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18/06/2019 às 14h06min - Atualizada em 18/06/2019 às 17h06min

Histórias de terror: uma viagem pelo universo das lendas pernambucanas

"Encanta-moça"; "Boca-de-Ouro"; "Cumadre Fulôzinha e "Alamoa" são alguns dos personagens desse imaginário

Nathalia Teixeira
Lendas urbanas são parte da história de Pernambuco. (Foto: Internet/Reprodução).
Sabe essas histórias antigas que você escuta e não acredita, mas quem conta jura de pé junto que aconteceu? Quem passa por Pernambuco, certamente escuta falar sobre tais histórias. Se for de Catamarã pelo Rio Capibaribe, na parte da Zona Norte, tem os espectros com semblantes angustiados de suicidas que permanecem no limbo; Se você é homem e quer se aventurar pelas margens da Bacia do Pina, provavelmente vai encontrar a Encanta-moça, mas cuidado com o rostinho angelical pois ela vai te atrair até o mangue e quem entra costuma não sair.

Pretende ir ao zoológico? Saiba que lá está o casarão de Branca Dias, uma moça perseguida pela Inquisição que guarda seu tesouro com muito fervor;  Caso queira ir para uma das mais antigas casas de espetáculo do Recife, no Teatro de Santa Isabel, é de costume as noites silenciosas serem regidas por espetáculos invisiveis com o bater de palmas que só se escuta, mas não se vê. 

No Centro do Recife, é possível encontrar o Boca-de-Ouro, malandro boêmio com rosto de esqueleto que nas noites aborda pessoas sozinhas pedindo fogo e só sossega quando as vítimas desmaiam de susto. Também tem a emparedada da Rua Nova e as lamentações da praça Chora Menino. Nas Matas, a Cumadre Fulôzinha não está para brincadeira, quem a desafia maltratando a floresta costuma ter diversas punições; Pelos interiores, lobisomem e o perna cabeluda são figuras carimbadas; No litoral, mais precisamente em Fernando de Noronha, não dê carona para uma mulher de branco, cuidado com a Alamoa.

A emparedada da Rua Nova é uma das lendas populares. (Foto: Reprodução / Internet)

O livro "Assombrações do Recife Velho", de Gilberto Freire, reúne as mais antigas lendas contadas pelos moradores das cidades. Além disso, também foi usado na criação de um dos blogs de maior sucesso que é "O Recife Assombrado", nele estão contidas histórias, assombrações, lugares assombrados, notícias da literatura regional, crônicas e resenhas. Tudo para divulgar esse universo tão rico do imaginário popular que tem sido bem aceito ao longo dos anos, como relata o ilustrador Luciano Felix. "O feedback do público e a instigação da manutenção do blog com as recorrentes pesquisas certamente foram o combustível principal para as publicações em suas diversas mídias, atingindo diversos públicos e incentivando outros artistas a produzirem conteúdos de terror, recifense ou universal".

Muitas dessas lendas são daqueles tipos que a maioria conhece (e tem medo); Outras, são mais conhecidas por quem vive há um bom tempo no estado, como é o caso de Francisco, 76 anos, morador do Recife há quase 60 anos, que nasceu no interior de Pernambuco e é cheio de histórias para contar. Ele afirma que as cidades costumavam levar bem a sério essas lendas. "Cidade pequena, todo mundo conhece todo mundo, lá em Garanhuns mesmo escuto falar desde que era criança sobre uma mulher rica que vivia sozinha e morreu, os moradores da cidade colocaram o corpo dela numa carroça de bois e deixaram vagar, já até escutei na madrugada a tal carroça, dizem que são os bois procurando até hoje um lugar para deixar o corpo", revela Francisco.

André Balaio, idealizador do blog, ressalta as diversas formas de utilização das histórias no meio do entretenimento e documentação da cultura pernambucana produzidos pelo conteúdo postado no site. "Entendo que 'O Recife Assombrado' tem um papel importante no resgate de parte de nossa cultura, antes propagada apenas de forma oral, de gerações para gerações. Isso de certa forma vinha se perdendo com a televisão e a internet, e agora está registrado. Vários artistas fizeram parcerias conosco, inclusive existe um filme 'Recife Assombrado', longa-metragem, do qual participamos do roteiro e deve estrear agora no segundo semestre. Por fim, inspiramos e ajudamos a criar passeios turísticos, que ajudam a incrementar o interesse pelo Recife e mostram esse lado pouco conhecido da cidade tanto para turistas quanto para moradores daqui.", explica. O longa-metragem a qual André se refere tem direção de Adriano Portela e ainda não tem data para estreiar. O city tour assombrado acontecerá todos os sábados de julho no centro do Recife.

Casarão de Branca Dias é uma das lendas que passa de geração em geração. (Foto: Reproduçã/Internet) 

Em meio à modernidade, novas mídias tornam as lendas acessíveis aos jovens que estão se interessando pelo assunto. "Desde que ouvi a primeira história, contada pela minha mãe, fui pesquisar e senti o quanto o lugar onde eu moro é carregado por cultura. Quando visito a Cruz do Patrão ou qualquer outro lugar onde há indícios de lendas, sinto uma euforia por estar num local cheio de energias, é como se eu estivesse entrando na história da cidade, a cara do pessoal que escuta pela primeira vez é impagável (risos)", revela a estudante Danielle Lemos, que tem 20 anos e conheceu a primeira história aos 12. Ela conta ainda que todos os dias tenta passar pelo máximo de locais descritos nas lendas que lê.

O escritor Roberto Beltrão, autor do Blog e do livro "Histórias Medonhas do Recife Assombrado"  ressalta a importância dos contos serem divulgados e conta como surgiu seu interesse na literatura fantasiosa. "A história assombrada é mais que uma lenda, ela significa a própria construção da história daquela cidade e a construção do imaginário da comunidade", e completa "Meu interesse surgiu desde minha infância. Nas minhas férias, ia para o interior e tinha muito contato com meus avós, lá é mais comum essas histórias. Hoje tenho 51 anos e fui criança na década de 70, quando tiveram no Recife muitas lendas urbanas, fui da época que a perna cabeluda fazia muito medo e isso marcou minha infância, os coleguinhas se juntavam para contar histórias de assombração como a perna cabeluda e a mulher do algodão, então tudo isso me fez querer, quando adulto, pesquisar sobre historias de assombração." relata, Beltrão ; Ou seja, o que nasceu como apenas uma curiosidade, reuniu e revelou à população a grande riqueza de lendas que o local onde viviam possuía.

A história do "Perna Cabeluda" marcou a infância do
 escritor Roberto Beltrão. (Foto: Reprodução/Internet). 

Você tem medo de assombrações? Sugiro então que procure saber a verdadeira história por trás e perceberá que todas querem mandar algum tipo de mensagem. Será que sua cidade também tem dessas histórias? 

Se ficou curioso e quer ler mais contos e lendas de Pernambuco, acesse o site do blog orecifeassombrado.com

As assombrações agradecem!

Editado por Alinne Morais

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