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09/06/2021 às 10h08min - Atualizada em 09/06/2021 às 10h02min

Pobreza menstrual afeta 1 em cada 4 adolescentes no Brasil

O alto preço dos absorventes e falta de saneamento básico são as principais causas da pobreza menstrual

Cler Dos Santos Gomes Pereira - Revisão por Damáris Gonçalves
Dados de pesquisa feita pela Toluma (Reprodução)

Em pessoas com vagina acontece todo mês, geralmente a partir dos 13 anos. A menstruação ainda é um grande tabu na sociedade, e por isso, muitas meninas ficam sem acesso a produtos básicos de higiene pessoal. A pobreza menstrual é caracterizada pela falta ou negligência de produtos de cuidado pessoal, como absorventes e remédios contra as cólicas. 

A pobreza menstrual chamou a atenção recentemente. O filme Absorvendo Tabu de 2018 venceu o Oscar como melhor curta-metragem e aborda o cotidiano de uma comunidade rural na Índia. Em Harpur, a primeira menstruação significa que as meninas devem interromper os estudos. O filme demonstra também como o machismo interfere na vida delas, resultando na falta de produtos de higiene adequados. 

Além dele, o filme Padman (2018) da gigante streaming conta a história de um homem que quebrou a barreira do preconceito e falou sobre menstruação numa pequena vila no estado de Tamil Nadu, ao sul da Índia. Além disso, ele inventou um conjunto de máquinas para produzir absorventes de baixo custo. Por isso a produção é chamada de Padman, no inglês, o homem absorvente. 

Ambos os filmes quebram estigmas sobre a menstruação na Índia. A reflexão necessária ganha atenção do mundo todo e movimenta projetos em prol da causa. A psicóloga Josiane Teixeira, pós graduada em Terapia Cognitiva Comportamental, atua como especialista em ansiedade e depressão em Belo Horizonte. A saúde mental das pessoas que menstruam é diretamente afetada pelo corpo, devido a alteração hormonal. 
 

Psicóloga Josiane Teixeira (Divulgação)

Psicóloga Josiane Teixeira (Divulgação)


Josiane considera que boa parte dessa aversão a menstruação vem do machismo. “Se a menstruação fosse do homem, não haveria tanto nojo, seria abarcado como algo normal, assim como os pelos no corpo da mulher que são vistos como algo nojento”,conclui. A psicóloga considera ideal o Estado oferecer artigos de higiene menstrual nos postos de saúde, visto que é algo essencial na vida da mulher. 

Tratar estas questões com os pais é crucial, pois assim, além de entender sobre o ciclo menstrual e as transformações que acontecem no corpo ao longo da puberdade, é uma forma de proteção. Sabendo dessas questões, elas entendem o limite do toque e das relações mais íntimas, bem como os conceitos de permissão e consentimento. 

A religião e a cultura atuam, por sua vez, como barreiras na difusão de conhecimento sobre o ciclo menstrual. A psicóloga considera que “abordar sem ser preconceituoso significa suspender suas crenças e sentimentos pessoais sobre aquela questão, entender que se trata de outra pessoa. Escutar o outro na singularidade dele” , explica. 

Para muitas, não é possível manter hábitos de higiene adequados enquanto está menstruada. Um pacote com oito absorventes custa, em média, de R$ 8 a R$ 10 reais. De acordo com uma pesquisa realizada pela Sempre Livre em 2018, durante um período menstrual com fluxo comum, o gasto médio é de 20 a 30 absorventes. Ou seja, pelo menos 3 pacotes por ciclo, 30 reais por mês. 

Embora o valor não pareça significativo, para as famílias com mais de uma menina/mulher por casa, a escolha entre um pacote de arroz e absorventes é quase óbvia. Este fato se agrava devido à atual crise financeira que o país enfrenta. 

Um relatório feito pela UNFPA e UNICEF sobre pobreza menstrual, divulgado este ano, determina que os direitos menstruais devem ser pensados considerando as múltiplas realidades do Brasil. Questões raciais e territoriais devem ser levadas em consideração em busca da solução mais adequada. O argumento é “não estamos tratando de categorias homogêneas e a visibilidade da interação entre distintos marcadores evidencia uma profunda desigualdade no acesso às condições mínimas para o cuidado menstrual”.  


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