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01/09/2020 às 18h41min - Atualizada em 01/09/2020 às 18h31min

Opinião: Por que treinadores não conseguem se manter nos clubes brasileiros?

As demissões frequentes e a falta de organização dos clubes deveriam incomodar mais que resultados ruins

Anna Voloch - Editado por Paulo Octávio
Felipe Conceição foi o mais recente técnico demitido da Série A, pelo RB Bragantino. (Foto: Reprodução/Twitter RB Bragantino)
Em seis rodadas do Campeonato Brasileiro de 2020, cinco treinadores já foram desligados de seus clubes. As demissões ocorreram, principalmente, pela falta de resultados conquistados nesse início de competição. Os técnicos demitidos foram: Eduardo Barroca, do Coritiba e Ney Franco, do Goiás, ambos no mesmo dia. Daniel Paulista, do Sport, Dorival Júnior do Athletico; e, na última segunda-feira (31), Felipe Conceição do RB Bragantino.
 
Na Série B não é diferente, uma vez que quatro técnicos já foram desligados desde o início da competição, fora os que foram dispensados antes da retomada. Entretanto, as demissões frequentes de treinadores no Brasil é algo recorrente. Em 2019, foram 23 demissões entre os times da Série A durante o torneio. E neste ano, antes do início do Brasileirão, outros seis clubes da elite dispensaram seus técnicos.


Thiago Carpini foi demitido do Guarani após sequência de derrotas na Série B. (Foto: Reprodução/David Oliveira/Guarani FC)
 
Segundo informações do Centro de Estudo Internacional do Esporte, a Série B do Campeonato Brasileiro é a liga em que os treinadores menos duram no comando de um clube, com uma média de permanência de 122 dias. A Série A se encontra na 17ª posição, com uma média de 168 dias entre as trocas de treinadores. Nos países europeus, porém, os técnicos possuem o dobro de dias como média em frente aos clubes. Com isso, o questionamento que fica é: por que treinadores não conseguem dar continuidade aos seus trabalhos no Brasil?
 
A resposta, talvez, encontra-se na cultura dos clubes brasileiros de focarem somente em resultados. Outro fator é a falta de planejamento das diretorias ao contratar novos comandantes, sem saber se as filosofias combinam e sem trazer as peças necessárias para que o técnico dê continuidade ao seu trabalho. Além disso, a cobrança de patrocinadores, da torcida e da imprensa por sequências de resultados positivos também pesa nas decisões.
 
O Campeonato Brasileiro, apesar do futebol de qualidade duvidosa e do destaque incomum do Flamengo de 2019, é um dos mais equilibrados do mundo, tanto na Série A quanto na Série B. Dessa forma, qualquer deslize durante o campeonato que não trouxer os tão esperados resultados, pode culminar na perda do título ou no rebaixamento do time. Por isso, a cobrança pelos três pontos sempre é justa. Mas a culpa sempre é do treinador? Na maioria das vezes, não. A explicação é que para os dirigentes é mais fácil demitir uma pessoa ao invés do time todo, ou deles próprios, normalmente os principais culpados pelos momentos ruins dos clubes brasileiros.
 
Por outro lado, muitas vezes os técnicos realmente são culpados. O Flamengo jamais teria a ascensão de 2019 nas mãos de Abel Braga, por exemplo. Muitos treinadores não conseguem manter uma campanha regular e acabam sendo dispensados. O fato é que para que um treinador seja demitido, é necessário que se tenha um critério além de pontos perdidos, todo o trabalho deve ser avaliado, algo que dificilmente acontece nos clubes brasileiros.
 
Os critérios de contratação também são questionáveis: além do estilo de jogo, salário, entre outros, treinadores experientes ainda possuem maior destaque, mesmo com trabalhos anteriores claramente falhos. Mano Menezes, Felipão e o próprio Abel Braga ainda têm seus nomes na “boca” de grandes clubes, com base em seus trabalhos de sucesso, que ocorreram há anos, e não nos últimos pífios que resultaram em suas demissões. Enquanto isso, novos técnicos como Tiago Nunes têm seu trabalho questionado por muito menos.
 
Dentre todos os fatos, a única certeza é que os clubes brasileiros precisam evoluir. Não é normal 23 técnicos caírem em um campeonato disputado por 20 times. Não é normal também os técnicos tentarem aplicar métodos de jogo europeus em clubes com elencos limitados. A mudança deve vir de todos os lados e a busca pelo sucesso deve ser maior que a busca por dinheiro, principalmente. O futebol brasileiro precisa ser renovado em todos os sentidos.

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