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20/02/2024 às 16h19min - Atualizada em 18/02/2024 às 22h13min

Anos 2000: a década que nunca sai de moda

Como foram os anos 2000 e por que a sua estética ainda influencia a cultura atual?

Gabrielly Leopold - Revisado por Danielle Carvalho
Estética dos anos 2000. (Foto: Reprodução/Wallpaper.com)

Cores vibrantes, celulares de botão, Orkut em ascensão, Britney Spears bombando nas rádios e o início da carreira de divas pop que hoje em dia tanto amamos, tudo isso enquanto você provavelmente era viciada em calças de cintura baixa e um gloss brilhante que talvez nem durasse tanto assim na boca, mas era divertido. É impossível dizer que os anos 2000 não marcam um dos períodos mais marcantes e repletos de personalidade para a nossa cultura.

Como tudo começou

Havia um clima de incerteza geral quanto a virada do ano de 1999 para 2000, o chamado bug do milênio. As pessoas temiam que a tecnologia não fosse capaz de processar a mudança e isso gerasse uma pane geral nos sistemas e serviços, apesar de ser um medo com pouco fundamento, isso se deve ao fato de que alguns sistemas antigos armazenavam as datas com apenas dois dígitos em seus calendários internos, então o “19” ficava implícito, fazendo com que a virada fosse interpretada como 1900 ou 19100.

Na prática, quase nada aconteceu. Algumas falhas ocorreram em terminais de ônibus da Austrália, em equipamentos de medição de radiação no Japão e em alguns testes médicos na Austrália, além de alguns sites mostrarem a data “‘1/1/19100”. Dentre as preocupações da geração estavam coisas como as contas bancárias zerarem, o fornecimento de água e luz ser totalmente interrompido e um colapso geral nos transportes.

A moda: exagerada e polêmica

Como grande parte das tendências dessa época, a moda dos anos 2000 era repleta de personalidade: cores vibrantes e tons pastéis, muitas lantejoulas, strass, acessórios ousados como cintos largos, óculos de sol extravagantes, camisetas com estampas infantis, saias cada vez menores e algumas referências de décadas passadas.

Foi a época da globalização e da ascensão da internet, tudo isso contribuía para que a informação e as tendências circulassem mais rápido, impactando diretamente na moda. Além disso, a cultura pop estava em seu auge, contribuindo para a estética da década com lançamentos que influenciaram e moldaram uma geração, consequentemente, refletindo na moda.



Combinações inusitadas como: calças com vestido por cima, minissaia sobrepondo legging, blusas de alcinha por cima de blusas de manga longa, conjuntos de agasalho plush e cinto no quadril por cima da camiseta faziam parte das tendências. Não havia muitas regras e o excesso era bem-vindo em qualquer ocasião, inclusive nos tapetes vermelhos, onde looks icônicos que eram a cara dos anos 2000 foram consagrados.



Falar da moda nessa década e não mencionar as polêmicas calças de cintura baixa é impossível. Esse tipo de roupa foi muito popular entre as celebridades, despertando uma febre nas adolescentes, no entanto, vale lembrar que muitas tendências dos anos 2000, principalmente essa, eram fortemente influenciadas pela magreza dos corpos que vestiam. Nessa época, a pressão estética por um padrão de beleza cada vez mais magro era evidente e a moda acompanhava isso, com tendências que passavam longe de atender todos os tipos de corpos.

Atemporais, os croppeds e tops também fizeram um sucesso enorme nesse período. Celebridades como Paris Hilton, as meninas do grupo “Destiny’s Child” e Britney Spears são alguns nomes que aderiram à moda e influenciaram inúmeras garotas. Agora, ao contrário dos croppeds que permanecem em vários guarda roupas, uma peça dos anos 2000 que hoje em dia é odiada por muitos é o bolerinho, sim, aquele que parecia um colete com mangas curtas para usar por cima de blusas e camisetas. No mínimo, polêmico.

