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11/06/2023 às 17h37min - Atualizada em 11/06/2023 às 17h34min

A nova era dos 60+ refletida na mudança das placas que indicam locais preferenciais.

Laira Souza - labdicasjornalismo.com
Com o envelhecimento da população e o aumento da expectativa de vida, tornou-se evidente a necessidade de adaptar ambientes e serviços para atender às necessidades dos idosos. No Brasil, por exemplo, a Lei Federal nº 10.741, também conhecida como Estatuto do Idoso, foi promulgada em 2003. Essa lei estabelece direitos e garantias para as pessoas com idade igual ou superior a 60 anos, incluindo medidas relacionadas à acessibilidade, como adaptação de edifícios públicos, transporte adequado, sinalização adequada e acesso a bens e serviços.
É importante ressaltar que, além de leis específicas, muitos países também adotam normas e diretrizes de acessibilidade em suas políticas de urbanismo, construção e transporte. Essas medidas visam garantir que espaços públicos, prédios, transporte e serviços sejam projetados e adaptados para atender às necessidades de todas as pessoas, incluindo os idosos.

Recentemente, houve uma mudança significativa no pictograma utilizado para representar os idosos em placas e símbolos. Essa alteração foi motivada pelo desejo de transmitir uma imagem mais inclusiva, realista e respeitosa da população idosa.

O pictograma tradicional, que mostrava um idoso curvado com uma bengala, era considerado estereotipado e simplista, não refletindo adequadamente a diversidade e a vitalidade dos idosos. Em muitos casos, a representação anterior reforçava estigmas negativos associados ao envelhecimento, como fragilidade e dependência.
Com base nessa percepção, muitas organizações e governos em todo o mundo optaram por atualizar o pictograma do idoso para transmitir uma imagem mais positiva e precisa. A nova representação retrata um idoso em uma postura mais ereta, ativa e engajada, simbolizando independência, vitalidade e energia.
Além disso, o novo pictograma mostra o idoso em movimento, procurando mostrar idosos envolvidos em atividades como caminhar, correr, praticar esportes ou se envolver em hobbies. Essa representação destaca que os idosos podem continuar sendo ativos e participantes em suas comunidades. Percebe-se também, a ausência de elementos estigmatizantes, já que os pictogramas atualizados evitam elementos, como bengalas ou muletas, que possam reforçar estereótipos negativos sobre a fragilidade dos idosos. Em vez disso, eles enfatizam a vitalidade e a diversidade de experiências.

Além disso, a mudança no pictograma busca incluir a diversidade de idosos, considerando diferentes etnias, culturas e gêneros. Isso reflete a realidade da população idosa, que é composta por indivíduos com uma ampla gama de características e origens.

