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27/10/2023 às 13h53min - Atualizada em 27/10/2023 às 13h53min

Amazonas decreta estado de emergência por causa do agravamento da seca

Há anos o estado não enfrentava uma crise tão preocupante como nos últimos meses na região norte do Brasil.

Marcos Nascimento - Edição de Nick Santos
Reprodução/Foto:Thiago Oliver
O Amazonas enfrenta uma das piores secas da história. O estado tem 62 cidades, 59 delas já sofrem os efeitos da crise, e estão em emergência. O número atual de pessoas afetadas pela é de 158 mil, segundo boletim divulgado pela Defesa Civil no dia (4) deste mês. Um das principais causas para a seca extrema é o desmatamento e as queimadas ilegais. Uma previsão feita pelo Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais – Cemaden, aponta que a seca deste ano pode bater recorde. A pesquisadora e jornalista especializada em comunicação científica na Amazônia, Mariluz Coelho, ao ser questionada se a crise no Amazonas tem relação com o desmatamento e as queimadas ilegais, respondeu que as queimadas na Amazônia têm impacto direto no clima na região, no Brasil e no planeta como um todo. E acrescentou dizendo: “As interferências humanas que geram alterações nos movimentos naturais do clima, fazem oscilar os volumes de chuva para mais ou para menos, com secas ou cheias. As secas na Amazônia sempre existiram e ocorrem mais intensamente a cada seis anos. Porém, estamos presenciando extremos de secas e enchentes sem precedentes. Isso têm impactado diretamente na vida na Amazônia, tanto na biodiversidade, quanto no viver das pessoas que habitam a região”.

Mariluz fala ainda sobre a importância de preservação da Amazônia: “A Amazônia com a floresta em pé é vital. Essa incrível biodiversidade que existe aqui, a maior do mundo, gera fenômenos como os chamados ‘rios voadores’. A água é transportada em forma de chuva até as grandes cidades do Brasil e da América Sul, que dependem disso para sobreviver. É o caso de São Paulo, que sem a Amazônia seria um grande deserto. Então, as secas mais severas que atingem a Amazônia servem de mais um alerta de uma situação que vem se agravando no mundo todo, frente aos riscos climáticos. E a biodiversidade da Amazônia é uma defesa natural contra o aquecimento global devido a sua habilidade de mitigar e se adaptar às mudanças climáticas”.

Outras secas no Amazonas
Há registros de que o Amazonas já passou por crises parecidas, a pesquisadora comentou sobre o porquê das secas serem recorrentes. “As secas na Amazônia são cíclicas e uma grande seca ocorre normalmente a cada seis anos. Nasci e cresci na região e presenciei isso. Porém, os estudos científicos apontam algo que transpõe o que costumamos chamar de fenômeno natural. A ciência comprova que existe uma interferência humana nesse processo dito natural e hoje afirmamos que nada é mais natural. Temos atualmente fenômenos mistos, que vêm da natureza, mas, que ao mesmo tempo, são agravados por consequência dessas interferências que provocam o aquecimento do planeta. A degradação das florestas é um exemplo”, explicou. Mariluz diz que se sente triste e preocupada com a situação atual de seu estado, e que a Amazônia não é um grande vazio. “Temos mais de 28 milhões de pessoas morando na Amazônia Legal, que é a parte localizada no Brasil. Isso representa cerca de 13% da população brasileira segundo o IBGE. Existem consequências sérias para o povo que vive aqui, que perde sua fonte de sobrevivência, como a pesca, a agricultura e o bem viver que a Amazônia oferece. Essas pessoas já enfrentam as mazelas sociais pela falta de acesso aos serviços básicos de saúde, educação, saneamento, transporte e outras necessidades. Com as secas e enchentes tudo fica mais grave”, disse.  
 
Pior seca no Rio Negro
Em setembro a prefeitura de Manaus decretou emergência quando a cota do Rio Negro chegou em 12,89m, a menor registrada desde quando começaram as medições do volume do Rio. A seca que vem atingindo o estado está tão severa que artes rupestres em rochas de Manaus foram reveladas, cientistas estimam que as pinturas foram feitas há cerca de 2.000 anos. A seca já era esperada, segundo alguns especialistas. Pois com os problemas naturais e com a ação do homem recorrentes que vinham acontecendo já era de se esperar fortes consequências. O geógrafo da Universidade Federal do Rio de Janeiro, William Passos em uma entrevista ao Correio Braziliense explicou um dos possíveis motivos para essa seca que vem atingindo a região Norte do brasil. “Agosto, setembro e outubro são meses tradicionalmente secos. Isso é explicado pelo chamado 'verão amazônico', uma época do ano bastante peculiar na Região Norte do Brasil, principalmente na área onde está localizada a Floresta Amazônica”, afirmou.  

