesso que tem hoje. No começo da década de 90, por exemplo, a venda de histórias em quadrinhos aumentou nos Estados Unidos. Interessado nisso, o empresário Ronald Perelman comprou a Marvel Comics e colocou a empresa na Bolsa de Nova York. O número de títulos publicados aumentou e, consequentemente, o faturamento.
Entretanto, Perelman foi acusado de desviar dinheiro para benefício próprio e a empresa teve uma crise financeira. Poucos sabem, mas a quantidade de dívidas acumuladas obrigaram a companhia a declarar falência em 1996. Um terço dos funcionários foi demitido para equilibrar o déficit e a empresa foi marcada por um cenário de tensão, instabilidade e disputas internas.
Os membros discutiam incessantemente como poderiam tornar a Marvel lucrativa novamente. A empresa chegou à conclusão de que a opção mais plausível para se recuperar financeiramente seria a de vender os direitos autorais de alguns de seus personagens para grandes estúdios de cinema. Assim, a Marvel investiu na indústria cinematográfica e começou a ganhar pequenas porcentagens em cima das produções de outras empresas.
Quem conhece cláusulas de cessão e licenciamento de direitos autorais e outros ativos de propriedade intelectual sabe o quão longas e complexas elas costumam ser. Até contratos milionários como os da Marvel deixam brechas e dúvidas sobre os limites, condições e regularidades do aproveitamento desses direitos. Vale ressaltar que a permissão de produzir e distribuir os filmes são direitos distintos e podem pertencer a estúdios diferentes.
Veja abaixo quais heróis foram licenciados e para quais empresas.
NEW LINE CINEMA - Blade
A New Line Cinema obteve os direitos de Blade. O primeiro filme do personagem, Blade - O Caçador de Vampiros, foi lançado em 1998 e estrelado por Wesley Snipes. O recomeço da Marvel foi marcado pela divulgação desse longa, que teve uma produção de baixo orçamento, mas que fez um sucesso considerável. Foi um marco na nova era de filmes de heróis.
O aspecto sombrio e de terror do herói retornaram em Blade II, lançado quatro anos após o primeiro. Em 2004, ele reaparece nas telonas em Blade Trinity, que trouxe a estreia de Ryan Reynolds, atual Deadpool. A trilogia foi um sucesso, mas a New Line não deu continuidade na produção de longas do herói.
Em cláusulas contratuais de direitos autorais, a não utilização do produto intelectual licenciado em um período de tempo pré-determinado pelo permite que os direitos sejam readmitidos pela empresa que os cedeu. Em 2013, portanto, os direitos cinematográficos de Blade retornaram para a Marvel.
Porém, foi somente em 2019 que a empresa anunciou que farão um novo filme solo para o caçador de vampiros. Neste ano, foi divulgado que o personagem finalmente entrará no Universo Cinematográfico da Marvel em novembro de 2023, com um filme que será produzido e também divulgado inteiramente e somente pela Marvel Studios.
UNIVERSAL PICTURES - Hulk
Os direitos do Hulk foram vendidos para a Universal Pictures. O estúdio produziu um longa para o herói e o lançou em 2003, estrelado por Eric Bana. Após a venda dos licenciamentos e o passar dos anos, a Marvel se encontrava mais estável e decidiu renegociar o acordo feito com a Universal. Um novo contrato foi firmado, permitindo que os direitos de produção dos longas do herói fossem para a Marvel Studios, enquanto a Universal manteve os direitos de distribuição.
A empresa, portanto, desenvolveu e divulgou, em parceria com a Universal, O Incrível Hulk em 2008, estrelado por Edward Norton. Diferente do primeiro filme, a sequência teve uma crítica positiva, pois a história se aproximava mais à dos quadrinhos e os efeitos visuais foram mais bem elaborados. O faturamento de bilheteria dos dois, porém, foi semelhante, ambos foram relativamente baixos.
Atualmente, o grande impasse da Marvel é que o contrato com a Universal possui poucas brechas, o que a deixa com total controle sobre a distribuição dos filmes do Hulk. É por esse motivo que não há um novo filme solo do personagem. Porém, como o herói já foi introduzido dentro do Universo Cinematográfico da Marvel, a empresa decidiu aproveitá-lo dentro de outras franquias como Thor: Ragnarok, Vingadores e também mais recentemente na série She Hulk, com a interpretação de Mark Ruffalo.
Ao que tudo indica, os direitos de distribuição da Universal podem ser exercidos por um período de 15 anos a partir da exibição de cada filme. Como o último filme solo do Hulk foi lançado em junho de 2008, é possível que os direitos de distribuição sejam recuperados em junho de 2023. Se isso ocorrer, o Golias Esmeralda pode voltar às telonas com um novo filme solo e a Marvel não partilhará os lucros de bilheteria com outra empresa.
REFERÊNCIAS