Vale uma menção honrosa para alguns outros itens que você provavelmente usou enquanto “Oops I Did It Again” ou “Promiscuous” tocavam em seu MP3: lenços coloridos e estampados para usar no cabelo, boinas (possivelmente combinadas à oculos de sol com lentes laranja, marrom, azuis ou cor de rosa), saias de cintura baixa com pontas assimétricas, echarpes finas e shoulder bags (muitas vezes réplicas da Louis Vuitton). Um grande marco pra moda, não?


A tecnologia: hoje nostálgica, revolucionária para a época

Os anos 2000 marcaram um momento muito importante para o desenvolvimento das tecnologias: a era das redes sociais. Apesar de a primeira rede social criada ter sido em 1995, considerando os moldes de redes que conhecemos desde que a internet passou a estar disponível para todos, ela não se popularizou fora dos Estados Unidos.

Em 2003, o MySpace surgiu com foco nos amantes de música, os artistas desse ramo podiam ter perfis com até 10 músicas e era possível interagir com os fãs através dos comentários. Outros tipos de perfis foram se popularizando na rede, que também tinha espaço para vídeos e notícias. Apesar do sucesso no exterior, ela só ganhou força no Brasil em 2006.

No Brasil, o primeiro contato com as redes sociais veio em 2005, através do Orkut. Embora o LinkedIn tenha surgido em 2003, ele ainda não era usado para interações sociais como hoje em dia. A experiência do Orkut era diferente de qualquer proposta da tecnologia naquele período, essa foi a porta de entrada para a internet na vida de diversas pessoas. As comunidades eram uma das partes mais atrativas da rede, pois reuniam pessoas com assuntos em comum, seja futebol, filmes ou até as mais inusitadas como “Se eu morrer minha mãe me mata” e “Eu odeio acordar cedo”.

Algo que se popularizou através do Orkut e é a cara dos anos 2000 são os scraps, recadinhos corriqueiros enviados para o scrapbook de outras pessoas, normalmente num layout fofinho com letras coloridas e brilhantes ou desenhos de bonequinhos. Outras coisas marcantes da rede foram os álbuns, que inicialmente só podiam ter 12 fotos, as classificações “legal”, “sexy” ou “confiável” que serviam como avaliações para o perfil dos seus amigos.
 

Além das redes sociais, os anos 2000 também foram marcantes para outros aspectos da tecnologia. Aplicativos para ouvir música? Não. A grande graça eram os tocadores de MP3 e MP4 coloridos, mas para usá-los era necessário baixar a música no computador e manualmente passar para o aparelho, que também tinha função AM/FM caso optasse pelas músicas tocadas nas rádios. Se o seu desejo era algo mais potente, o Mini System, sistema com caixas de som enormes, também estava em alta. Além do acesso ao rádio, os Mini Systems tinham tocador de fita cassete.

Os celulares atuais podem até ser mais modernos, mas certamente os dos anos 2000 tinham mais personalidade, principalmente os modelos flip, de abrir e fechar. Outras sensações do momento eram os “tijolões”, os modelos mais tradicionais como o “Nokia 3310” famoso pelo jogo da cobrinha e os celulares com teclado qwerty, que imitavam os teclados do computador. Embora não tivessem muitas funções além da ligação, SMS e poucos jogos, os aparelhos eram coloridos e divertidos.

Se hoje em dia quanto mais leve um computador, mais moderno ele é, nos anos 2000 era totalmente ao contrário. Os computadores tinham monitor tubo, bem pesado inclusive, além de todos os outros equipamentos essenciais: CPU, mouse, teclado e caixas de som, fio era o que não faltava nessa época. Ah, vale lembrar também que acessar qualquer site através deles não era um processo muito simples, afinal, a internet era discada.

