Ruth De Souza. (Foto: Reprodução/ Acervo Globo)"Do oiapoque ao Chuí", o Brasil é conhecido por seus atributos, dentre eles estão: a sua diversidade cultural, riquezas naturais, o samba no pé que só o carioca tem, o gingado encontrado nos corpos baianos, a fauna e flora da Amazônia, não falta elementos. O próprio brasileiro dispõe de grandes paixões, o futebol, o Carnaval e as novelas. Sim, as novelas fazem parte do histórico do Brasil e tornou-se algo indispensável na casa do povo brasileiro.
Celeiro de grandes obras, vários profissionais do ramo das artes cênicas ganharam prestígio e notoriedade com suas interpretações, ao elencarmos quem foram os personagens mais emblemáticos das telinhas, diversos portais de notícias ou até mesmo você caro leitor, irá citar nomes como: a icônica Nazaré Tedesco, da Senhora do Destino (2004), a venenosa Carminha de Avenida Brasil (2012), a assustadora Flora de A Favorita (2008), o amável Tonho da Lua de Mulheres de Areia (1993) ou o furacão Odete Roitman de Vale Tudo (1988).
Todos esses artistas merecem o respeito e o titulo que receberam, no entanto, pouco ou nada aparece a respeito de atores negros no rol dos consagrados, e existe uma explicação muito latente para isso. A falta de representatividade negra em nossas novelas é algo proveniente do racismo impresso em nossa sociedade, ser negro no Brasil é sinônimo de invisibilidade, a situação piora quando se é mulher, este artigo busca apresentar a dura caminhada dos profissionais negros das artes cênicas para serem inseridos nas tramas, e o preconceito escancarado dentro delas quando lhe foram entregues os papéis, para além de Fernanda Montenegro, Nathália Timberg ou Glória Menezes iremos contar a história das grandes damas negras da teledramaturgia brasileira.
A chegada das Telenovelas
As telenovelas tiveram seu advento um ano após a televisão ser inaugurada no Brasil, mais precisamente em dezembro de 1951 foi ao ar estreada pela TV Tupi, a Sua Vida me Pertence, primeira novela lançada e composta por 15 capítulos que eram exibidos apenas às terças e às quintas-feiras. Como ainda não existia o videoteipe tudo era feito ao vivaço, contudo os dias intercalados não surtia efeito para prender o público na trama, foi então que decidiram exibir as produções todas as noites no mesmo horário.
Esse início foi distribuído em quatro fases, e para cada nova fase um novo modelo de produção. Na primeira, por exemplo, podemos considerar a consolidação da telenovela e também a fase responsável por apresentar a primeira telenovela diária em 1963, 2-5499 Ocupado, produção da TV Excelsior e fenômeno de massa.
A partir da segunda metade dos anos 1960, todas as emissoras optaram por investir no gênero: Excelsior, Tupi, Record e Globo. Esta fase trazia as origens radiofônicas e a estética dos dramalhões, herdado dos mexicanos, cubanos e argentinos. Foi apenas na quarta fase em 1970 que a telenovela brasileira desprendeu-se das inspirações latinas e começaram a aderir a nacionalização do gênero. Destaque para as novelas: Irmãos Coragem, Mulheres de Areia e A Viagem.
Atrizes Negras Do Cenário Brasileiro | Sociocronica. (Reprodução:YouTube BR)
O Negro na TV
Desde que mundo é mundo, os negros assim como sua cultura, ideologias e conversões foram dislegimados. Hostilizados, desrespeitados e escravizados. Toda essa repreensão que iniciou com o tráfico africano no século XV ressoa até os dias de hoje colocando a comunidade negra em uma posição de inferioridade e invisibilidade, não poderiam ser diferente nas novelas. Não adianta ter talento, mérito, o fato de carregar na fisionomia os traços de quem outrora foram chicoteados te desapropria disso tudo.
Na teledramaturgia tanto nas primeiras novelas transmitidas até as atuais é perceptível a exclusão dos negros que nunca tiveram espaço nesse campo. Apesar de terem iniciado nos anos 1950, foi só em 1980 que os negros começaram a interpretar mais telenovelas, um estudo realizado por Joel Zito Almeida De Araújo (2004) citado na monografia: Representação da mulher negra na teledramaturgia evidencia a imagem estereotipada dos negros nas novelas em que aparecem quase sempre em papéis secundários e sem importância.
Quando conseguem o papel de protagonismo a narrativa destoada é tamanha que acaba por não oferecer o destaque necessário a essas pessoas, se comparado a personagens brancos, como foi o caso da Helena de Manoel Carlos, interpretada por Taís Araújo que teve seu protagonismo ofuscado pelo drama de outro personagem, a sua enteada Luciana vivida pela atriz Alinne Moraes. Ao todo apenas sete atores negros protagonizam alguma novela na rede Globo.
Grandes Damas Negras da TV
Rute de Souza
A saudosa Ruth De Souza encabeça a lista das atrizes negras da teledramaturgia pela sua grande relevância nesse quesito. Considerada uma das grandes damas da dramaturgia brasileira é uma referência para artistas negros da televisão. Nascida no subúrbio carioca, a atriz ganhou notoriedade por ser a primeira mulher negra a protagonizar uma telenovela na rede Globo em A Cabana do Pai Tomás (1969). Amante do teatro integrou o grupo de Teatro Experimental do Negro (TEN) que a propósito foi o primeiro a subir no palco do Teatro Municipal. Em 1954 Ruth foi indicada ao prêmio de melhor atriz pelo seu trabalho em Sinhá Moça, a artista faleceu em 2019 aos 98 anos em decorrência de uma pneumonia.
A consagrada atriz é cantora e uma das mais expoentes da cultura afro brasileira. Formada pelo curso de teatro Taboão,a atriz participou de diferentes peças, iniciando profissionalmente a sua carreira de atriz em 1967, estrelando a peça Roda Viva, de Chico Buarque, mas foi em Xica da Silva que a artista se destacou e ganhou a graça do público, Zezé já venceu dez vezes a categoria de melhor atriz.
Produtora teatral, atriz de cinema, teatro e televisão brasileira. Esses eram os dotes da atriz baiana que ficou bastante conhecida por seus trabalhos em telenovelas, destacando-se como uma forte personalidade da representatividade negra na arte do Brasil. Foram mais de 50 personagens com destaque para Sinhá Moça, Renascer e Tenda dos Milagres, a atriz morreu em 2020 devido a um câncer.
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