Lab Dicas Jornalismo Publicidade 728x90
15/05/2022 às 19h08min - Atualizada em 15/05/2022 às 18h28min

Bifobia disfarçada – A invisibilidade dos Bissexuais dentro e fora da comunidade LGBTQUIA+

Apesar das problemáticas existentes que dizem respeito à comunidade LGBTQUIA+ como um todo, hoje, convido aos leitores a refletirem sobre uma letra que é habitualmente associado a indecisão: a letra B, que se refere a bissexualidade

Vitória Barbara - editado por Larissa Nunes
Bandeira Bissexual. (Foto: Reprodução / Pinterest)
Aqueles que sentem atração sexual e emocional por ambos os gêneros são conhecidos como Bissexuais. A bissexualidade é percebida de maneira diferente das outras sexualidades, que por consequência, torna-os invisíveis, inclusive dentro do debate LGBTQUIA+.

A verdade é que, de maneira geral, o termo bissexual é unicamente utilizado para se referir a atração por dois gêneros/sexos, o que gera uma lógica binária. No entanto, há um debate sobre usar o termo “guarda-chuva”, para incluir diferentes formas de viver a atração por mais de um gênero. Porém, ainda não foi estabelecido um consenso, fazendo assim, surgir uma discussão em relação a utilização da palavra “pansexual”. Assunto para outro texto.

A sociedade ainda segue um padrão de monossexismo, na qual se “deve” sentir atração por apenas um gênero (de preferência pelo gênero oposto). Quando ocorre o rompimento dessa estrutura, a pessoa que expressa sua sexualidade diferente do padrão exigido, é atacada e reprimida. 

O fenômeno da bissexualidade invisível


Bandeira Bissexual.

Bandeira Bissexual.

(Foto: Reprodução / Pinterest)


Para aqueles que se declaram como bissexuais, é consensual que a bissexualidade seja algo legítimo e que representa uma atração genuína por um conjunto diverso de indivíduos.

Cada pessoa vivencia sua bissexualidade de uma forma particular. Algumas pessoas têm tendência a se interessar mais por homens, enquanto outras se atraem mais por mulheres, e outros por pessoas não binárias, podendo mudar isso ao longo do tempo ou se manter fixo.

Não há uma régua para medir o nível de atração que os bissexuais sentem. Existem sim, pessoas que interessam igualmente por todos os gêneros, mas não é uma regra que deve ser seguida.

No entanto, ainda hoje é comum que muitas pessoas digam que a bissexualidade é uma derivação ou “mistura” entre hétero e homossexual.

No senso comum, esta orientação é vista como incompleta, uma vez que para heterossexuais a bissexualidade seria um “disfarce para esconder a sua homossexualidade” e para homossexuais significaria “um heterossexual confuso”. Portanto, existiria uma dupla discriminação: por parte das pessoas enquadradas no padrão heterossexual e por parte de quem não se encaixa na matriz.

Os estereótipos sociais negativos que estão em volta dos bissexuais, resultam no desconforto da comunidade em está sempre na posição de questionamento, de análise, de reafirmação constante tanto por pessoas dentro da comunidade LGBTQUIA+, quanto pelo restante da sociedade heteronormativa.

De acordo com o Instituto de Pesquisas Bissexual Resource Center, outros fatores que contribuem com a invisibilidade dos bissexuais, são: rotular um bissexual como gay, lésbica ou heterossexual; determinar a sexualidade da pessoa considerando apenas o sexo do seu companheiro ou companheira; usar uma linguagem não-inclusiva, como casamento gay ou/e casal lésbico, mesmo quando um bissexual compõe o casal.

A bifobia, termo que se refere ao conjunto de atitudes, comportamentos e estruturas negativas a pessoas bissexuais, reflete na saúde mental da comunidade. O apagamento social leva muitas pessoas a não assumirem de fato a sua sexualidade com medo dos comentários alheios, que podem até carregar discursos sexualizados.

As mulheres bissexuais, por exemplo, passam por um processo de fetichização na qual se torna “aceitável” se relacionar com outras mulheres desde que haja um terceiro componente: um homem. Essa bissexualidade "performativa" leva à crença social de que a bissexualidade feminina é “apenas experimental”.

Já em relação aos homens, quando estes reproduzem um comportamento sexual masculino-masculino, ele é automaticamente gay. A crença social popular é que os homens bissexuais são realmente homossexuais, mas tem muito medo de assumir a sua sexualidade por “completo”.

Se pensarmos no ambiente hostil em que envolve a comunidade bissexual, compreenderemos facilmente o motivo da dificuldade em fazer o “coming out” como bissexual, optando assim, em manter a sua sexualidade escondida por medo do estigma e da marginalização social.

A comunidade LGBTQUIA+ não está isenta de praticar bifobia


Pessoas com as bandeiras da Comunidade LGBTQUIA+.

Pessoas com as bandeiras da Comunidade LGBTQUIA+.

(Foto: Reprodução / Pinterest)


Em entrevista para ao Santos e Região G1, em 2018, o estudante de Direito Felipe Etinger, diz que sofria discriminação do próprio movimento, e que em algumas vezes se sentia diminuído por outras pessoas que frequentavam os mesmos ambientes. Ele acredita que isso ocorre porque gays e lésbicas são maioria na comunidade, e defendem uma causa própria, excluindo pessoas que têm outras orientações sexuais que não a deles.

Da mesma forma que Etinger, Jéssica Patrine em entrevista para o G1, diz que a postura da comunidade LGBTQUIA+ em relação aos bissexuais inutiliza a visibilidade e a luta pelos próprios direitos, além de fortalecer a ideia de “promiscuidade” que a sociedade associa a essa sexualidade.

Em algumas ocasiões, a pessoa bissexual é coagida a escolher se relacionar com “um gênero de preferência”, como se isto a tornasse mais ou menos heterossexual ou homossexual. É comum escutar que bissexuais são confusos, estão passando por uma fase de experimentação e, assim, em certo momento “escolherão um lado”.

De acordo com o Carta Capital, o mecanismo que torna invisível uma sexualidade que é completa. A implicação de promiscuidade também funciona dentro da lógica opressora e diz de forma atroz que a pessoa bissexual não manifesta sua sexualidade de forma saudável e “normal”.

Há aqueles que dizem que os bissexuais possuem o dobro de chances de trair alguém quando se está em um relacionamento, seja com alguém do mesmo sexo ou não. Traição não está relacionado a nenhuma orientação sexual, e sim a capacidade de alguém ser fiel ou não ao relacionamento.

A bissexualidade existe


Menina segurando a bandeira Bissexual

Menina segurando a bandeira Bissexual

(Foto: Reprodução / Pinterest)


Não se trata de uma sexualidade de transição, como alguns chamam, mas sim de uma expressão natural de sexualidade humana como qualquer outra. Parece clichê, mas não, bissexuais não são confusos.

Ao contrário do imaginário das pessoas de fora da comunidade, os bissexuais não têm uma zona de conforto na qual eles podem livremente escolher agir enquanto gay/lésbica ou heterossexual, a depender da situação em que se encontra.

Só quando a bissexualidade for validada, poderá ocorrer enfim, abrangência da diversidade em toda a sua complexidade. A luta contra o preconceito sofrido por todos que compõem a sigla deve ser de todos, e é necessária para a conquista da igualdade de direitos do movimento.

Leia sobre os espaços que a comunidade LGBTQUIA+ ocupa, clicando aqui.



 

Link
Tags »
Notícias Relacionadas »
Comentários »