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17/08/2021 às 23h11min - Atualizada em 16/08/2021 às 20h06min

Elize Matsunaga: a história de uma assassina contada pela Netflix

Documentário busca dar voz aos dois lados envolvidos no assassinato de Marcos Matsunaga

Vítor Neves - revisado por Jonathan Rosa
Cena do documentário "Era Uma Vez Um Crime". (Foto/ Reprodução: Divulgação Netflix).

Quase 10 anos depois de um dos crimes que chocou o Brasil, a Netflix junto com a produtora Boutique Filmes, lançou uma série documental sobre Elize Matsunaga, condenada por assassinar e esquartejar seu marido, Marcos Matsunaga. A produção em quatro episódios aborda pontos do homicídio do então dono da empresa alimentícia brasileira Yoki, ocorrido em 2012.

Elize Matsunaga: era uma vez um crime, é um documentário que se destaca a partir do momento em que Elize aceita participar do projeto. Em 7 anos de prisão, ela nunca tinha aceitado falar sobre o caso publicamente. Em entrevista à revista Marie Claire, a diretora do projeto, Eliza Capai, disse que não foi fácil convencer Elize a participar do projeto. “Foi um longo processo para criação de confiança. Muita gente confunde confiança com defesa. A gente em nenhum momento teve a intenção de defendê-la, mas de escutá-la e fazer uma edição honesta com o que ela e os outros personagens falam”, destacou Capai.

A intenção do documentário em dar voz a ambas às partes envolvidas nesse caso realmente é existente, mas no desenvolver da trama a história parece procurar formas de justificar o assassinato e o esquartejamento. Os episódios foram produzidos num formato de linha do tempo, que vai e volta diversas vezes, sempre fazendo conexões entre o passado de Elize, a semana do crime e a do seu julgamento.

Todos os envolvidos, de ambos os lados, tiveram voz para darem a sua versão do ocorrido, desde a família de Elize e de Marcos, até delegados, promotores de justiça, médicos legistas e jornalistas que acompanharam o caso de perto. Dando assim, uma maior clareza aos detalhes que muitas vezes passaram ilesos durante as grandes coberturas. Mas o grande foco acabam sendo os depoimentos de Elize, que por sinal, são bem humanizados e arrependidos, principalmente quando comenta sobre a filha que tem com Marcos, (que na época do crime tinha apenas 1 ano e 7 meses), sua saudade da criança e seu desejo de reencontrá-la.

Além dos depoimentos, o documentário também utilizou gravações dos interrogatórios e das audiências de grande parte dos envolvidos, mas sem muita novidade ou relevância para quem se lembra do caso. Um ponto valioso do documentário, é que mesmo tendo o intuito de narrar as diversas versões, a diretora consegue trazer a tona, assuntos relevantes aos dias atuais, como: violência sexual, o machismo enraizado na sociedade e até mesmo a diferença no modo que é conduzida uma investigação, apenas pela classe social da vítima.

Relembre o Caso

Juntos desde 2004, Elize e Marcos Matsunaga assumiram seu relacionamento apenas em 2009, após Marcos terminar o casamento com sua antiga esposa. O casal vivia sua vida normalmente, até que em 2012, após desconfiar de uma suposta traição, Elize contratou os serviços de um detetive particular, para acompanhar os passos de seu marido. No dia 19 de maio, Elize recebeu a confirmação da traição, mas essa não era a primeira vez que Marcos havia traído a esposa.

Em 19 de maio daquele ano, Elize e Marcos discutiam em sua residência, uma cobertura num prédio de São Paulo. As câmeras de segurança do elevador filmaram o casal chegando no apartamento, e também quando Marcos descia para buscar uma pizza que haviam pedido. Após retornar a sua residência, a única imagem captada foi a de Elize carregando três malas para dentro do elevador no dia seguinte. Ninguém sabia ainda, mas naquelas malas estava o corpo esquartejado de Marcos.

