“Política não se discute”. Essa é uma frase que parece inocente, mas pode ser muito perigosa. Isso porque uma das coisas mais importantes na vida de qualquer cidadão é a política. Política é democracia, é liberdade, é participação na sociedade, é o seu futuro. Toda nossa vida gira em torno de política, mas por que então isso ainda é um tabu na sociedade e as pessoas ainda não gostam de falar sobre ela?
A resposta para essa pergunta é simples: não somos ensinados a falar sobre política. Na verdade, temos até medo de falar. Essa questão está enraizada na cultura da sociedade como quase um tema proibido de se conversar. Essa situação está ligada diretamente com a falta de uma cultura de educação política na sociedade. Nas escolas não se fala sobre política e isso faz com que se formem cidadãos completamente despreparados para decidir o futuro do país.
No entanto, a política é uma das partes mais importantes da vida de um cidadão. Discutir ideias, refletir argumentos, defender a sua opinião e ouvir a do outro fazem parte de uma democracia. A política é um instrumento para você exercer sua cidadania e um assunto muito importante que deveria ser mais valorizado e ensinado nas escolas para as pessoas já crescerem com um pensamento crítico e preparadas para falar sobre o assunto e entender como isso impacta diretamente nossa qualidade de vida.
Porém, é inegável que uma das coisas mais difíceis de se fazer é aceitar um ponto de vista diferente do seu. Por isso, quando o assunto surge na mesa, é mais fácil dizer que política não deve ser discutida e algumas pessoas preferem evitar. Porém, não há como fugir ou querer se isentar da política. Mesmo que você evite falar sobre, a política está presente em todas as situações do nosso cotidiano e afeta nossas vidas. O perigo de não se discutir política é que, assim, as pessoas negligenciam esse assunto e pensam que ele não é importante, o que nos faz deixar o país nas mãos de pessoas incapazes de governá-lo da maneira certa.
Essa situação é um reflexo do ensino básico precário de educação política no nosso país. Ademar Ferreira Martins, cientista político com especialização em jornalismo científico e assessor parlamentar na câmara dos deputados lamenta a falta de educação básica, o debate raso, a desvalorização de disciplinas humanitárias, bem como uma crise de pertencimento do brasileiro em entrevista para o Jornal Daqui BH.
“Tudo é política. A negação da política também é política. Não votar ou não participar do processo eleitoral são atos políticos. A vida em sociedade pressupõe o convívio coletivo. Todos participamos da vida em sociedade. Logo, a atividade de existir, vestir roupa, pagar contas, trabalhar e estudar são atos políticos”, disse Martins.
Desse modo, em um cenário em que as ciências humanas vem sendo cada vez mais desvalorizada em comparação às exatas, por conta da falta de incentivo das próprias instituições de ensino e do governo, a falta de debates e reflexões críticas a cerca de temas que concernem a população em geral é preocupante.
Paralelamente, é imprescindível dizer ainda que debater política não tem haver com brigas e discussões. É preciso saber que discutir ou debater não significa brigar, mas dialogar. Um debate tem apresentações de seus pontos de vista e os argumentos para sustentá-lo, sem ofender a outra pessoa ou suas ideologias, porque, se isto acontece, qualquer debate perde sua razão de ser e se transforma meramente em uma troca de ofensas que não levará a lugar nenhum, como tem se mostrado nos últimos anos e, se não tomarmos cuidado, essas brigas se tornam cada vez mais violentas.
“Seria uma atitude ingênua esperar que as classes dominantes desenvolvessem uma forma de educação que proporcionasse às classes dominadas perceber as injustiças sociais de maneira crítica” – Paulo Freire.
Cultura política
Para reverter essa situação de descaso, é preciso que as pessoas compreendam mais sobre a cultura política do Brasil.
Primeiramente, é importante entender que a cultura é construída socialmente, ou seja, ela é transmitida através do convívio social. É algo aprendido pelo indivíduo no decorrer de sua vida, por meio de costumes, valores e da cultura oral. Além de que ela não é estática, o que significa que, com o passar dos anos, uma sociedade pode ter sua cultura completamente transformada. Assim, ao mesmo tempo que as pessoas assimilam a cultura da sociedade em que vivem, também podem modificá-la.
A cultura política pode ser dividida em três componentes que, a partir dessas dimensões, podemos começar a pensar em alguns indicativos da cultura política de um país. São eles:
Segundo uma pesquisa do Democracy Index, publicado pela Unidade de Inteligência do The Economist em 2015, a cultura política do brasileiro, de acordo com os dados apresentados, é pouco democrática, pouco participativa, laica, descrente dos políticos e da política e dividida ideologicamente. E essa é a nossa cultura ainda hoje, na prática. Com isso, é possível realizar uma reflexão e nos perguntarmos se essa é a cultura ideal que queremos ter.
O importante a se discutir é que é extremamente necessário melhorar a cultura política do nosso país e o entendimento dela. Para isso, é preciso formar cidadãos mais engajados com a política e que saibam discuti-la.
Outro ponto importante da educação política é aprender a respeitar a pluralidade de pensamentos e opiniões. Todo mundo tem direito de expressar a sua opinião, mesmo que o outro não concorde.E podemos e devemos expor os argumentos favoráveis e ouvir os contrários, sem terminar em discussão, briga ou ofensas.
Assim, a educação política vai contribuir com uma sociedade mais democrática, com mais conhecimento e maior participação popular. Esse caminho é longo, mas necessário. E no fim será compensador, porque também valorizaremos o nosso voto, que é o principal poder de transformação de uma sociedade.
Portanto, política se discute sim e discutir política de forma saudável, civilizada e respeitosa é essencial para toda a população e pode trazer muitos ganhos para a nossa geração e para as próximas, em termos de país, de democracia e de futuro.
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