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07/08/2020 às 16h16min - Atualizada em 07/08/2020 às 16h11min

YouTubers ensinando: acesso à educação ou banalização da carreira científica?

Do cancelamento ao apoio, as polêmicas sobre Felipe Castanhari e Débora Aladim dividiram opiniões nas redes

Letícia Gouveia Veras - Revisado por Renata Rodrigues
Série do YouTuber na Netflix explora mistérios da ciência e gera polêmica. Foto: divulgação.
Não é de hoje que os YouTubers estão muito presentes na vida dos jovens, mas, agora, além de entreter, eles também estão ajudando a ensinar. Felipe Castanhari, do canal Nostalgia, que possui mais de 13 milhões de inscritos, grava seus vídeos explicando temas complexos, como fascismo, buraco negro, entre outros, de maneira didática. Mas há um problema para uma parte do público: ele não é nem historiador nem cientista; Felipe não tem formação nestas áreas.
 
Castanhari lançou, inclusive, no dia 4 de agosto, uma série original Netflix chamada “Mundo Misterioso". Nela, ele ensina ciência de uma maneira diferente que mistura aspectos dramatúrgicos com documentais, para atrair um público mais jovem e explicar alguns mistérios como o Triângulo das Bermudas, a Grande Peste e viagem no tempo.

Outro canal que também se envolveu na polêmica fala sobre história. Débora Aladim, possui um canal com mais de 2,5 milhões de inscritos e falou que Freud inventou a psicologia. Mas depois foi alertada e se corrigiu na sua conta do Twitter, explicando que, na verdade, ele inventou a psicanálise.
 
Débora, recém-formada em história pela Universidade Federal de Minas Gerais, oferece cursos online pagos e recentemente, lançou um com o valor simbólico de R$1,99 – valor o cobrado pela plataforma para hospedagem do conteúdo. Em seus cursos, ela ensina história, dá dicas de organização para vestibulares e Enem, além de ensinar redação mesmo sem ser formada em letras. 
 
Estes fatos foram o suficiente para os usuários do Twitter ficarem divididos. De um lado, os que queriam cancelar estes YouTubers, por eles disseminarem informações com erros e não terem formação nas áreas das quais eles falam sobre. Acreditam que isto banaliza os profissionais das áreas e que não é bom para a divulgação científica.
 
De outro lado, àqueles que defendem estes canais, pois acreditam que atuam como agentes democratizadores do acesso à educação, instigando os jovens a aprenderem de uma maneira diferente e mais interessante para eles.
 
O público, além de tirar dúvida sobre alguns assuntos, assiste aos vídeos também por diversão, como é o caso da Carol Nazarro, estudante do 3º ano do ensino médio. “Eu sempre estou vendo alguns vídeos desses YouTubers, e mesmo sem a formação e tudo mais, eles conseguem explicar muito bem e de uma forma muito mais fácil, pois falam de uma maneira menos formal, o que torna o aprendizado muito mais fácil”, conta.

Johnny Mingau, paleoartista, divulgador científico membro do Science vlogs e apresentador do canal The Mingau, foi bem contundente em seu posicionamento em relação à polêmica no Twitter. Para ele, o que deveria estar em questão são os erros cometidos e a falta de referências, mas não a formação do comunicador. “Além disso, ter formação não te impede de cometer erros. Se você faz divulgação científica e se sustenta nos estudos publicados, vá em frente e faça seu trabalho! Não subestime as pessoas por falta de formação”, complementou em seu perfil.
 
Para o professor de história, Sóphocles Luciano, graduado em licenciatura plena em História e pós graduado em ensino de História do Brasil, uma formação acadêmica é fundamental para informações válidas. “Acredito que uma formação acadêmica é de fundamental importância. Mesmo quando tem muito conhecimento histórico se não souber como utilizá-lo para poder fazer uma abordagem do ensino ou pesquisas corretamente, só corre risco de gerar informações sem compromisso e sem base científicas.”

Ao mesmo tempo que é positivo que informações científicas e históricas sejam consumidas por um público jovem, é preciso um cuidado extra dos comunicadores e especialistas para que estas informações sejam verdadeiras e que as fontes de referência sejam creditadas. Para Luciano, deve-se tomar cuidado com os fatos consumidos pois “os fatos históricos narrados nem sempre representam o que realmente aconteceu, principalmente quando há um fanatismo sobre os temas”.

Ele apoia um conhecimento com bases científicas. “Quando se tem uma base científica compromissada não corre o risco de gerar desinformação. Evitar que o público acredite é uma forma difícil, mas cabe a nós, profissionais compromissados, ajudarmos a desmontar essas formas informações sem bases científicas. Eu sempre indico livros e artigos científicos de qualquer tema que possamos abordar para o ensino”.

Em entrevista para o Correio Brasiliense, Felipe Castanhari, questionado sobre a participação de profissionais da área em sua série respondeu que: “Para cada episódio, a gente trabalhou com uma empresa de consultoria científica, que fez a pesquisa e a revisão de cada um. São especialistas como historiadores, paleontólogos, pesquisadores de instituições como a USP e a Universidade de Ciências de Lisboa. O nosso objetivo sempre foi informar corretamente. Não é novidade, sempre fiz isso. A polêmica fica nessa questão de extremos e eu condeno os extremos, eles são nocivos. Meu conteúdo nunca foi opinativo, sempre foi informativo. Sempre introduziu assuntos para o grande público”, explica. 

Apesar de não terem formação, o que abre espaço para erros e falta de referências, estes YouTubers são importantes comunicadores que ajudam muitos estudantes a se interessarem pelos assuntos e aprenderem enquanto se divertem. Porém, deve haver um cuidado com as informações e menção das fontes consultadas, para que haja a validade científica e a propagação da informação correta.
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