William acrescentou dizendo. “O ‘verão amazônico’ vem sendo acompanhado pela combinação entre temperaturas anormalmente altas das águas do Atlântico Norte e a ocorrência do fenômeno El Niño. Com isso, a estiagem se estabeleceu muito mais rapidamente e a seca está muito mais grave que o normal”, comenta. Com essa seca extremamente preocupante, cientistas estão em alerta com as vidas dos animais da região. Em uma declaração feita por WWF-Brasil na última terça-feira (24), a analista de Conservação do WWF-Brasil e coordenadora do iniciativa Sul-Americana dos Golfinhos Fluviais - (SARDI), Mariana Paschoalini Frias, disse: “Na Amazônia, estamos registrando uma seca histórica, com incêndios florestais e altas temperaturas, causada pelo aumento do desmatamento e intensificada pelo fenômeno El Niño. As consequências dessa seca são graves para as populações locais e para a biodiversidade, e já registramos a morte de pelo menos 150 botos na região”.
 A coordenadora complementa dizendo que medidas precisam ser tomadas urgente, pois o bioma Amazônico é chave para a dinâmica climática em todo o mundo.
 
Ministra do Meio Ambiente Marina Silva também se pronunciou sobre a seca no Amazonas

Durante o 7° Fórum Nacional de Controle realizado no Tribunal de Contas da União no início do mês, a ministra do Meio Ambiente se pronunciou: “Conseguimos uma redução do desmatamento de 48%. E provavelmente, neste mês de setembro, vai aumentar um pouquinho de 48% para 50%. No estado do Amazonas a redução foi de 64%. E mesmo assim, nós temos que quebrar a inércia dos resultados já alcançados”, falou. Marina ainda acrescentou: “Todo um sistema colapsado pelo cruzamento de dois fenômenos: o El Niño, um fenômeno natural, e o aquecimento das águas do Atlântico Norte em função da mudança do clima. Esse ano começamos o ano com chuvas torrenciais na Amazônia, e secas no sul do país. Nós estamos encerrando o mesmo ano, com chuvas torrenciais onde tinha seca e insuportável onde tivemos enchentes. Isso são os eventos extremos”.
 
O que é o fenômeno El Niño?

O fenômeno é conhecido como El Niño Oscilação-Sul, ele é caracterizado por ser um fenômeno fora do normal, no qual as águas do Oceano Pacífico Tropical de tempos em tempos se aquecem anormalmente por causa dos ventos alísios. O nome “El Niño” vem do espanhol e significa “O menino”, isso porque o fenômeno costuma acontecer sempre quando está próximo ao Natal. Questionada sobre se a seca no Amazonas tem ligação direta com esse fenômeno, Mariluz Coelho destacou que desde o início deste ano os pesquisadores já tinham um alerta de aumento de temperaturas a partir da interferência do El Niño: “Estamos vendo isso ocorrer agora e deve seguir até 2024. Mas, é importante perceber que esses fenômenos que alteram o clima são cíclicos, porém, ocorrem em cenários diferentes a cada ano. Quer dizer, com o aquecimento global, o movimento é cumulativo e fenômenos como o El Niño provocam eventos mais graves como os incêndios e as secas. Sim, temos interferência do El Niño nesse processo de seca na Amazônia. Mas, não é só isso. Temos um clima mexido decorrente das interferências humanas no meio ambiente. Não podemos mais tapar o sol com a peneira e fazer de conta que nada está acontecendo”, completou. Para tentar barrar os efeitos climáticos, temos que começar de já a cuidar melhor do nosso planeta, caso não tomarmos uma providência agora, acontecimentos como essa seca no Amazonas e as inundações no Sul do país irão se tornar mais frequentes em todo o mundo.
 
Referencias:
COSTA, A. D. Seca no Rio Negro revela arte rupestre de 2000 anos em rochas de Manaus. Disponível em: . Acesso em: 27 out. 2023.
 
Declaração histórica traz esperança para os botos ameaçados de extinção no mundo. Disponível em: . Acesso em: 27 out. 2023.
 
FREGONASSE, ’HENRIQUE; DANTAS’, M. Seca na Amazônia é potencializada por fenômenos climáticos, dizem especialistas. Disponível em: . Acesso em: 27 out. 2023.
 
MATÉRIA, T. El Niño: características desse fenômeno da natureza. Disponível em: . Acesso em: 27 out. 2023.
 
Política. Disponível em: . Acesso em: 27 out. 2023.
 
Disponível em: . Acesso em: 27 out. 2023.
 

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