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15/02/2020 às 23h14min - Atualizada em 15/02/2020 às 23h14min

Você conhece a entomofagia?

Conheça a cultura do consumo de insetos como alimento

Heide Moura - Editado por Mário Cypriano
Imagem: François Lenoir/Reuters
Já se imaginou comendo um macarrão cremoso coberto com gafanhotos ou um delicioso espetinho de grilos fritos? Pode não parecer nada apetitoso e causar certa aversão, mas a prática de comer estes pequenos invertebrados surgiu na época dos primeiros hominídeos e é mais comum  do que se imagina. Segundo a FAO (Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação), mais de 2 bilhões de pessoas no mundo já aderiram à entomofagia (do grego entomon = inseto; fagia = fago = comer).
 
A alimentação baseada nestes insetos é rica em proteína e atualmente se destaca em cerca de 100 países. Dentre os continentes com maior predominância estão a Ásia, África e América Latina, onde muitas vezes são servidos em restaurantes finos e por um preço não tão acessível. Estima-se que das centenas de milhares de espécies de insetos já catalogadas, quase 1.800 são consideradas comestíveis, sendo o besouro o mais consumido. Aqui no Brasil, apesar da estranheza, a prática tem um cantinho reservado aos domingos, na TV Brasileira.


Da aversão ao sucesso na Telinha


(Chefe Andreia Pimentel - Foto: Divulgação)

A Chefe de Cozinha Andreia Pimentel, especialista em Cozinha de Selva Le Cordon Bleu Peru, atua na área gastronômica há mais de 20 anos e é uma das mais renomadas profissionais relacionadas à entomofagia. Atualmente, faz parte do quadro Cardápio Surpresa no Programa da Eliana (SBT), onde prepara pratos mirabolantes para os artistas convidados que só descobrem quais são os ingredientes surpresa após comê-los. Ela nos contou sobre como tem sido a sua experiência neste ramo, além dos seus pratos mais exóticos.

A paixão que começou em 2003, hoje virou negócio e ela precisa da ajuda de funcionários para auxiliá-la nas etapas de produção. “Descobri esta técnica em um módulo de cozinha oriental e comecei a pesquisar. Na minha equipe e empresa de consultoria, temos uma entomóloga que é especializada em insetologia, além de um doutor PHD zootecnista que contribuem para o processo.”

Além da Eliana, artistas como Whindersson Nunes, Xuxa e Simone e Simaria já provaram suas receitas. Quando questionada sobre qual foi o prato de maior sucesso, ela revelou já ter feito de tudo um pouco. “Já fiz inúmeras receitas surpreendentes desde escorpiões, cobras, aranhas, baratas e roedores, porém, o de maior audiência até hoje foi o suco de sapo que aprendi a fazer no Peru”.


(Tutano com farofa de ampulària - Foto: Acervo pessoal)

Com relação ao combate à fome no mundo, a FAO acredita que o consumo desses bichinhos pode ser a solução do problema. Embora seja mais sustentável do que o consumo de carne bovina (que tem sido considerada impregnada de substâncias exógenas, causando danos à saúde), é preciso tomar cuidado com a ingestão exagerada de insetos, pois eles são essencialmente responsáveis ao ecossistema, seja na polinização ou no controle de pragas, por exemplo.  A falta de prestação destes serviços essenciais pode afetar o meio ambiente.

“Haverá a necessidade de aumento de produtividade, novas propostas de técnicas mais eficientes e sustentáveis para que a produção mundial de alimentos atenda à crescente demanda para as próximas décadas”, disse Andreia, quando questionada sobre a possibilidade da entomofagia amenizar a situação deafome no mundo.

Como esta cultura é vista pelos brasileiros?

O ato de alimentar é algo muito além do que vai do prato à boca. É um conjunto de costumes e rituais que são transformados em uma relação cultural. Por isto, aqui no Brasil, a prática de se alimentar de insetos ainda soa estranho, afinal, as carnes de boi, frango e/ou peixe já estão implantadas na cultura do país. Desta forma, quando cogitada a possibilidade de experimentar algum destes insetos, os brasileiros têm em mente a imagem de criaturas sujas, feias e/ou repulsivas, o que interfere diretamente no desejo de consumi-las, mesmo sabendo que são limpinhas e vindas de criadouros. 

Embora seja raro, existem alguns restaurantes aqui no Brasil que servem pratos diferentes e fazem bastante sucesso. A farofa de Tanajura ou Içá (formiga), por exemplo, é uma iguaria bastante consumida no interior de São Paulo.


Farofa de Içá - Foto: Acervo pessoal do Chef Leonardo Ricardo

Com uma lembrança marcada por um gosto desagradável e amargo, o professor Francis Andrade (40), contou que comia muita Içá na infância, em Guaratinguetá (SP).  “Comi farofa de Tanajura algumas vezes. Meu pai fazia, mas nunca gostei muito. Ele aprendeu a comer depois de adulto e sempre fazia como tira gosto para bebidas”, conta. Sobre comer outro tipo de inseto, ele brincou: “Em condições normais de temperatura e pressão não!  (risos)”.

Para a arquiteta Fernanda Martins (33), que viajou para Hong Kong na China em 2013, o nojo ao se deparar com os pequenos bichinhos falou mais alto do que qualquer outra coisa. “Experimentei cigarras fritas nos espetinhos. Eram bem temperadas, demorei quase meia hora pra conseguir morder, mas não consegui engolir. Com certeza não comeria novamente”, afirmou.

https://super.abril.com.br/ciencia/quais-sao-os-insetos-mais-consumidos-do-mundo/ https://br.blastingnews.com/curiosidades/2018/06/culturas-que-consomem-insetos-garantem-que-alimento-e-fonte-de-proteinas-002622291.html https://www.infoescola.com/biologia/consumo-de-insetos/ http://www.comciencia.br/putz-grila-insetos-na-comida/ https://www.terra.com.br/vida-e-estilo/culinaria/de-formiga-a-escorpiao-veja-insetos-consumidos-pelo-mundo,3dd4ec6aef9ae310VgnVCM20000099cceb0aRCRD.html
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