Lab Dicas Jornalismo Publicidade 728x90
17/07/2020 às 12h46min - Atualizada em 17/07/2020 às 10h00min

Manutenção de símbolos escravocratas como heróis brasileiros

Como monumentos em homenagem a um passado genocida influenciam na permanência do racismo estrutural

Gabriela Pereira - Editado por Caroline Gonçalves
Monumento às Bandeiras, SP Créditos: Rovena Rosa/ Agência Brasil
Recentemente manifestações contra o racismo tomaram conta do mundo todo. Diante desse cenário, manifestantes retomaram a discussão sobre a valorização de personagens escravocratas por meio de monumentos, e em diversos países esses símbolos foram derrubados. No Reino Unido, a estátua de um traficante de escravos foi jogada em um lago na cidade de Bristol.

Em contraponto, no Brasil, a estátua do bandeirante Borba Gato foi protegida pela GCM para que não houvesse danos ao patrimônio. Diante desse fato é necessário analisar o que faz com que o brasileiro fique inerte na presença de situações que exaltam um passado genocida.

 
Desde o ensino básico, é ensinado que os heróis brasileiros foram os bandeirantes, que desbravaram o território arriscando suas vidas, Tiradentes, inconfidente que lutou contra a coroa portuguesa e a própria Princesa Isabel, que libertou os escravos e colocou fim a escravidão.

No entanto, não é dito como as expedições dos bandeirantes matou centenas de indígenas, que Tiradentes buscava seus próprios interesses e que a Princesa não teve escolha ao assinar a Lei Áurea. Não é dito como o fato de não ter dado aos negros condições básicas para sobreviver após a liberdade, impacta diretamente a sociedade atual.

Além disso, ter sido o ultimo país da America a abolir a escravidão, diz muito sobre a estrutura social brasileira, apesar de 128 anos terem se passado desde a assinatura feita pela monarca, o país ainda não rompeu com o passado e continua a reproduzir a mesma estrutura racista do período de escravidão.

Ao longo da historia, a falta de personagens que seriam aceitos socialmente como figuras heroicas fez com que nomes de genocidas, assassinos, escravocratas, e toda classe que contribuiu para forma escravista de produção, ganhasse destaque.

É indubitável que toda nação precisa de ídolos e símbolos que deem um sentimento patriota na população. A elite brasileira precisou criar esses heróis, por isso a escolha de nomes que vemos atualmente. O que não pode mais ser aceito é que esses nomes continuem a ser cultuados.
 
 
Manutenção do racismo

A permanência desses monumentos contribui para manutenção do racismo estrutural que permeia nossa sociedade. A deputada Erica Malunguinho (PSOL) protocolou um projeto de lei para a retirada das estátuas que homenageiam escravocratas das ruas de São Paulo.

 
“Os monumentos são materiais da memória coletiva. De forma que, eles são utilizados para documentar o passado das sociedades e povos. A História oficial do Estado Brasileiro ainda reproduz narrativas que excluem as experiências das populações negras e indígenas. Empecilho que cria barreiras para efetivação plena da democracia", afirma a deputada através do projeto protocolado.



Para o professor de história, Celso Canettieri, “não adianta derrubar um símbolo, é preciso derrubar o preconceito. Como sociedade, não adianta derrubar monumentos e continuar pensando dá mesma forma”, diz.

As escolas tem papel fundamental na desconstrução desses pensamentos, é necessário acabar com esse mito de branco salvador de negros e índios. É necessário que a base curricular atenda as novas demandas sociais e ensine a real história brasileira, um país que foi construído através de sangue negro e indígena.

É de extrema importância que paremos de exaltar esse passado, como se houvesse algum mérito nele. Segundo Erica, “vale lembrar que, no período da escravidão, o Brasil recebeu cerca de 46% de todo o contingente de africanos escravizados e, hoje, é o que possui a maior concentração de negros da América. População esta que, ainda, não se vê representada na história oficial”, relata.

A proposta tem objetivo de realocar esses monumentos em museus, como um meio de manter a preservação da história. Não se trata de apagar a história, mas sim revelar a realidade dos fatos. Em entrevista cedida a Carta Capital, Erica afirma que “Educação não se faz apenas na escola, a cidade também é um espaço educador”.

Além dos monumentos, o estado de São Paulo faz homenagem a esses nomes através de parques, rodovias e ruas. De acordo com o professor, o estado precisou criar mitos de bandeirantes desbravadores e heroicos. No entanto, esses símbolos que exaltam um passado genocida devem ser acabar, não apenas nos monumentos, mas também na mente da população.



REFERENCIAS: 

Por que nos importamos com símbolos escravagistas dos EUA e ignoramos os do Brasil ? El País -
https://brasil.elpais.com/brasil/2017/09/02/politica/1504310652_774711.html
 

Link
Notícias Relacionadas »
Comentários »