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10/07/2020 às 10h05min - Atualizada em 10/07/2020 às 09h58min

O Tatuador de Auschwitz: A história de amor que venceu o holocausto

Maria Luiza Machado - Editado por Letícia Agata
http://www.heathermorrisauthor.com/; https://encyclopedia.ushmm.org/content/pt-br/article/forced-labor; https://encyclopedia.ushmm.org/content/pt-br/article/josef-mengele
https://www.history.co.uk/
O “Tatuador de Auschwitz” é um romance histórico baseado em fatos reais e recheado de fé, medo e ânsia pela liberdade. Publicado em 2018 pela escritora neozelandesa Heather Morris, nós embarcamos na história de Lale e Gita, dois judeus eslovacos que foram levados para o grande centro de terror em Auschwitz, durante a Segunda Guerra Mundial.

O livro nos traz uma narrativa bastante ilustrativa, na qual conseguimos visualizar mentalmente não apenas o ambiente, mas também as torturas que os prisioneiros do campo de concentração sofriam.
 
A narrativa tem início após as forças alemães convocarem um homem por família, entre 14 e 60 anos, para prestar serviços nos campos de concentração. Assim então conhecemos Lale. O protagonista é colocado dentro de um trem a caminho de Auschwitz, e ao chegar lá se depara com a mensagem: Arbeit macht frei, em tradução livre: O trabalho liberta.

Ele não sabe onde está ou que trabalho esperam que ele faça, mas a ideia de que esse trabalho o libertará, dá a impressão de ser uma piada de mau gosto. (Página. 17).
 
Durante os primeiros dias de Lale no trabalho forçado, ele encontra dois homens que aparentavam estar lá há mais tempo do que ele. Os três conversam e é explicado ao personagem e ao leitor um dos métodos usados pelos nazistas para identificar os prisioneiros: os triângulos.

- Nós usamos a estrela amarela.
- Sim, você usa a estrela. Seu crime é ser judeu.
(Página 29)
 
Essa forma de identificação era usada para os oficiais conseguirem mandar as pessoas aos seus trabalhos de forma mais rápida e organizada, de acordo com seu grupo minoritário, sem precisar trocar nem mesmo uma palavra com eles.

Outra forma de identificação usada pelos nazistas eram os números. Ao chegar no campo, cada pessoa recebia uma numeração que deveria ser tatuada em seu antebraço por outro prisioneiro. Um dia, Lale fica doente e é resgatado por Pepan, até então tatuador chefe de Auschwitz, que com toda a bondade dá a ele o trabalho de assistente, salvando-o da câmera de gás.

Porém, após algumas semanas, Pepan é morto pelos guardas e Lale é promovido a tatuador chefe. Ele acaba descobrindo que trabalhar diretamente com os oficiais tem suas vantagens e desvantagens. O protagonista recebia mais comida do que os outros, mas seu instinto de salvar os colegas o colocava em perigo constantemente.

Entre tanto medo e aflição, Lale encontra o amor. Gita, uma moça que também era prisioneira, acaba cativando o jovem tatuador e ambos se seguram um no outro para aguentar os próximos três anos de tortura dentro do centro de trabalho forçado. Para encontrar Gita, o Tätowierer suborna, com a comida extra que ganhava e joias encontradas no campo, alguns oficiais. Apesar de conhecer os riscos, o amor parece ser a única coisa que sustenta ambos, já que a fé e a esperança já não faziam tanto efeito assim.

Na narrativa também conhecemos Cilka, uma moça jovem que é descrita como sendo muito bonita. Ela chama atenção por ser uma das únicas mulheres a ter permissão de permanecer com seus cabelos longos, trazendo então para o leitor uma parte do Holocausto que não é trabalhada nas salas de aula e nos livros de história: o abuso sexual praticado por oficiais de alta patente da SS.

Sem equilíbrio, Cilka cai com tudo quando ele a empurra. Abaixando-se de joelhos, ele monta sobre ela. Aterrorizada, Cilka tenta se cobrir enquanto ele arranca sua camisa. Ela sente as costas da mão dele estapearem seu rosto quando ela fecha os olhos e cede ao inevitável. (Página 91)
.
Em maio de 1943, Lale relata que encontrou o médico Josef Mengele pela primeira vez. O médico do Holocausto também era conhecido pelos prisioneiros como “Anjo da Morte”, já que um paciente nunca saía de seu consultório vivo. O nazista era responsável por experiências genéticas letais com gêmeos judeus e ciganos, em sua maioria crianças. Mengele tentava alterar a cor dos olhos injetando corantes, operava pessoas sem anestesia e infectava gêmeos com tuberculose e tifo.

Em certo momento do livro, o ajudante de Lale, Leon, é levado para o consultório e sofre uma cirurgia. Ao voltar, conta que teve seus testículos arrancados pelo médico.

- Este é um médico para o qual você não vai querer ser apresentado, acredite em mim. Eu tenho medo dele. O cara dá arrepios. Sabe o nome dele? Mengele, Herr Doktor Josef Mengele. Você deveria se lembrar desse nome Tätowierer.
- O que ele está fazendo na seleção?
- Herr Doktor informou que estará em muitas seleções, pois está em busca de pacientes especiais.
(Páginas 97 e 98).
 
Após uma confusão envolvendo o número de dois judeus levados para a câmera de gás, o tatuador chefe é chamado pela SS para identificar o “certo”, porém ele deve entrar dentro do enorme prédio que presenciou a morte de centenas de judeus, ciganos e outras minorias, trazendo então para Lale a sensação da sua própria sina, que independente do que faça, seu destino será o mesmo que o dos ex-companheiros.

O oficial da SS abre bem as portas e eles entram em uma sala cavernosa. Corpos, centenas de corpos nus, enchem a sala. Estão empilhados uns sobre os outros, com os membros retorcidos. Olhos mortos os encaram. Homens, jovens e velhos; crianças por baixo. Sangue, vômito, urina e fezes. O cheiro da morte toma o espaço todo. Lale tenta prender a respiração. Seus pulmões ardem. As pernas ameaçam a ceder. (Página 123)
 
Porém, o que as pessoas que estavam sofrendo dentro daquele pesadelo menos esperavam era que a liberdade estava próxima. Quando o fim da guerra começa a ser narrado, é impossível não se emocionar! Cada passo, cada fala, cada ação dos personagens nos faz imaginar a dor que estavam sentindo e o quanto ansiavam por aquele momento.

O reencontro de Lale com a irmã é triste, mas ao mesmo tempo muito alegre, apesar dela ter sido a única parente do ex-tatuador que sobreviveu das infinitas caçadas por judeus. Podemos observar que ele se sente muito grato por pelo menos alguém da sua antiga vida ainda estar ali.

Durante a saída de Auschwitz, Lale e Gita acabam se perdendo um do outro, mas o destino decidiu não ser mais cruel com os jovens amantes. Alguns meses depois de muita procura, os dois se encontram casualmente em seu país de origem e se casam. Ambos passaram a vida perdidamente apaixonados, e esse amor com certeza persistiu até mesmo depois do fim.

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