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13/09/2021 às 19h57min - Atualizada em 16/09/2021 às 14h55min

Novas adaptações no audiovisual

O avanço nos processos de produção e resgaste de memórias passaram por transformações que resultam no cenário atual

Beatriz Costa Rodriguez - editado por Larissa Nunes
Divulgação Walt Disney

A indústria cinematográfica do último milênio entregou produções marcantes que vivem na memória do público até hoje, entretanto, explorando do apelo emocional do público, muitos estúdios estão olhando para o passado e revivendo histórias que são lembradas com muito carinho pelos fãs com uma reciclagem cultural que transformou o cenário do audiovisual atual, cercado de produções identificadas como remakes, reboots ou revivals, sempre que começam com "re", prefixo que identifica o ato de repetir algo, de fazê-lo novamente.
 


Estratégias dos estúdios
 

A estratégia principal de produzir um reboot, remeke, revival ou live-action é mexer com as nostalgias do público. Afinal de contas, a uma sensação de segurança no que é familiar e, sem assistir a reprise em distribuição ou streaming, um renascimento dessas séries – filtrado por lentes modernas – apresenta o veículo perfeito não apenas para a nostalgia, mas para aprender as lições de vida que esses programas ensinaram aos fãs. As novas adaptações buscam encontrar o meio termo entre a nostalgia e a existência no ambiente social em que vivemos.
 

Nas últimas décadas, o avanço nos processos de produção de sentido e resgate de memórias na mídia passou por transformações intensas que resultaram no cenário atual do audiovisual que estamos vivendo hoje, em uma época na qual nunca se dedicou tanta tecnologia para o resgate midiático de símbolos do passado. Para Thiago Beranger, publicitário e crítico de cinema no instagram @quartaparede.cinema, afirma que "em um mundo de algoritmos que estão cada vez mais criando bolhas é cada vez mais difícil para nós lidarmos com o contraditório e com algo que nos tirem da zona de conforto. Estamos acostumados a ter nossas visões reforçadas por essas bolhas nas redes sociais, a só ver aquilo que os algoritmos entendem que vai nos agradar e isso se transpõe para o cinema também."
 

"O Rei Leão marcou a minha infância e traz uma sensação nostálgica e positiva. Por outro lado, ir assistir a uma obra mais original é uma incerteza, é algo de certa forma arriscado. É importante também dizer que esse fenômeno não é recente, sempre existiu na história do cinema, mas acredito que essas questões da pós-modernidade tem intensificado esse processo", destaca Thiago Beranger.
 


Os estúdios possuem uma lógica mercadológica que guia e direciona esse resgate de histórias do passado, sobretudo considerando o retorno (de público e de audiência) que determinados produtos e símbolos podem ter ao serem lançados de forma comercial. Nem todo tipo de resgate saudosista é comercialmente favorável para o capitalismo e para a lógica do entretenimento que visa sensibilizar audiências para gerar compras e criar novos consumidores
 

"As novas adaptações quando bem feitas, despertam a curiosidade de como as obras originais foram feitas, desenvolvendo o interesse das pessoas em revisitar o passado e trazendo de volta grandes produções. Assim os grandes trabalhos feitos não caem em esquecimento e podemos ver a influência que ainda tem nas obras mais atuais", afirma Luke do canal Minha Vida é Uma Série sobre o resgaste de histórias.

As grandes produções do passado carregam consigo uma legião fãs da geração passada e com reciclagem de produtos culturais as tramas são apresentadas para novas gerações. Adriel Lima especialista em Rádio e TV e criador de conteúdo no instagram @o.seriador afirma, que "o atrativo seria contar uma versão moderna desses filmes e séries aclamados pelo público e crítica. Como foi o caso de "Nasce Uma Estrela" que teve 4 versões com apenas 20 anos de diferença uma pra outra, e os novos remakes das séries Charmed (1998-2006) e Gossip Girl (2007-2012). Todas estas citadas mostram a mesma história com representatividade que compõem a época’’.