Para explicar melhor: isso significa que era feita por meio de uma linha telefônica, então, enquanto alguém navegava na internet o telefone ficava ocupado. Fato é que as gerações acostumadas com a rapidez de uma banda larga talvez não aguentassem um dia com a internet discada, pois rapidez não era bem o seu forte. Concluir um download, por exemplo, levava uma eternidade, sem contar que a tarifa era cobrada por minuto, então os preços eram bem elevados. Uma alternativa era ir até as lan houses, onde você pagava um determinado valor para mexer no computador e acessar a internet.

Outro aspecto muito importante para a tecnologia dos anos 2000 foram os pendrives, hoje já não tão comuns devido ao armazenamento em nuvem. Ele veio para substituir o disquete, sendo uma alternativa mais compacta e com uma capacidade maior para armazenar as fotos e vídeos da geração.

O entretenimento para uma geração sem streamings

Ouvir música pelo Spotify e assistir filmes e séries pela Netflix? Nos anos 2000 a forma de se entreter era totalmente oposta. Os DVDs eram bem comuns nessa época, uma alternativa para quem queria se entreter com um bom filme e gastar pouco era ir até uma locadora e alugar um DVD para assistir. Um pouco distante da nossa realidade atual? Sim. Mas, existia toda uma emoção em ir até as locadoras e passear pelas prateleiras com diferentes gêneros e escolher o que mais te agradava.

E já que o assunto é entretenimento, impossível não mencionar as estrelas desse período, afinal, os anos 2000 marcaram o auge de divas descobertas na década de 90 e a ascensão de algumas que hoje fazem grande sucesso. Britney Spears lançava um de seus maiores hits, a canção “Oops I Did It Again”, já Nelly Furtado e Timbaland marcaram a geração com “Promiscuous”, enquanto no cenário pop nacional as memoráveis “Na Sua Estante”, da cantora Pitty e “Tô nem aí”, da cantora Luca, tocavam em todo lugar e, para quem curtia funk, a atemporal “Ela só pensa em beijar”, era lançada. 

Também no Brasil, Kelly Key, Rouge e Floribella faziam parte da infância e adolescência de muitos, assim como as temporadas inesquecíveis de Malhação, incluindo a de 2004, marcada pela “Vagabanda”, que deu início a carreira de Marjorie Estiano. Novelas como “Da Cor do Pecado”, “Chocolate com Pimenta”, “Alma Gêmea”, “Laços de Família” e “Senhora do Destino” eram sucesso de audiência, rendendo várias reprises posteriormente.

Algumas das nossas amadas divas pop começaram sua carreira nos anos 2000. Katy Perry lançou a icônica “I Kissed a Girl” como single de estreia, ocupando o topo das paradas em 2008, no mesmo ano, Lady Gaga marcou a geração com “Poker Face”. Já Rihanna iniciou sua carreira de sucesso com “Pon de Replay” em 2005 e Beyoncé conquistou a todos com a atemporal “Crazy In Love” no ano de 2003, com o primeiro álbum solo lançado no hiato do “Destiny’s Child”. Deu pra sentir a nostalgia daí?

Nessa época, as visualizações do Youtube, a venda de CDs e a posição ocupada pela música na Billboard Hot 100, tabela musical padrão da indústria nos Estados Unidos, contavam muito para o sucesso do artista. Também era muito importante que as músicas tocassem bastante nas rádios, por isso os fãs ligavam e pediam a canção de seu artista favorito. Outra forma muito comum de revelar artistas e medir seu sucesso era através de programas de música na TV, como o “MTV Music”, quanto mais vezes o clipe fosse reproduzido através desses programas, maiores eram as chances de se tornar um grande sucesso.

Algumas séries marcaram os anos 2000 e continuam fazendo sucesso até hoje, principalmente por trazerem a sensação de conforto proporcionada pela nostalgia. Vamos ver se você se lembra desses clássicos aqui: “Gilmore Girls” (2000) foi um clássico para o início da década, a série aborda o relacionamento de Lorelai Gilmore, uma mãe solteira, e sua filha Rory em Stars Hollow, uma cidade pequena e cheia de histórias, já “The O.C.”(2003) conta a história de um grupo de adolescentes que moravam em Orange County, California, “Supernatural” (2005) acompanha os irmãos Sam e Dean tomando conta do negócio da família, que nada mais era do que caçar seres sobrenaturais, “Gossip Girl” (2007) nos contempla com os dramas e polêmicas dos jovens da elite do Upper East Side de Manhattan em Nova York, enquanto a “garota do blog” expunha seus segredos através de mensagens de texto.

