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15/07/2020 às 12h00min - Atualizada em 15/07/2020 às 13h35min

O estereótipo da pessoa gorda e a alimentação intuitiva

A sociedade enxerga pessoas acima do peso como não saudáveis, mas será que isso é realmente verdade?

Eduarda Caraça - Revisado por Renata Rodrigues
Reprodução / LightFieldStudios
Desde muito cedo aprendemos que pessoas gordas não são saudáveis, que devemos contar cada caloria consumida ou então cortar de vez açúcares e carboitrados. Crescemos banalizando condutas relacionadas a magrezas e excludentes a gordos: porque se você comer ansiosamente é gordice e olhares fuzilantes te constrangerão. Agora se você está doente e, graças a isso, emagrece abruptamente, quilos e mais quilos, graças a sua enfermidade, você está lindo (a) pois emagreceu! A sociedade de modo geral não prioriza a sua saúde, mas sim sua aparência estética.

Nos filmes gordas são rejeitadas pelos mocinhos. Além disso, a maioria das atrizes gordas nunca estão em posição de protagonistas. Geralmente, seu enredo é voltado para encontrar um amor que lhe aceite do jeito que ela é, mas nunca é ensinado sobre autoaceitação e amor próprio. Personagens gordas seguem contanto piadas dos comentários que escutam no seu dia a dia e como fazem para 'deixar pra lá' esse incômodo. 

Esse padrão é replicado no cotidiano e nas experiências vivenciadas em médicos, na escola, com a família e amigos. A estilista, Tassilla Lima, conta que "as pessoas falam [de gordo] como se magros não morressem. A pessoa é gorda e logo escuta um: 'ah! estou preocupado com a sua saúde. Não coma muito porque estou preocupado com você!' Mas espera aí! eu vou morrer como o magro. Se ser magro fosse garantia de vida eterna, então emagreceria tranquilamente". Tassilla sempre teve uma boa relação com seu corpo e não consegue se enxergar como uma pessoa magra. "A minha vida inteira eu fui gorda, quem eu serei se for magra? Mas nunca me entupi de comida e nunca passei vontade. A vida é curta demais pra ficar me privando. Relacionam gordo a doenças. Só que a vida inteira sempre comi bem e sempre fiz exercícios e nunca tive problema algum de saúde. Esta é apenas a minha estrutura corporal!"

Longe de dietas restritas e, também, fora do âmbito de coisas não saudáveis, a nutricionista Jaddy A. Guijo conversou conosco e nos esclareceu pontos que antes eram dúvidas para nós, em relação ao corpo e a saúde. Por isso, a alimentação intuitiva entrou em cena. Ela descarta dietas restritas que podem ocasionar, futuramente, compulsões alimentares ligadas à ansiedade. A alimentação intuitiva é um método natural da raça humana já que evoluímos comendo intuitivamente. A técnica ficou ainda mais conhecida durante os anos de 1990, quando foi esclarecida pelas terapeutas nutricionais Evelyn Tribole e Elyse Resch, também autoras do livro Intuitive Eating, 2nd Edition: a Revolutionary Program That Works (Alimentação Intuitiva: o método revolucionário que funciona, em tradução livre).

Superficialmente, essa ideia parece ser o paraíso para a comilança. Mas Jaddy explica que uma vez que você começa a prestar atenção na sua alimentação, percebe que, por exemplo, comer barras de chocolate todos os dias não é um hábito saudável e que te deixará indisposto a realizar simples atividades do dia a dia. 
Jaddy Guijo explica sobre Alimentação Intuitiva em seu perfil no Instagram. Conversamos com a nutricionista para entender sobre essa prática e as suas recomendações.

Reprodução | The Lazy Artist Gallery

Reprodução | The Lazy Artist Gallery



Eduarda Caraça: O meu principal foco neste artigo é a pessoa gorda. Pesquisando no YouTube e Instagram sobre adeptos à Alimentação Intuitiva, encontramos pessoas consideravelmente magras. Apenas uma pessoa gorda, que é a Luiza Junqueira, do canal "Tá Querida". Você, como profissional da área da nutrição, recomenda que pessoas gordas sigam o método?

