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17/07/2020 às 14h23min - Atualizada em 17/07/2020 às 14h12min

Era uma vez... uma nação não leitora

Maria Luiza Machado - Editado por Letícia Agata
Que a leitura só traz benefícios e coisas boas para nossas vidas a longo e curto prazo, todo mundo sabe. Milhões de pesquisas sobre os efeitos dos livros no cérebro humano já foram feitas e os cientistas responsáveis sempre chegam à mesma conclusão.

Uma pesquisa realizada pela Rush University Medical Centre in Chicago, mostrou que a leitura é capaz de diminuir em 30% a redução da capacidade do cérebro durante a velhice, além de efetivamente proteger contra o Alzheimer. Complementando essa pesquisa, a Universidade Emory, dos Estados Unidos, concluiu que quando lemos, o cérebro age como se realmente tivéssemos vivenciado aquelas experiências, auxiliando assim para criatividade e o exercício dos neurônios, além de também melhorar nossos aspectos sociais.

Uma pesquisa publicada no Journal of Applied Social Psychology, diz que jovens que leem Harry Potter são menos preconceituosos, devido a associação dos bruxos nascidos “trouxas”, com os grupos minoritários da nossa sociedade.

Então por qual motivo os brasileiros tem hábitos de leitura tão baixos?

Segundo a última edição da pesquisa “Retratos da Leitura no Brasil”, realizada em 2016 pelo Instituto Pró-Livro, a média de leitura por habitante é de 4,96 livros por ano, e apenas 2,43 foram lidos até o final. Excluindo aqueles que não foram lidos por vontade própria, a população brasileira lê apenas 1,26 livros por ano. A pesquisa ainda revela que cerca de 28% da população não leitora não lê por não gostar, e 13% diz não ter paciência.

Para o professor de literatura, Willian Otegui, esse baixo hábito de leitura ocorre devido à falta de convivência com figuras leitoras dentro de casa, além da falta de acesso a livros de interesses pessoais, para motivar esse costume. Porém, o professor considera que no ambiente escolar os livros com temas interessantes para os alunos devem ser trabalhados em paralelo com os livros de literatura brasileira.

“O estudo sobre as obras clássicas e períodos da literatura não poderiam ser deixados de lado em nome do propósito de se criar leitores. Entretanto, a inclusão de obras e autores contemporâneos é válido para esse propósito. Creio que uma coisa não deve se sobrepor a outra: as duas podem coexistir em momentos diferentes da formação com propósitos diferentes”

O Instituto Pró-Livro divulgou que apenas 5% dos estudantes em 2015 compraram livros físicos indicados pela escola ou faculdade, 1% comprou em formato digital e 94% não compraram. 65% dos estudantes que não compraram os livros também não fizeram a leitura.

Segundo a pesquisa realizada em 2019 pela Picodi, cerca de 14% da população considera o preço dos livros altos, e 10% acha os preços demasiadamente altos, e a barganha desses valores é essencial para 36% dos entrevistados realizarem a compra, segundo a pesquisa.

Mesmo que existam 7.700 bibliotecas públicas no país, apenas 8% dos brasileiros as utilizam para conseguir livros, mesmo sendo uma ótima opção para lê-los de maneira gratuita.

A leitora, Nivia Araújo, considera que os brasileiros leem pouco, devido à baixa renda mensal e o grande número de analfabetos no país.
 
“Uma pessoa que sabe ler, mas é de uma classe social mais baixa, que trabalha em dois empregos para manter a família, vai chegar em casa e querer descansar ou descontrair com TV, filmes etc, algo que não demande um nível de concentração que vai cansá-lo mais! Já a pessoa que não sabe ler e nem tem a oportunidade de aprender, não vai conseguir ler um livro! ”

Willian diz que a principal forma de mudar esse quadro exposto por Nivia é usando as escolas como grandes propagadores dessa atividade.
 
“Primeiro precisamos lidar com a realidade da alfabetização dos brasileiros. Ainda temos uma parcela da população que não sabe ler e nem escrever, cerca de 11 milhões, somando a esses temos os analfabetos funcionais que são um grupo ainda maior. Sem erradicação desses índices com investimentos na educação de jovens e adultos não é possível criar um sólido mercado consumidor de literatura. Outra medida seria a ampliação do acesso a esses livros, seja por subsídios ou criação de mais bibliotecas e livrarias. Dentro do ambiente escolar o incentivo à leitura, desde a pré-escola, estabelecendo os primeiros contatos da criança com a literatura seria um grande passo já nesse sentido”.

O baixo nível de leitura de um país diz muito mais sobre uma nação do que as pessoas imaginam. O gosto pela leitura é sinônimo de um sistema educacional que enxerga a todos, e não apenas os com maior poder aquisitivo. Quer dizer que a população pode se desligar e apreciar a arte escrita e não apenas focar em seus problemas pessoais. E como demonstrado acima, a população fica cientificamente mais saudável e compreensiva sobre seu lugar na sociedade.

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