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20/11/2023 às 11h52min - Atualizada em 20/11/2023 às 11h13min

Entenda a licença poética e aprenda a não reproduzir erros gramaticais no cotidiano

Patricia Barboza Schwambach - Revisado por Paola Pedro
(Foto: Reprodução/Revista Adventista).

Licença poética, ou os erros de gramática permitidos em obras, pode comumente confundir os mais desatentos ou aqueles que não detêm conhecimento das regras da Língua Portuguesa. Para evitar os deslizes no dia a dia vamos observar hits que com licença poética ou sem, escorregaram no português.

Do cult ao popular, com certeza algumas dessas canções já lhe causaram estranheza. Quem não lembra do clássico “Entre Tapas e Beijos” na voz de Leandro e Leonardo? A canção, que é uma composição de Antônio Buenas e Nilton Lamas, foi gravada pelos irmãos sertanejos em 1989 e faz sucesso ao longo de décadas, figurando como tema em série de tv e regravada pela Banda Calypso.


Áudio da canção 'Entre tapas e beijos'. (Reprodução: Leandro & Leonardo - Tema - YouTube).
 



“Saio para fora”, quando usado na canção é um pleonasmo literário, sendo considerado uma figura de linguagem. O autor usou com o intuito de reforçar uma ideia assim como fez, por exemplo, Vinicius de Moraes no poema Soneto de Fidelidade - “E rir meu riso e derramar meu pranto” - e Chico Buarque na canção Cotidiano - “Me sorri um sorriso pontual e me beija com a boca de hortelã”. “Sair para fora” usado no cotidiano é um pleonasmo vicioso, um erro gramatical muito comum na linguagem coloquial. A redundância, que deve ser evitada, se repete em outras expressões como: entrar para dentro, subir para cima, descer para baixo, ver com os olhos, multidão de pessoas.

Outra canção atemporal, de muito sucesso e reverberada por gerações, “Eu nasci há dez mil anos atrás”, de Raul Seixas, é mais uma da lista do pleonasmo literário. A expressão que intitula o hit de Seixas é redundante e não deve ser utilizada por quem deseja empregar corretamente o português. Se você pretende dizer que algo tem muito tempo, faça essa analogia com “Há dez mil anos” ou “Dez mil anos atrás”.


Clipe original de 'Me Chama'. (Reprodução: Musicalidade - YouTube).
 



A história por trás da composição da música “Me chama” do Lobão, é triste e talvez justifique a escorregada que ele deu ao escrever a canção. De acordo com Roberta Campos, em matéria para a Nova Brasil FM, o cantor conta que a composição foi feita em um período difícil da sua vida, em que ele se sentia sozinho após a morte de sua mãe e afastado da namorada que estava viajando.

O verso “Aonde está você? Me telefona” que pode ser substituído por “Onde está você? Me telefona”, sem prejuízo à canção, denota o erro gramatical, mesmo sendo lícito o uso de licença poética. Para não errar mais no emprego basta lembrar que “onde” se refere a algo estático, parado, enquanto “aonde” vai sempre se referir ao que está em movimento, como nos exemplos a seguir: “Onde você está?”.e “Aonde você está indo?”.

E o prêmio vai para...
A campeã de erros por metro quadrado, é a canção “Inútil” do Ultraje a Rigor, composta em 1983 e utilizada como forma de protesto durante a campanha das Diretas Já de 1985. A crítica, feita pelos compositores em forma de música, é o melhor exemplo para ilustrar a importância de diferenciar (e não replicar a) licença poética da simples fuga às regras ortográficas.



Clipe oficial de 'Inútil'. (Reprodução: Ultraje - YouTube).
 



Inútil – Ultraje a Rigor
 A gente não sabemos escolher presidente
A gente não sabemos tomar conta da gente
A gente não sabemos nem escovar os dente
Tem gringo pensando que nóis é indigente
 
A gente faz carro e não sabe guiar
A gente faz trilho e não tem trem pra botar
A gente faz filho e não consegue criar
A gente pede grana e não consegue pagar
  
A gente faz música e não consegue gravar
A gente escreve livro e não consegue publicar
A gente escreve peça e não consegue encenar
A gente joga bola e não consegue ganhar

Inútil!
A gente somos inútil
Inútil!
A gente somos inútil


Nós, que não somos inúteis, podemos constatar que a lista infindável de erros é proporcional ao volume de composições feitas ao longo do tempo e não caberiam nesse texto. Que esses poucos exemplos sejam capazes de nos fazer refletir sobre a importância de estudar a nossa língua materna e não reproduzir a licença poética no cotidiano.


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