Provando que foi um período extremamente marcante, alguns filmes dos anos 2000 ainda fazem enorme sucesso hoje em dia, são eles: “As Branquelas” (2004), Meninas Malvadas (2004), “De Repente 30” (2004), “O Diabo Veste Prada” (2006), “Como Perder um Homem em 10 Dias” (2003), “Legalmente Loira” (2001), “Confissões de uma Adolescente em Crise” (2004), “O Diário da Princesa” (2001) e muitos outros.


A volta das tendências dos anos 2000

É provável que você já tenha visto a sigla “y2k” por aí, nada mais do que é year 2000, ou seja, anos 2000. Ela surgiu com a volta da popularização das tendências da década em que passávamos horas em frente à TV assistindo a clipes de divas pop, como roupas e maquiagens mega coloridas, presilhas, calças de cintura baixa, lenços e tamancos.

Isso se deve, principalmente, ao tiktok e algumas personalidades famosas que apareceram incorporando peças dos anos 2000 em seus looks e despertaram o interesse da Geração Z, como Olivia Rodrigo, Bella Hadid e Dua Lipa. Atualmente, o aumento de brechós tem facilitado bastante a vida dos que desejam seguir essa tendência, especialmente considerando o quanto essa geração tenta ser minimamente eco-responsável.


Mas essa volta não fica só por conta da moda, outras tendências dos anos 2000 estão ganhando força desde o início de 2020. Um exemplo claro disso é a popularidade das “rom-coms” (comédias românticas) que fizeram sucesso no começo dessa década entre a geração atual, levando até mesmo a reboots e novas versões de séries e filmes dos anos 2000, como aconteceu com “Meninas Malvadas”. O entretenimento de 10 a 20 anos atrás virou referência para a cultura pop atual, sendo revisto várias e várias vezes com a praticidade oferecida pelos streamings e comentado nas redes, o que contribui ainda mais para a sua popularidade.

Para explicar o fascínio da Geração Z com um período no qual eram muito jovens para ter lembranças ou sequer haviam nascido, os especialistas usam a nostalgia. Ao rever uma série ou filme daquela época, automaticamente vem uma sensação de conforto trazida pelo efeito nostálgico causado por essas produções.

Se você considerar uma geração que cresceu em meio a crises sanitárias, políticas e econômicas, é natural que ela busque conforto em tempos mais simples. Não é como se não houvesse conflitos nos anos 2000, mas eles não foram vividos pela geração que idealiza essa época. Até mesmo quem cresceu durante o “y2k” e viveu o que os jovens de hoje em dia sonham tem lembranças felizes proporcionadas pela mesma sensação de nostalgia, pois sabem que eram tempos relativamente mais simples em que as crises não os afetavam como acontece agora na vida adulta.

Não há nada de errado com essa idealização da década passada, contanto que ela fique somente nas partes boas e nostálgicas, que as tendências extremamente negativas como a supervalorização da magreza e a gordofobia permaneçam no passado. Muitas vezes, o óbvio também precisa ser dito: a nostalgia e o conforto que trazem antigas tendências de volta não deve ser uma desculpa para mais um retrocesso causado pelo capitalismo. 

Marcas que se apoiam nas tendências da década passada para não diversificar seus tamanhos de roupa, celebridades que perpetuam discursos sobre corpos “perfeitos” que só são alcançados com rios de dinheiro e produções audiovisuais que usam como desculpa a estética antiga para não inserir representatividade no elenco não são parte de nenhuma tendência e não devem ter reconhecimento algum.

 

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