 

O Reboot de Gossip Girl se passa oito anos depois dos acontecimentos da versão original, mas com um novo elenco que busca trazer mais representatividade e o mundo na ascensão das redes sociais. Na época da original, o sucesso foi enorme e a nova produção já contava com parte da audiência garantida, com isso o reboot teve a maior estreia de uma série original na HBO Max; conseguindo expandir muito sua audiência.

 

O jeito Disney de fazer negócios
 

A era da renascença rendeu muito lucro a empresa e o sucesso foi tanto que colocou o Disney World como o destino dos sonhos de pessoas do mundo inteiro. O problema é que o público cresceu, tiveram filhos e para não perderem a popularidade com uma nova geração de crianças, a jogada do estúdio foi trazer os clássicos de volta com os live-actions que são blockbusters —  filmes esses com apelo mais comercial.
 

Iago Vasconcelos do instagram sobre séries e filmes @iagoraqueserie, afirma sobre as novas adaptações. "A pioneira disso foi a Disney e que por ter funcionado bem nas primeiras produções, veio uma grande leva querendo apostar nisso, pois os fãs das produções normalmente respondem positivamente. É mais fácil você chamar atenção com algo já conhecido do que com algo novo, que já tem uma afeição, e por isso acredito que estamos vendo tanto disso atualmente’’.

Se tornando o jeito Disney de fazer negócios, que ao refazer uma história que já foi um sucesso e já possui uma legião de fãs que movidos pela nostalgia  vão às salas de cinema e que vai gerar lucro garantido para os estúdios, mas a questão é que a partir de um momento em que um estúdio deixa de investir em ideias originais e começa a trabalhar em uma cadeia de produções que seguem a mesma fórmula, isso passa influenciar toda a indústria, já que a Disney é proprietária da maior parte dela e os poucos concorrentes para tentarem se equipar tentam produzir novas adaptações.

 

Como por exemplo, o Paramount Plus que chegou no Brasil com uma das suas principais apostas um revival de "Icarly" e com produções futuras a volta do "Big Time Rush".
 

Entretanto se tratando da indústria do entretenimento, Adriel Lima especialista em Rádio e TV e criador de conteúdo no instagram @o.seriador, conta que nada hoje é novidade.
 

"Hollywood sempre vai adaptar um livro, reviver uma série alguns anos depois, zerar tudo e começar de novo ou até mesmo ver o que faz sucesso fora da bolha deles e recriar numa versão norte-americana, como foi o caso de The Office, The Good Doctor e a recente confirmação da série do filme Parasita. É a clássica frase que Hollywood está levando muito a sério "Nada se cria, tudo se cópia". É triste porque a gente está com ânsia de coisas novas, porém o que temos é só mais da mesma história, sendo contada com outras palavras’’.



A sensação que temos é que estamos mergulhados em ciclo constante de nostalgia do passado, mas se formos analisar a indústria cinematográfica vemos dois lados: o abstrato, que é o da com paixão pela arte, do aprimoramento das técnicas e da evolução da tecnologia e outro lado que tem um aspecto que é definitivo: o lucro. Pois, em Hollywood se uma fórmula  gerou muito dinheiro, ela vai ser explorada até o fim, mesmo se o público não estiver satisfeito com os resultados finais.
 

Segundo Thiago Beranger, publicitário de formação e crítico de cinema no instagram @quartaparede.cinema, o que ele diz sobre o cenário atual que estamos vivendo é que "o cinema está sendo encarado cada vez mais como um mero produto e cada vez menos como expressão artística; que o grande problema não é a existência dos reboots, remakes e revivals, e sim a forma como isso tem sido feito hoje."

 

Já Iago do @iagoaqueserier diz que pode ter pontos positivos e negativos também, principalmente por conta de que está sendo colocado muitos investimentos em produções já existentes, não havendo muito nas novas produções, além de que às vezes quem vai fazer essas novas produções não foram as mesmas pessoas que tiveram a ideia original, então acaba fugindo da história.

 


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