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07/04/2021 às 21h22min - Atualizada em 07/04/2021 às 20h54min

Drag Queen: expressão e cultura

Entenda o discurso presente na arte de se transformar

Isabelle Marinho - Revisado por Mário Cypriano
RuPaul durante uma performance - Créditos: The New York Times

Pabllo Vittar na música, Samira Close no mundo dos jogos, Silvetty Montilla no humor, as drag queens conquistam diversos espaços no Brasil e no exterior. A cultura onde alguém se monta artisticamente popularizou-se em diversos ambientes, todavia, mesmo que não seja uma regra, o meio LGBTQIA+ ainda é o que mais colabora com essa arte transformista. 

Com mais representatividade, Alisson Lima, 19 anos, começou a acompanhar e entender um pouco mais desse mundo por conta de Pabllo Vittar: “É uma coisa muito visual, a gente ver um homem gay, afeminado, com maquiagem e peruca na TV e fazendo um sucesso tão grande. Então, eu acho que me chamou muito a atenção por conta da minha sexualidade e toda essa aparência que ela mostrava, porque querendo ou não, foi ela quem me introduziu nesse mundo drag”, finaliza o professor de inglês.

 

(Pabllo Vittar/ Reprodução: Twitter @pabllovittar)


Entretanto, ainda há uma certa confusão sobre como diferenciar essas artistas das pessoas transexuais. A diferença é que a transformação artística das drag queens não está relacionada com a identidade de gênero, ou seja, um homem que se monta como mulher de maneira exageradamente feminina com intuito artístico, não precisa sentir que seu gênero biológico não corresponde ao gênero com o qual se identifica, enquanto pessoas transexuais nasceram em um gênero em que não se encontram psicologicamente. 

O ator e mestre em Artes da Cena, Igor Amanajás, explica o seu ponto de vista sobre o que é, de fato, fazer arte nesse âmbito: “Se montar em drag não quer dizer só passar uma maquiagem e sair na rua, isso é um posicionamento político, mas não é um posicionamento artístico. Posicionamento artístico é discurso, é responsabilidade com a sociedade, é um intervir de modo direto na cultura, é um pensamento poético sobre o fazer teatral, pensamento de linguagem, de estética, então, tudo isso tem que ser pensado por quem deseja entrar nessa área”, conclui. 

Ao falar brevemente sobre a história por trás dessa arte, tudo começa nos teatros da Grécia Antiga, onde homens se transformavam em personagens femininas para atuar em um papel específico, já que as mulheres não possuiam essa permissão. Isso também ocorria dentro da Igreja, visto que as instituições adotaram o teatro para passar mensagens litúrgicas e, novamente, as mulheres não tinham a permissão para atuarem nas peças ou em qualquer outra função dentro do culto.



(Drag queen parisiense da década de 1920, Barbette - Reprodução: The New Yorker)

Com a cultura pop dos anos 60, cria-se um espaço, mesmo que limitado, para a expressão dos jovens homossexuais, também utilizado pelas drag queens. Entre as décadas de 1970 e 1980, os transformistas alcançam o cinema, a rádio e a televisão. Com o tempo, conquistam a moda e os olhares de artistas como Madonna. 


Em 2009, surge “RuPaul’s Drag Race”, criado pelo artista RuPaul. O reality show é um convívio para drag queens mostrarem seus trabalhos em um palco onde essa cultura possa atingir o mundo. De acordo com Heitor Silva, designer com ênfase em moda e pesquisas voltadas no campo drag queen, muitas pessoas que tinham essa vontade, começaram a se montar depois que o reality se popularizou.

“Foi um ‘boom’, não tem como negar, uma forma de aceitação muito grande para as pessoas. Na maior parte, são pessoas da comunidade LGBT, mas alcança também pessoas que não são LGBTs, que começam a entender um pouco do que é essa arte. Inclusive, eu vi nessa última temporada que há um homem trans que faz drag queen, então já se consegue entender essa diferença das questões de sexualidade, de gênero e de expressão artística”, explica o designer.

 


(Teaser da 13ª temporada do reality show RuPaul's Drag Race -  Reprodução: Youtube / RuPaul's Drag Race)


O fazer drag está relacionado com uma expressão, principalmente ao envolver as artes, o que pode englobar a música, o teatro, a dança, a literatura, a maquiagem e muitos outros setores culturais. 

Assim, “expressão” foi a palavra que Higor Marques de 23 anos deu à arte de se montar. Amy nasceu há quatro anos, quando Higor sentiu a necessidade de buscar algo: “Eu precisava me completar, depois de um tempo comecei a entender que usei a drag para dar voz a uma outra parte minha”. A partir de então, festas, trabalhos como DJ e maquiagens começaram a ser mais comuns e fazer parte do cotidiano de Amy, já que toda a arte performática veio com seu surgimento, segundo Higor, que agora é um maquiador artístico. 


(Amy - Foto: Arquivo pessoal / Higor Marques)


O apoio social que esses artistas precisam vai além das contratações para eventos, peças teatrais, produção de maquiagem e festas, pois isso o ambiente LGBTQIA+ já proporciona. É necessário que haja informação para evitar equívocos e preconceitos. Falar sobre um assunto como este pode contribuir não apenas para com uma camada minorizada, mas também para a evolução desse tipo de arte que existe há séculos e ainda há a  desinformação.

 

 


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