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07/10/2023 às 13h08min - Atualizada em 07/10/2023 às 13h01min

Popularização do home office durante a pandemia traz novos desafios para o trabalhador

Confira as vantagens e desvantagens da modalidade e saiba como ela impacta seu emprego, sua saúde mental e sua vida

Ana Gabriela Freire - Editada Por Nick Santos
Reprodução/Janeb

Quando a pandemia do Covid-19 obrigou o mundo a elaborar formas de se adaptar ao isolamento para manter a própria segurança, a pedagoga e produtora cultural carioca Beatriz Batistela ainda estudante universitária. Atualmente trabalhando na startup U4Hero!, que une tecnologia e educação, a jovem se tornou uma dos 6,5 milhões de brasileiros que passaram a atuar no modelo de trabalho remoto, o chamado home office. As informações são do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), atualizado em dezembro de 2023. Segundo levantamento feito pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) em março, o auge do home office foi durante a pandemia, quando, em 2021, 57,5% das empresas chegaram a adotar o modelo. Já em 2022, o percentual caiu para 32,7%. Ainda de acordo com a pesquisa, o número de trabalhadores em home office foi de 55,5% para 34,1% entre os dois anos. A queda, ocasionada pelo menor número de restrições com a aproximação do fim da emergência sanitária, não corresponde às pretensões dos trabalhadores: outro estudo, realizado pelo Infojobs em parceria com o grupo Top RH, apontou que, em 2023, 85% dos trabalhadores trocariam de emprego por mais dias de home office.
 

Para Beatriz, que atuou como auxiliar de educação infantil numa escola privada em 2021, o trabalho presencial se mostrou difícil durante a pandemia: “Passava cerca de 11 horas por dia, de segunda a sexta, envolvida nessa função, seja planejando, me locomovendo ou estando de fato na escola. Fiquei somente 2 meses no local porque não aguentei.”, conta. A pedagoga passou a focar no voluntariado do Sistema Socioeducativo do Rio de Janeiro e em 2023 ingressou na startup U4Hero!, trabalhando de forma remota. Ela avalia que o trabalho em home office é mais prático: “Você consegue deitar na sua cama no horário do almoço, acordar em um horário razoável se há uma reunião muito cedo”. No entanto, as desvantagens desse modo de trabalho não passam despercebidas por Beatriz, que acredita que para evitar o stress é necessário planejar bem o tempo: “Se há uma boa organização sobre o tempo online e o tempo off-line as coisas ficam mais fáceis. Caso contrário você irá viver o trabalho 24 horas por dia, porque a sua casa e o seu computador pessoal viram seu ambiente de trabalho. Além disso, é importante designar momentos para dar uma volta, de preferência com o celular em modo avião”, recomenda. A questão da saúde mental influenciou na decisão de Beatriz em escolher o home office. “ Tanto física quanto mentalmente eu já estava adoecendo, principalmente por conta da violência urbana, mobilidade, calor, chuva e alagamento e todas essas questões que envolvem o Rio de Janeiro e a vida urbana.”, explica. O transporte público foi outro fator decisivo, pois, para chegar ao trabalho a pedagoga chegava a passar horas no ônibus: “Moro na Zona Oeste do Rio de Janeiro e meu trabalho se concentrava no Centro e na Zona Norte. Ficava cerca de 4 horas no transporte público. Além disso, algumas linhas de ônibus que eu usava eram muito inseguras. Mas até mesmo quando eu morava próximo do trabalho, em 2021, eu fazia um trajeto que seria de 20 minutos de carro e sem trânsito, em 2 horas de ônibus.”, detalha. Mesmo com todos esses obstáculos, Beatriz conta que existe a possibilidade de voltar ao trabalho presencial no futuro. Atuando diretamente com a educação de uma parcela marginalizada da sociedade, ela acredita que “tem coisas que só o trabalho corpo a corpo pode dar conta”. “Cheguei em um nível de esgotamento no trabalho social que mobilizo e depois de quase dois anos trabalhando ininterruptamente tive que pedir um recesso. (...) Minha sorte é que tenho pessoas maravilhosas que caminham comigo e que continuam fazendo o trabalho viver”, finaliza.

 

Psicóloga e orientadora de carreira, Juliana Fialho afirma que o home office foi uma solução que surgiu para o isolamento daCOVID-19, com algumas empresas mantendo o formato remoto mesmo após o fim da emergência global. Ela também acredita que as mudanças ocasionadas por essa modalidade tem pontos positivos: “Podemos perceber em resumo que existem sim pontos positivos, como a diminuição  de gastos com energia, água e outros insumos, temos ainda economia no tempo e na gasolina para o deslocamento”, detalha. Juliana também ressalta os pontos negativos e riscos do trabalho remoto para a saúde mental: “Entretanto, temos também  seus pontos negativos, como confluência entre a vida pessoal e profissional no sentido de que fica mais difícil conseguir separar as responsabilidades  domésticas e de trabalho, o que  pode gerar maior desgaste não só físico mas também mental, aumento do estresse, sensação solidão por ter que trabalhar mais sem uma equipe presencialmente, afinal a pandemia passou, os filhos já voltaram às aulas, nem todo mundo fica no home- office, então para quem  está  de casa pode ser mais solitário, isso reforça  também a ideia de que falta de interação social pode gerar dificuldades em separar o tempo para si e para o trabalho. Temos ainda várias pesquisas que comprovam os déficits não só na saúde física como mental, estando ligadas não só a este formato de trabalho, como também as consequências mundiais da pandemia no emocional, social e também nos negócios, sem falar nas enormes mudanças ocorridas devido aos avanços tecnológicos existentes. Estes três fatores juntos impactam significativamente a saúde geral da população". Mesmo com esses obstáculos, na visão da orientadora de carreira, a popularização do home office influenciará o futuro do mercado de trabalho tradicional: “Mesmo tendo estes déficits e impactos na saúde mental, não podemos negar que há ganhos neste modelo de trabalho o que cabe pensar em soluções e ajustes a serem feitos para equilibrar tudo isso”. Juliana ainda avalia que modelos alternativos seguirão aumentando nos próximos anos: “O que notamos atualmente é justamente uma maior adesão ao modelo híbrido, onde os colocadores alternam entre dias de trabalho de casa e outros presencialmente na empresa, o que revela que seja difícil voltarmos aos modelos antigos de trabalho.” 


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