Segundo o depoimento de Elize, durante a discussão ela atirou contra o marido, com medo de que ele fizesse algo com ela, pois ele já havia a agredido anteriormente. Entretanto, o que chocou no crime, foi que após o tiro, Elize arrastou o corpo do homem para um cômodo da casa e esperou o dia seguinte para cortá-lo em partes (cabeça, tórax, braços e pernas) para que não houvesse tanto sangue espalhado pela casa. Após esquartejar o marido e colocar as partes do corpo em saco plástico, ela dirigiu até uma estrada em Cotia, no interior de São Paulo, e jogou o corpo na beira da estrada.

Na época, a Yoki, empresa da qual Marcos era dono, estava em um processo de venda bilionária para uma empresa americana, o que levantou suspeitas de sequestro, já que Marcos tinha desaparecido. Nesse período em que o caso era tratado como desaparecimento, Elize foi até a casa dos pais de Marcos e mostrou as fitas comprovando a traição do marido, e contou a eles que o empresário havia ido embora com essa mulher. Para dar credibilidade a história, Elize se passou por Marcos, escrevendo um e-mail de "tranquilização" para a família.

Contudo, três dias depois do desaparecimento de Marcos, as partes do corpo foram encontradas, reconhecidas e as investigações começaram, apontado sua esposa como principal suspeita do crime. Após a expedição de um mandato de busca e apreensão contra Elize, ela confessou o crime e foi a julgamento em 2016, sendo condenada a 19 anos, 11 meses e 1 dia de prisão.


O documentário como gatilho mental

Com a crescente produção de documentários e filmes retratando crimes reais, a preocupação com a exposição desse material acaba se tornando realidade. Atualmente, grandes veículos midiáticos não costumam noticiar casos de suicídio, devido ao “Efeito Werther”, que é o aumento de suicídios após divulgação de material suicida – o termo surgiu em 1974, após sugestão do pesquisador David Phillips.

Mas será que casos como o de Elize, envolvendo traição, morte e esquartejamento, sendo amplamente divulgado em vários veículos midiáticos do país, poderia ser uma influência para outras pessoas seguirem essa mesma linha? Segundo o psicólogo Felipe Campideli (CRP 135055) "não se sabe ao certo se existe uma teoria que possa exemplificar tal ação, mas podemos fazer correlação com a teoria do Behaviorismo, pois ela estuda as manifestações dos processos mentais perante o comportamento".

Ao ser questionado sobre a utilização do documentário, como uma espécie de "retrato" para reproduzir tal atrocidade, Campideli ressalta que a influência da mídia nas pessoas, hoje em dia, é grande, e pode com certeza causar uma influência tanto positiva quanto negativa em quem assiste o projeto.

Com toda certeza tudo que acontece na internet pode influenciar as pessoas, seja de forma positiva ou negativa. Falando sobre o documentário, onde Elize Matsunaga mata o marido, ele pode se tornar uma ferramenta de informação, assim como pode ter impacto negativo na vida de uma pessoa com estruturas psicológicas abaladas. A mente do ser humano é algo muito complexo, os processos psicológicos, e as possíveis psicopatas podem se agravar perante estímulos externos.

Além disso, Campideli ainda informa que "é possível reconhecer uma pessoa com traços e alguns sinais que possam estar passando por um distúrbio psicológico", ou seja, pessoas com depressão ou que sofrem bullying, por exemplo, podem reagir de maneira diferente do que é considerado "habitual" pela sociedade (pessoas tristes, sem perspectiva de vida, isoladas em seus quartos, sem amigos, etc) e cometer um crime, como foi o caso de Wellington Menezes, conhecido como assassino de Realengo, que segundo um ex-colega de classe, teria sido vítima de bullying nos anos em que estudou na Escola Municipal Tasso da Silveira.
 

Influência do meio externo, influências da mídia, um psicológico abalado durante anos, psicopatia, distúrbio anti social... O comportamento depende da pessoa, do seu estado emocional e da sua psicopatia. É preocupante pessoas que acabam se isolando dos outros seres humanos, postam frases depressivas, deixam pistas em redes sociais, postam assuntos macabros ou obscuros. Esses são apenas alguns sinais, e cada pessoa reage de uma forma diferente.


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