Jaddy A. Guijo: "Qualquer pessoa pode praticar alimentação intuitiva desde que bem orientada. Uma pessoa gorda que foi bem orientada pode começar a praticar amanhã e passar a ser uma pessoa gorda que pratica alimentação intuitiva. A alimentação intuitiva não é sobre estética, é sobre saber reconhecer e respeitar os sinais que o seu corpo te dá. Em questão da maioria das pessoas que divulga ser magra, acredito que seja porque as pessoas que falam sobre saúde e alimentação no Instagram ainda são em sua maioria, magras! Mas isso não quer dizer que uma pessoa gorda não possa praticar!"

Eduarda: A eles, você recomendaria dietas restritas ou uma alimentação no intuitivo de seu estômago?

Jaddy: "Em minha atuação profissional não faço prescrição dietas extremamente restritivas. Eu trabalho ensinando, dando ferramentas a um ser humano, que é um conjunto de fatores e que vem com uma história, a se nutrir de forma saudável, mantendo um equilibro através de uma mudança gradual. Recomendo a prática sim, porém antes é necessário aprender a trazer consciência para a alimentação! E o que é isso? Entender quais são os sinais de fome, entender e como reconhecer se é fome fisiológica ou emocional, o que procurar fazer em cada caso, como se alimentar de uma maneira saudável, como equilibrar dentro de uma dieta saudável e que te de prazer, alimentos que sabemos que não são ideais. Alimentação intuitiva não é uma forma de se sentir bem se alimentando mal, é uma forma de encontrar um equilíbrio e viver uma vida saudável respeitando os sinais do seu corpo, seja ele qual for!"

Eduarda: Quais os sinais da fome fisiológica e emocional?

Jaddy: "A fome fisiológica surge aos poucos. Geralmente não ocorre logo após uma refeição. Para resolver, você estaria disposto a comer até comidas que não gosta! Não se resolve com distrações ou com um copo d'água, normalmente associada a incômodos no estômago, fraqueza e dores de cabeça! A comida sacia! Já a fome emocional surge rapidamente, independente de já ter acabado de se alimentar. Geralmente associada a vontades específicas como vontade de doces ou alguma comida especial, relacionada também com ansiedade, pensamentos sobre inseguranças e medos. Na mesma velocidade que vem vai embora. Se distrair com outras tarefas, exercícios ou tomar um copo d'água podem ser soluções! Muitas vezes relacionado a um comer descontrolado e nesse caso a comida não sacia e nem resolve o problema!

Eduarda: Qual seria o 'mandamento', dos 10 princípios da alimentação intuitiva, que você mais preza? Visando que, claro, todos são importantes.

Jaddy: "Pra mim o lema, é reconhecer e respeitar os sinais do seu corpo, não sentir culpa e trazer o equilibro que o corpo pede. O que eu recomendo é: trazer consciência para a alimentação comendo com calma e atenção; Comer quando tem fome fisiológica. Claro, não precisa esperar dar dor de cabeça, mas saber identificar que se você acabou de fazer uma refeição e está com fome, provavelmente não é fome; Beber água ao menor sinal de sede [boca e lábios secos]; Respeitar os sinais de saciedade, ou seja, não forçar comida depois do menor sinal de satisfação. Aquela primeira respiradinha de “nossa estou satisfeito”; Saber incluir alimentos que sabemos que não são saudáveis em momentos especiais; Prezar alimentação saudável e com alimentos in natura; E acho 10 mandamentos uma palavra forte que pra muitas pessoas reflete “se você não cumprir, vai pro inferno” e é justamente a sensação que eu como nutricionista não quero causar, de punição. Não é pra ser difícil, não é pra se punir, é pra viver entrar com coração tranquilo".
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