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28/03/2023 às 16h40min - Atualizada em 28/03/2023 às 16h33min

Bancos de leite humano contribuem para a diminuição do desmame precoce.

Por Laira Souza - Editada por Uilson Campos
istockphoto.com

 

Para muitas pessoas, amamentar é instintivo, é automático, porque muitos bebês já mamam na primeira hora de vida. Contudo, a amamentação pode ser um desafio para muitas mães. Um estudo realizado em 2020 pelo Ministério da Saúde mostrou que os índices de aleitamento materno no Brasil estão aumentando, já que 53% das crianças brasileiras continuam sendo amamentadas no primeiro ano de vida, sendo que 45,7% delas são menores de 6 meses. Apesar da melhora, quase metade das mais de 14 mil crianças acompanhadas nesta pesquisa não recebem amamentação exclusiva, o que ainda pode ser considerado um dado alarmante.

O leite materno é o alimento mais completo da alimentação, porque possui todos os nutrientes que o bebê precisa para se desenvolver de forma saudável até os 6 meses de vida, período em que a amamentação exclusiva é recomendada. Além disso, fornece anticorpos necessários para o fortalecimento do sistema imunológico dos recém-nascidos. O leite materno muda sua composição a cada mamada, através de componentes da saliva do bebê em contato com o seio da mãe, o corpo é capaz de produzir os nutrientes que o bebê esteja mais precisando naquele momento. Após os 6 primeiros meses, acontece a introdução de outros alimentos, porém a orientação é que o bebê continue mamando no peito até os dois anos ou mais. Segundo o Ministério da Saúde, crianças amamentadas têm menos alergias, infecções, diarreias, doenças respiratórias e otites, além de menores chances de desenvolver obesidades e diabetes tipo 2; assim como possuem melhor desempenho em testes de inteligência e se transformam em adultos mais saudáveis e produtivos.

Mesmo com tantas vantagens, a amamentação exclusiva nem sempre pode ser realizada, ocasionando o desmame precoce. No artigo “Fatores que influenciam o desmame precoce”, feito pela Universidade Federal do Espírito Santo, os autores citam a prematuridade, seguida de internação de bebês como uma das causas. Nessas situações a mãe pode também estar hospitalizada, impedindo a ordenha do próprio leite para ser ofertado ao bebê. A estratégia Banco de Leite Humano, do Ministério da Saúde, visa oferecer orientação e apoio à amamentação, além de coletar, processar, armazenar e distribuir leite humano a bebês prematuros e de baixo peso. Atualmente são 222 Bancos de Leite Humano no país e toda mulher que estiver amamentando pode ser doadora, basta ser saudável e não tomar medicamentos que interfiram na amamentação.

De acordo com o Ministério da Saúde, qualquer quantidade de leite materno doado pode ajudar os bebês internados, que, em média, podem precisar de apenas 1ml a cada refeição. O leite materno doado passa por um processo rigoroso que envolve análise, pasteurização e controle de qualidade antes de ser distribuído. A maioria dos Bancos de Leite Humano busca as doações de leite na casa das doadoras e o processo de coleta e doação exige alguns cuidados. Após a ordenha, o leite materno deve ser armazenado em frascos de vidro de boca larga e tampa de plástico previamente higienizados com água e sabão e depois fervidos por 15 minutos, contando o tempo a partir do início da fervura. É importante realizar a higienização da mama com água e lavar as mãos com água e sabão, além de utilizar máscara sobre o nariz e a boca para evitar que gotículas de saliva caiam no leite doado.

O Banco de Leite Humano da Maternidade Odete Valadares, em Belo Horizonte, tem 35 anos de atuação e é referência em Minas Gerais. Além de já ter fornecido quase 130 mil litros de leite a bebês prematuros ao longo dos anos, também oferece consultoria gratuita diariamente para mães com dificuldade para amamentar. O atendimento é feito de forma acolhedora, através da equipe de enfermagem que oferece orientações em relação ao posicionamento correto do bebê durante as mamadas, cuidados com as mamas e informações teóricas sobre o processo de amamentação.

Ainda segundo o artigo “Fatores que influenciam o desmame precoce”, causas relacionadas à mãe interferem na amamentação, como: a necessidade de voltar ao trabalho antes dos 6 meses de vida do bebê, baixo nível de escolaridade, renda familiar baixa, baixa idade materna (nos casos de gravidez na adolescência), não morar com o companheiro ou o pai do bebê e dificuldades para amamentar.

 Paula Philipson, farmacêutica bioquímica e consultora de amamentação explica que a origem da ideia de que amamentar é instintivo vem dos nossos antepassados, quando não existiam recursos da ciência, nem hospitais. Com a evolução da sociedade, fomos nos adaptando e “perdendo” esses instintos, necessitando cada vez mais de aprimoramento do que o corpo humano fazia antes de forma natural. Por isso, dificuldades com posicionamento do bebê durante as mamadas, dificuldades do próprio bebê em “saber o que fazer ao sugar” e problemas relacionados à própria mama, como infecção pelo fungo cândida, entupimento dos ductos mamários e feridas nos mamilos podem ser determinantes para o desmame precoce.

A Consultora Paula Philipson conta que, essa cultura do desmame precoce acompanha várias gerações de mulheres, o que influencia no sucesso da amamentação, uma vez que mitos vão sendo passados de mães para as filhas, como o leite ser fraco e não sustentar o bebê, por isso o choro ser frequente.  Além disso, a preocupação estética em relação à queda das mamas de quem amamenta, sendo esse um processo natural que acontecerá mesmo com as que não amamentarem. Tudo isso aliado à indústria das fórmulas que substituem o leite materno, que investiram pesado no marketing, apostando na facilidade de ter o leite pronto e de fácil armazenamento. Ela também deixa claro a importância da informação como forma de combater o desmame precoce, já que a mãe estará mais bem preparada para buscar ajuda em casos de dificuldade para amamentar.

Como a amamentação exclusiva até os 6 meses de idade reduz os gastos públicos com a saúde, é necessário que haja campanhas permanentes para incentivar mães a amamentarem, além de investimento em cursos gratuitos como parte do pré-natal, a fim de contemplar as mães de baixa renda. Dessa forma, vários mitos serão extintos com o passar dos anos e a amamentação será cada vez mais fortalecida.

 

 

 

 

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