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13/06/2022 às 17h08min - Atualizada em 13/06/2022 às 16h31min

Pantanal: Novela aborda libertação de relacionamento abusivo

A história da personagem ‘Maria Bruaca’ chama a atenção por retratar a realidade de muitas mulheres.

Giuliane Fagundes - Revisado por Flavia Sousa
Maria é interpretada pela atriz Isabel Teixeira. (Foto: Divulgação/Rede Globo/João Miguel Júnior)

O remake de Pantanal, baseado na história original exibida em 1990, cativou o público desde o primeiro capítulo exibido, conquistando telespectadores de diversas faixas etárias, inclusive os jovens, que não tiveram a oportunidade de assistir à novela exibida há trinta anos. A receita do sucesso está no seguimento de uma trama bem construída, mas principalmente, em alguns personagens que se destacam por suas histórias e desfechos. Nas últimas semanas, as redes sociais foram invadidas por comentários sobre a personagem Maria Bruaca, que decide mudar suas atitudes, após descobrir as traições do marido. 

A nova versão de pantanal, escrita por Bruno Luperi, neto de Benedito Ruy Barbosa, segue com afinco a história original criada pelo avô, mantendo os personagens, no entanto, é possível notar as mudanças em relação a falas e alguns contextos nos quais os personagens estão inseridos. Trinta anos após a exibição na TV Manchete, o Brasil não é o mesmo país e a sociedade passou por diversas transformações, portanto, a trama de Luperi se adaptou e aborda temas discutidos com frequência pela sociedade, como o machismo, homofobia, abandono e as relações abusivas entre alguns personagens. 

A história a ser abordada é a da personagem secundária, Maria Bruaca (Isabel Teixeira), que isolada em uma fazenda no pantanal, vive para satisfazer os desejos e necessidades do marido, Tenório (Murilo Benício), um homem insensível que não mede esforços para alcançar seus objetivos. Maria serve e tenta agradar o marido de todas as formas possíveis e espera ansiosamente sua chegada em casa das longas viagens sem explicação, já que em seu pensamento, atitudes como estas são necessárias para manter um casamento e tornam-se obrigações de uma esposa. Ela é silenciada, sua voz e suas opiniões não importam, já que o seu único papel na casa e em seu casamento, é o de servir e aceitar todas as situações que ocorrem, mesmo que não concorde, sendo tratada com descaso por Tenório, como um objeto, que não tem emoções, sentimentos, opiniões, desejos, acatando as suas ordens e guardando as mágoas para si. 

A chegada da filha Guta (Julia Dalavia), que antes morava em São Paulo, choca e abala as crenças e os pensamentos de Maria, já que a filha, tem pensamentos desconstruídos e opiniões diferentes dos pais. Revoltada com a situação e a maneira com que a mãe é tratada pelo pai, ela não se detém de falar o que pensa sobre a situação, principalmente em como a mãe é chamada, ‘Bruaca’, termo que segundo o dicionário, refere-se a uma mulher velha, feia e descuidada. Guta tenta fazer com que a mãe perceba a relação abusiva na qual está, em busca de que ela finalmente enxergue com clareza o descaso, a infelicidade e o desprezo que sofre há anos, no entanto, há uma cobrança um pouco agressiva da filha em querer que a mãe entenda rapidamente o progresso da sociedade e a importância de discutir diversos assuntos, esquecendo a alienação em que a mulher vive há trinta anos, sem acesso às notícias, sem interações além do marido, isolada em uma vida que parou no tempo. 


Leia mais em: Nova versão de "Pantanal" e as mudanças comparadas com a versão original

Certo dia, ao ouvir o marido falar em uma mulher chamada Zuleica, Maria desconfia de uma possível traição,Tenório nega, porém, atordoada, Maria não esquece o nome da mulher, até que escondida, ouve uma conversa tensa entre Guta e Tenório. Os dois comentam sobre a família e os três filhos que ele mantém em São Paulo, sendo um dos filhos, mais velho que Guta, que acreditava ser a primogênita e sabia das traições há algum tempo, mas nunca contou à mãe, por medo de seu sofrimento, tornando-se cúmplice das mentiras. A traição ocorre há anos, com o homem se dividindo entre duas famílias, onde Zuleica, tinha conhecimento que Tenório era casado. 

