O filme, Retratos Fantasmas, do diretor e também contador deste longa, Kleber Mendonça Filho, não só conta a história de um lugar, mas da vida ao narrar cada trecho, são as memórias, e as falas com tanto carinho e sentimento que dá ao telespectador a sensação de nostalgia. Ele consegue, com muito entusiasmo, trazer o olhar de amor para sua terra, o Recife.
Permitindo que o telespectador percorra algumas ruas que fizeram parte de sua trajetória pessoal e profissional, além disso, é possível entrar em contato com o que mais ama em sua cidade, família e sua vida. Prova disso, é que logo no começo ele cita sua mãe, o apartamento que moraram e que foi palco de muitos outros filmes amadores que conseguiu dirigir, bem ali, no famigerado apartamento.
O filme é construído por vários trechos de materiais arquivados e gravados atualmente, o que traz o panorama de antes e depois de forma muito natural. O diretor, entende que a sua arte é uma extensão da vida real, é o que se aprende, vive e revive em sua vida, e que pode através da criatividade, transformar em um produto que pode ser assistido por muitos.
Não por acaso, o filme está concorrente ao Oscar 2024 na categoria de "Melhor Filme", é intrigante acompanhar as imagens de arquivos pessoais, com relatos tão intimistas de sua visão sobre o centro da cidade, os cinemas e como as igrejas, ao logo dos anos, tomaram o espaço desta arte que era tão imprescindível para ele.Essas imagens antigas que toma boa parte do filme, mostra que para Kleber tudo é filme, a arte é dinâmica e acontece em instantes.
O telespectador consegue acompanhar com pesar o relato e os vídeos que mostram o fechamento de salas que o constituiu enquanto artista e pessoa. Com muita expertise, apresenta a crítica de que para a atual Recife já não é permitido espaços como aqueles, pois os grandes prédios são a regra. O centro da cidade, foi deixado de lado, e a capital que ele remonta e revive no filme já não existe, mas permanecem vivas em suas fotografias e gravações.
O que compõe o filme?
Retratos Fantasmas não é só um compilado de imagens e vídeos sobre alguns lugares específicos de Recife, é um caminho sinuoso, emocionante e lindo. Rememorar tudo isso, é o mesmo que repensar quem são as pessoas que compóe as cidades. A última cena, traz essa ideia de que cidades são compostas pelos "invisíveis", pessoas que dedicam suas vidas a esses locais ou pessoas que não fazem ideia do que sua presença representa para o lugar.
A arquitetura da cidade só é mais do que concreto porque são as pessoas que criam alma para o concreto. Estava estabelecida na obra a metalinguagem, o artista fazendo o uso de seus próprios filmes. Este que é um lembrete do início ao fim, de que a vida é efêmera, e deixa a ideia de uma indagação no final: O que se perde quando o cinema corre risco de esquecimento?
REFERÊNCIAS FRANCO, Frederico. Plano Crítico, 25 de Agosto. Disponível em> https://www.planocritico.com/critica-retratos-fantasmas-2023/> Acessado em: 23/09.