A Dra. Valmari Cristina Aranha, secretária adjunta da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia aborda o assunto na entrevista a seguir:
  • Qual é a importância da representação adequada e positiva dos idosos nos pictogramas das placas?
“Essa mudança vai além da simbologia nas placas, ela impacta em como a sociedade vê o envelhecimento de forma geral, trazendo uma representação mais real, saindo da ideia de um idoso frágil e caminhando para a representação de um idoso que embora tenha alguma limitação, também seja atuante na sociedade.”
  • Como a mudança no pictograma do idoso nas placas pode influenciar a percepção da sociedade em relação ao envelhecimento?
“Influencia na forma como a sociedade lida com esses novos idosos, que se fazem ouvir, se posicionam, reivindicam seus direitos, tanto, que muitos idosos não se sentiam representados pelo estereótipo antigo que as placas traziam. Por isso, as pessoas terão um novo olhar para o envelhecimento, vendo-o como algo promissor e não um ponto final.”
  • Quais são os principais estigmas associados aos idosos que a nova representação do pictograma busca combater?
“Ao mesmo tempo em que temos mais idosos ativos, ocupando mais espaços na sociedade, atuantes no mercado de trabalho, mesmo após se aposentarem, ainda temos muitas pessoas que não tem contato com uma alta diversidade de idosos, por que muitas vezes as pessoas só tem contato com idosos do seu núcleo familiar, gerando o etarismo, onde o envelhecimento fica marcado pela fragilidade e limitações. Por isso, ao tentar mudar a imagem que o envelhecimento transmitia, há grandes chances de diminuição do preconceito com a pessoa idosa.”
  • Quais são os benefícios de uma representação mais precisa e diversificada dos idosos nas placas em termos de inclusão e aceitação social?
“Abre espaço para a diversidade, por que estamos falando de envelhecimento saudável, onde há pessoas diferentes, envelhecendo de formas diferentes, fazendo com que até o próprio idoso queira transformar o ambiente em que está inserido, já que o trabalho para diminuir o etarismo deve ser de todos, incluindo os próprios idosos. Todos vamos envelhecer, por isso, se o adolescente, jovem ou adulto tiver uma visão diferente do envelhecimento, sem medo e com olhar positivo, construirá uma história de vida preparada para envelhecer de forma saudável.
  • Quais são os desafios práticos associados à implementação da nova representação do pictograma do idoso nas placas?
“A mudança na visão sobre o envelhecimento não é algo simples, há necessidade de muito diálogo sobre isso, pois quando lançamos o olhar negativo sobre o envelhecimento, automaticamente tornamos positivas as outras fases da vida. Por isso, há certa resistência em ver o envelhecimento como algo bom, isso é cultural. O envelhecimento ativo é algo recente, pois até pouco tempo atrás as pessoas envelheciam muito mal, de forma adoecida e passiva. Portanto, essa visão de envelhecimento saudável ainda não foi culturalmente implantada, por isso é importante divulgar em ampla escala, através de meios de comunicação, em seriados e novelas por exemplo, para que a imagem do idoso na cadeira de balanço, com bengala, e inativo dê espaço ao que o idoso realmente é.”
  • Como os profissionais da saúde podem ajudar a promover uma compreensão adequada da mudança do pictograma e seus impactos na sociedade?
“O papel deles é fundamental, inclusive para que entendam que não são apenas profissionais que cuidam de pessoas doentes, mas sim, de pessoas que querem manter uma boa saúde e uma boa qualidade de vida. Por isso é importante que eles se informem sobre os processos que envolvem o envelhecimento e principalmente, que ouçam os pacientes sobre como se sentem em relação a isso e suas necessidades, que são muito individualizadas e devem ser tratadas de forma individual também. A opinião do profissional de saúde é muito valorizada pelas pessoas, por isso, quanto mais eles tiverem um olhar positivo sobre o envelhecimento, mais bem orientados os pacientes estarão sobre o fato de que envelhecer pode ser algo natural e benéfico.”
  • Você acredita que a mudança do pictograma pode aumentar a conscientização e a compreensão das necessidades e direitos dos idosos na sociedade?
“A partir do momento em que o idoso se reconheça como alguém atuante, ativo e capaz, ele vai ter mais voz para lutar por seus direitos perante sua própria família e na sociedade. Ele pode incluir-se nas políticas públicas, acessando os Conselhos Municipais e Estaduais de Saúde, discutindo sobre o envelhecimento, atuando na conscientização das pessoas mais novas sobre a importância de se respeitar os idosos e seus direitos. “
  • Além da mudança do pictograma, que outras iniciativas você acredita que são importantes para promover uma sociedade mais inclusiva e respeitosa em relação aos idosos?
“A mudança precisa acontecer em vários níveis, aumentando o contato da sociedade em geral com os idosos, usando a comunicação em relação ao idoso sem infantilizar ou incapacitar através de discursos que emponderem esse idoso.”

Conforme explicado pela psicóloga Dra. Valmari Cristina Aranha, as mudanças começam com pequenos passos e são feitas ao longo do tempo, por isso, o envolvimento de todos é fundamental. Grupos de atividade física para idosos, organizados pelos serviços públicos de saúde, são boas iniciativas para promoção do envelhecimento saudável. Além disso, incentivo ao aprendizado através de cursos de artesanato e tecnologia por exemplo, ajudam a aumentar a participação do idoso na sociedade. A alteração do pictograma é mais uma etapa do processo que ainda está longe de acabar.

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