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26/06/2020 às 09h57min - Atualizada em 26/06/2020 às 09h47min

A importância da representatividade na literatura infantil

Como os livros infantis e as políticas públicas de ensino voltadas à cultura afro brasileira podem contribuir para a valorização cultural e formação das crianças.

Karina Santos - Revisado por Renata Rodrigues
Reproduçaõ Shutterstock
Com o debate sobre o racismo que permeia a sociedade atualmente, surgiu uma reflexão importante a respeito da representatividade na literatura infantil. Ainda são poucas e pouco divulgadas as obras com personagens negros e de temática afro, porém, felizmente esse cenário aos poucos vem mudando.

Prova do quão escassa é a oferta e divulgação dessas obras, o ranking dos 50 livros infantis mais vendidos pela Amazon, uma das gigantes de e-commerce no Brasil, tem apenas 1 livro com essa temática. Uma busca rápida pela sessão infanto-juvenil online das principais livrarias nacionais, apresentam pouquíssimos ou nenhum título.

Dada a urgência de combate ao racismo, é preciso olhar com atenção para as crianças que infelizmente também são vítimas do preconceito e da discriminação e por muito tempo tentaram se encaixar em um padrão essencialmente estereotipado que não as representava. 

É extremamente importante que as crianças tenham personagens com os quais possam se identificar, que sejam diversos e plurais. As crianças precisam e merecem sentir-se representadas pelos personagens que admiram, já que estas ajudam na formação cultural, intelectual e afetiva do ser humano.

As crianças podem representar a mudança e serem as responsáveis por romper o ciclo do racismo através da naturalização da diversidade percebendo desde pequenas que as pessoas são diversas e que a diversidade torna o mundo interessante, por isso esses livros e personagens precisam ser valorizados e não ficarem restritos apenas a crianças negras para assim ser instrumento de mudança.

Djamila Ribeiro, atualmente uma das maiores representantes do movimento negro brasileiro, em seu livro Pequeno Manual Antirracista, revela que viveu sua primeira situação de racismo na escola aos 6 anos. Difícil não pensar no quanto a experiência dela e de milhares de outras crianças negras seria diferente se as personagens negras fossem mais incentivadas e divulgadas.

O relato de Djamila ainda é uma realidade para milhares de crianças, por isso além de histórias lúdicas é preciso também cobrar das escolas públicas e particulares o ensino da história e cultura afro-brasileira e africana, como é pertinentemente também lembrado pela escritora em seu livro, e que é exigido pela Lei Federal 10639/03.

Entre outras coisas, essa lei propõe novas diretrizes para o ensino de forma a ressaltar a cultura afro brasileira como constituinte e formadora da sociedade brasileira, valorizando o trabalho intelectual, religioso e cultural e assim expondo essa cultura em toda a sua especificidade e beleza, valorizando suas contribuições para a formação da cultura brasileira.

A literatura é um reflexo importante da cultura de um povo e quanto mais diversa e plural ela é mais representa esse povo e contribui diretamente para uma sociedade mais justa e menos discriminatória. Buscando valorizar a produção cultural literária infantil, estão aqui listados alguns bons exemplos de livros. São eles:

 
  • Amoras escrito pelo rapper Emicida conta uma história cheia de simplicidade e poesia e mostra a importância de nos reconhecermos no mundo e nos orgulharmos de quem somos desde criança e para sempre.
  • Sinto o Que Sinto de Lazaro Ramos ajuda as crianças a entenderem e nomearem os sentimentos para o desenvolvimento emocional e a importância da valorização da ancestralidade.
  • Sulwe de Lupita Nyong’o trata das consequências do racismo no psicológico de uma criança negra, do desejo de se encaixar em padrões e a descoberta da sua verdadeira beleza através de uma jornada mágica.
  • O Pequeno Príncipe Preto de Rodrigo França adaptação da peça teatral homônima traz uma narrativa que fala da importância de valorizarmos quem somos e de onde viemos e valoriza a diversidade e riqueza que constituem a cultura negra brasileira.
  • Bucala: a pequena princesa do quilombo do cabula de Davi Nunes reconta a história do quilombo por meio da figura da princesa quilombola que tem o cabelo crespo em formato de coroa e possui poderes especiais.

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