Em choque pela descoberta, Maria confronta o marido, que confessa as traições, os filhos e a vida dupla, sem demonstrar culpa ou remorso, acreditando que suas ações têm fundamento e ser traída ‘É a sina de toda a mulher’. 

Em busca da liberdade

Revoltada com a situação, Maria decide mudar a forma como age e encara a vida, deixando de realizar tarefas domésticas, falando o que pensa e colocando-se como prioridade. Em uma cena no barco, a atriz Isabel Teixeira soube captar a liberdade, mesmo que em uma pequena atitude, de uma mulher que nunca saiu de casa em trinta anos, que jamais conheceu o rio ou andou a cavalo, pois estava vivendo uma vida em razão do outro e não para si. Irritado com as ações contrariadas e a revolta da mulher contra si, Tenório a confronta tentando intimidá-la a chamando de ‘Bruaca’, mas falha, pois Maria o enfrenta despejando todas as angústias e revoltas após trinta anos de silêncio e opressão. Sentindo-se derrotado pela revelação de seus segredos e os constantes confrontos, ele contrata uma empregada para fazer os serviços da casa, sendo obrigado a encarar o descaso e desafeto da esposa.  




Maria aproxima-se de Alcides (Juliano Cazarré) e Levi (Leandro Lima), peões da fazenda, que a tratam com elogios, fazendo com que se sinta atraída por eles e pelas novas sensações que vem presenciando. Ela sente-se desejada pelos dois homens, sentimento este que há muito tempo não ocorria, decidindo trair Tenório pela primeira vez com Levi. Desconfiado de uma possível traição, o marido a confronta e ela questiona o motivo pelo qual não poderia também enganá-lo, já que durante todos os anos juntos, ele a enganou, Tenório responde que por ser mulher, ela nunca poderia traí-lo. Homens como Tenório acreditam que há sempre uma justificativa em torno de suas ações, a liberdade de agirem e fazerem o que quiserem sem culpa, na normalidade de uma traição e a manutenção de uma vida dupla, porém, se uma mulher agir da mesma forma, todas as ações dela se tornarão um crime para eles e para a sociedade. Muitos encaram como errada a forma de Maria lidar com a situação, o traindo, pois, acreditam que a solução mais fácil é o pedido de divórcio e a fuga do relacionamento, porém, apesar das mudanças em suas atitudes, assim como muitas mulheres, Maria ainda vive em uma dependência financeira e emocional de Tenório, acreditando ser impossível deixá-lo já que não teria condições em se manter. 

Infelizmente, a história de Maria é refletida na sociedade, sendo esta, a realidade de muitas mulheres que vivem uma vida ditada por seus parceiros amorosos, que as consideram como objetos que atendam suas necessidades, impõem regras, as excluem do círculo social, as tratam com indiferença, ignorância, desafeto e ignoram seus desejos. A percepção de que estão em um relacionamento abusivo, na maioria das vezes, acontece tardiamente ou talvez, nunca ocorra, já que, mesmo com a existência da facilidade no acesso à informação e a abertura de conversas sobre assuntos que há trinta anos sequer pensavam ser discutidos, a sociedade ainda é machista, o que faz com que muitas dessas mulheres acreditem que o relacionamento opressivo e as atitudes agressivas de seus parceiros são consideradas como uma forma de amor. É exatamente por isso que a história de Maria contada em Pantanal é tão importante e necessária, pois através da ficção, ela é capaz de atingir e fazer com que mulheres que estão vivendo a mesma situação, finalmente percebam e tentem se libertar do relacionamento abusivo no qual estão inseridas.


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