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31/03/2024 às 21h06min - Atualizada em 11/04/2024 às 17h20min

Trama sul-coreano aposta em sensibilidade e cenas de silêncio para levantar reflexões sobre escolhas de vida

“Vidas passadas” concorreu à categoria de melhor filme na 96ª edição do Oscar, mas foi desbancado por Oppenheimer, grande vencedor da premiação com 7 estatuetas

Catharinna Marques - Revisado por Nildi Morais
O filme sul-coreano, dirigido e roteirizado por Celine Song, “Vidas passadas”, marca a estreia da cineasta em grandes premiações da indústria cinematográfica. A trama traz a sensibilidade para cativar o público com a história da amizade de infância entre Nora e Hae Sung e foi baseada na história de vida pessoal de Celine. A mudança de Nora para os Estados Unidos revela alguns dilemas da vida de uma imigrante não-branca e os processos de adaptação em uma nova realidade. O reencontro presencialmente, mais de 20 anos depois, com o melhor amigo, traz bonitas reflexões sobre os rumos da vida, escolhas profissionais e amorosas.


Verdadeiras conexões entre vidas passadas são construídas pelo filme a partir de um olhar sensível sobre reencarnação, amor e amizade. A palavra “In-Yun”, em coreano, significa destino, providência, e dá o tom da possibilidade de encontros e reencontros nesta e em outras vidas. A causalidade de um esbarrão pode não ser apenas sorte do acaso, mas sim ter uma explicação metafísica. Um casamento, de acordo com esse ditado, é simbolizado por um encontro com8 mil camadas de In-Yung, 8 mil vidas.



 A história de Nora e Hae Sung é amarrada entre mudanças e diferentes escolhas pessoais e de futuro. Na infância, os pais de Nora decidem se mudar para Toronto, no Canadá, em busca de uma nova vida. Sem poder de escolha, Nora passa por uma despedida dolorosa de seu melhor amigo, Hae Sung. Na fase adulta, a cidade de Nova York é escolhida para ser o lar de Nora, que constrói sua carreira de escritora. Nora na verdade é o nome ocidental que Na Young escolheu ao se mudar para os Estados Unidos e recomeçar uma nova vida em busca dos seus sonhos profissionais.

“Vida passadas” também aborda os choques culturais e linguísticos entre o ocidente e o oriente. Os distintos caminhos que as vidas de Nora e Hae Sung marcam essas diferenças, além dos comportamentos do dia a dia. Hae Sung, no início da fase adulta serviu ao exército coreano, ainda mora com a família e tem o sonho de estudar mandarim na China. Já Nora, encontra-se estabilizada na profissão e casada com Arthur, um estadunidense, por mais de 10 anos.

 

Os silêncios entre as conversas, o foco nas expressões corporais e nos olhares entre os personagens guiam o tom reflexivo e melancólico em “Vidas Passadas”. Celine Song trouxe a bagagem artística e intelectual do mundo do teatro para preparar os atores para o momento do encontro entre Hae Sung e Arthur, marido estadunidense de Nora.

As barreiras perceptíveis e os distanciamentos são mais do que linguísticos. Hae Sung sabe o básico de inglês, o que limita um pouco o desenvolvimento de uma conversa mais complexa e prolongada com Arthur, que tem o nível de aprendizado em coreano que é básico. Um dos pontos altos da trama, que faz com que momentos de desconforto do encontro entre Hae Sung, Arthur e Nora sejam evidentes, ainda que tais sentimentos não sejam expressamente verbalizados.

A naturalidade e a autenticidade são as marcas de “Vidas Passadas”, que desenvolve de modo brilhante os personagens, suas escolhas pessoais e os dilemas de vida profissional em culturas distintas, como a estadunidense e a coreana. O longa-metragem traz uma parte da história de vida de Celine Song e faz com que o telespectador se emocione, reflita e até torça para que o casal de melhores amigos de infância fiquem juntos nesta vida, ainda que o filme nos mostre que a verdadeira conexão seja muito mais que um final feliz convencional.

 


 

 


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