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09/06/2022 às 12h05min - Atualizada em 09/06/2022 às 11h44min

Invisibilidade de moradores de rua em São Paulo

Mortes reascendem debate sobre políticas voltadas às pessoas em situação de vulnerabilidade

Aliny Bueno - Editado por Julia dos Santos
Moradores de rua vivem ao relento das ruas solitárias em São Paulo. (Reprodução: Antônio Gaudério/Folhapress)
Ao caminhar pelas ruas do centro de São Paulo, cenas se repetem a cada esquina. Inviabilizadas pelo descaso público e, muitas vezes, o desprezo da sociedade, pessoas em situação de vulnerabilidade vivem e sobrevivem ao leu em calçadas, debaixo de pontes e viadutos da capital paulista.

Atualmente, a população de rua paulistana guarda marcas muito maiores do que a de se deitar no chão pisado por outros. Isto porque ela enfrenta a violência, humilhação, precariedade, falta de alimentação e higiene, bem como o abandono social. Tratados como indigentes, essas pessoas têm um problema ainda mais grave durante as estações de outono e inverno, visto que precisam encarar as noites frias com temperaturas baixas de um inverno rigoroso, o que eleva o risco de morte nas ruas.

O frio que mata

A princípio, apesar de o inverno ter início no próximo dia 21 de junho, o recente mês de maio bateu recordes de temperaturas baixas na capital paulista. Isto porque, de acordo com dados da Climatempo, algumas madrugadas chegaram a 2º C. Este foi o mês de maio mais frio dos últimos 32 anos em São Paulo. 

Duas pessoas em situação de rua morreram no estado em maio. Isaías Santos, de 66 anos, faleceu após mau-súbito no Centro de Convivência da prefeitura, na zona Leste da cidade. Além dele, Wellington Oliveira, de 39 anos foi encontrado sem vida em Mauá. Curiosamente, o óbito aconteceu em frente a uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA). Ainda sob investigação, as mortes podem ter sido causadas pelo frio intenso. No ano passado, registros do Movimento Estadual da População em Situação de Rua apontaram que entre os meses de janeiro e fevereiro, 13 pessoas morreram em São Paulo em decorrência das baixas temperaturas.

Vidas invisíveis 

Atualmente, a cidade de São Paulo tem mais de 31 mil pessoas vivendo em situação de vulnerabilidade nas ruas. Anteriormente, eram 24.344 sem-teto na cidade, em 2019. Além do mais, de acordo com o último Censo da População em Situação de Rua realizado pela prefeitura durante a pandemia de Covid-19, o aumento na concentração de população nas ruas é reflexo da crise econômica e sanitária.

A crescente tem relação com aspectos enfrentados há décadas, porém com um agravante no período pandêmico. Desta forma, a realidade dos mais vulneráveis se dá devido a fatores como a perda de moradia, o desemprego e o uso de álcool e drogas, bem comoconflitos e violência familiar.

Projeto e iniciativa social mobilizados

Embora existam iniciativas do poder público para auxiliar a população de rua, estas ações ainda não encontraram a raíz do problema para acabar de vez com essa situação cotidiana. Por outro lado, trabalhos voluntários de uma pequena parcela da sociedade têm contribuído significativamente no enfrentamento às dificuldades por estes moradores.

O trabalho da Organização não governamental (ONG) SP Invisível tem encarado essa realidade de uma maneira mais humana. O projeto nasceu em 2014, uma iniciado fotógrafo André Soler e do jornalista Vinicius Lima. À época,  ambos tiveram a ideia de fotografar tudo que era considerado "invisível" na cidade de São Paulo. Então, registros de moradores de ruas chamaram atenção. Desse modo, oito anos depois, além de acolher as pessoas nestas condições, o movimento conscientiza e conta com a participação de pessoas voluntárias para minimizar a realidade tão cruel em que vivem os mais necessitados.

Dentre as ações do SP Invisível, está a distribuição de kits de higiene, roupas e cobertores, além de propostas em datas especiais, como Natal e Páscoa, por exemplo. De acordo com  levantamento feito pelo próprio projeto, mais de dez mil pessoas já foram beneficiadas com o trabalho voluntário. Diante disso, o projeto promove o resgate da dignidade de milhares de pessoas nas ruas da maior cidade do país.

Desde 2016, o SP Invisível sai às ruas nas madrugadas de inverno para entregar kits de moletom, cobertores, meias, luvas e toucas.  A ação já impactou mais de 20 mil vidas. Portanto, atos como este têm tornado mais empático e humana, e menos solitária e árdua a batalha contra as dificuldades enfrentadas por estas pessoas.

 
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