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01/10/2023 às 20h19min - Atualizada em 25/09/2023 às 17h51min

A história da animação brasileira

A história da animação brasileira é rica e diversificada, tendo evoluído ao longo de décadas.

Caroline Dantas - Revisado por Danielle Carvalho
O filme 'O menino e o mundo', animação brasileira de Alê Abreu (Foto: Divulgação/Rolling Stone)

Onde tudo começou 

Em 1917, na cidade do Rio de Janeiro, o cartunista Álvaro Marins, também conhecido como Seth, deu início a um marco na história da animação brasileira. Ele produziu uma charge animada intitulada "O Kaiser", abordando os acontecimentos bélicos na Europa. Esse filme estreou no Cine Pathé e também chegou a ser exibido nos Estados Unidos, retratando o imperador Guilherme II sendo engolido por um globo terrestre. De acordo com Arnaldo Galvão, um dos animadores mais experientes do Brasil, o nascimento do cinema de animação no país foi caracterizado por seu humor, agilidade e natureza contestadora, sendo herdeiro direto da sátira política. Infelizmente, desse pioneiro trabalho, hoje temos apenas uma única imagem preservada.

No mesmo ano, no Cine Haddock Lobo, situado na Tijuca, Rio de Janeiro, foi a vez do curta "Traquinices de Chiquinho e seu inseparável amigo Jagunço" estrear. Essa obra narrativa era baseada nas histórias em quadrinhos da revista Tico-Tico. Em contraste com o filme de Álvaro Marins, este curta apresentava situações tipicamente brasileiras, conquistando uma boa recepção do público. Curiosamente, não temos registros dos nomes dos animadores envolvidos, apenas da produtora Kirs Filme.

No ano seguinte, o desenhista Eugênio Fonseca Filho lançou "As Aventuras de Bille e Bolle", com personagens inspirados nos quadrinhos "Mutt and Jeff", do americano Budd Fishet. Essa história retratava os dois personagens descendo de um avião no Viaduto do Chá, em São Paulo, causando uma série de trapalhadas nas casas comerciais da cidade. Assim, como "O Kaiser," infelizmente, as cópias dos dois filmes mencionados anteriormente estão atualmente perdidas para a posteridade.

A história da animação brasileira possui um caráter provocador desde seu início, influenciada pela criatividade presente em charges e quadrinhos. Seu auge ocorreu entre as décadas de 1980 e 2000 e alguns dos filmes de animação mais notáveis do Brasil são os seguintes:

"O Natal da Turma da Mônica" (1976): Esta foi a primeira incursão da Turma da Mônica no mundo da animação, criada pelo renomado Maurício de Souza. Apesar de sua trama simples, o filme conquistou um lugar especial na televisão brasileira, sendo a estreia animada desses personagens icônicos.

"Cassiopéia" (1996): Dirigido por Clóvis Vieira, "Cassiopéia" se destaca por ser a primeira animação brasileira totalmente digital, lançada pouco após o pioneiro "Toy Story", considerado o marco internacional da animação digital. O enredo se passa em um planeta na constelação de Cassiopéia, ameaçado pela chegada de invasores que drenam sua energia vital.

"Uma História de Amor e Fúria" (2013): Sob a direção de Luiz Bolognesi, este filme traça a história do Brasil desde sua descoberta até o futuro, através da jornada de um personagem com 600 anos de vida que testemunha todas as fases e transformações do país. O filme conta com um elenco de renome, incluindo Selton Mello, Camila Pitanga e Rodrigo Santoro, foi aclamado pela crítica, conquistando prêmios tanto no cenário nacional quanto internacional.

"O Menino e o Mundo" (2015): Dirigido por Alê Abreu, este filme narra a história de um menino que vive no campo e decide seguir seu pai para a cidade devido à falta de emprego. A obra recebeu o prêmio de Melhor Animação no Grande Prêmio do Cinema Brasileiro e também foi indicada ao Oscar de Melhor Filme de Animação naquele ano.

Boi Aruá (1985): de Chico Liberato, primeiro longa de animação nordestino. "Boi Aruá" é uma adaptação da lenda folclórica nordestina sobre um boi misterioso que perturba uma cidade no nordeste do Brasil. O filme mistura elementos da cultura nordestina, como o forró e o baião, com uma narrativa que envolve a busca pelo boi desaparecido.

 



Atualmente 

A linguagem da animação oferece um universo de possibilidades para contar histórias, desde objetos inanimados ganhando vida até criaturas fantásticas como dragões, passando por cenários alienígenas e mundos extraordinários. A partir do final da primeira década dos anos 2000, outros modelos de negócios começam a surgir e a fazer sucesso no mercado de animação do Brasil, além da publicidade, sempre presente. A internet, por exemplo, criou demandas voltadas à educação a distância, animação para websites, e jogos online.

Mas a reviravolta no mercado da animação se deu com o implemento da Lei 12.485, que determinou a exibição de uma cota de produções brasileiras independentes dentro da programação dos canais a cabo, a chamada Lei da TV Paga. A demanda por produções animadas, especialmente séries, cresceu como nunca se viu no país.

Estúdios de animação começaram a se estruturar, especialmente no Rio de Janeiro e em São Paulo. Coproduções para realização de séries são estabelecidas com empresas estrangeiras, como é o caso da série infantil Meu amigãozão, feita pela 2DLab em parceria com a Breakthrough Animation, do Canadá. “As séries são importantes no sentido de gerar trabalho contínuo e fonte de renda principal para muitos profissionais, além de defender uma propriedade intelectual local, que se converte em ativos culturais”, defende Andrés Lieban, criador de Meu amigãozão.



Ações governamentais começaram a ser implantadas. A mais importante delas foi o AnimaTV, que, nas palavras de Arnaldo Galvão, foi “uma das mais fecundas iniciativas envolvendo o MinC – Secretaria do Audiovisual, TV Brasil, TV Cultura e ABCA”. O programa ofereceu oficinas em várias cidades brasileiras para orientar as produtoras sobre como montar um projeto para uma série de TV animada. Foram enviados 257 projetos inéditos de 17 estados brasileiros. Desses, 17 foram selecionados para produzir um piloto. Por fim, dois pilotos, Tromba trem e Carrapatos e catapultas, foram escolhidos para virar séries. Um edital de incentivo como o AnimaTV vai além das duas séries finalistas. Vários dos 257 projetos iniciais acabaram conseguindo viabilizar sua produção no futuro, como, por exemplo, Zica e os camaleões, Historietas assombradas e Vivi Viravento.



 
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