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15/11/2021 às 21h52min - Atualizada em 15/11/2021 às 21h52min

​O capital gira na velocidades das rodas cargueiras

Bicicletas cargueiras ganham espaço no comércio e se tornam meios de produção da fonte de renda de milhares de brasileiros

Júlia Almeida - Revisado por Liliane de Lima
Reprodução: Portal Transporte Ativo
Se tem algo que não parou, mesmo em meio a pandemia do Covid-19, foram as bicicletas. De acordo com o monitoramento realizado pela Aliança Bike (Associação Brasileira do Setor de Bicicletas), no primeiro semestre de 2021 as vendas de bicicletas cresceram 34% em comparação ao ano passado. No primeiro trimestre do ano o aumento foi de 52%.

Dados como esses mostram a força das bicicletas, que enfrentaram dificuldades no começo de 2020, devido ao fechamento de lojas e estabelecimentos, mas permaneceram de pé. O aumento das bicicletas também trouxe diversidade para o mercado. Entre as inovações, surgiram as bicicletas cargueiras, adaptadas para o transporte de cargas.

Na Alemanha, o projeto fLotte Berlin visa transformar a mobilidade urbana, implementando bicicletas cargueiras para uso dos cidadãos de forma gratuita em Berlim. Uma iniciativa sem fins lucrativos e apoiada pelo governo da cidade. O Brasil é repleto de bicicletas cargueiras, nas quais as pessoas utilizam para diversas funções, uma delas para fins comerciais.

Maria Darlene dos Santos, 50 anos, natural de Juazeiro do Norte no Ceará, trabalha com salgados e sucos. Seu carro chefe são as coxinhas e pastéis fritos, porém, o diferencial são as vendas em sua bicicleta cargueira vermelha. Darlene conta que antes de adotar as duas rodas, trabalhava em uma casa de apoio e atualmente suas vendas são sua única fonte de renda. As vendas na bicicleta iniciaram pela necessidade de trabalhar. “Tem gente que fala: ‘não seria melhor você colocar um ponto fixo?’ E outras pessoas acham que eu sou uma guerreira. Tem pessoas que ficam elogiando, que dão valor a pessoa que trabalha, não importa encima de quê. A pessoa que não fica parada sem fazer nada” afirma Darlene "O ponto positivo de vender em uma bicicleta cargueira é que você vai nos lugares, vai até as pessoas. Aí você acaba vendendo mais do que se você estivesse em um canto parado, porque às vezes as pessoas estão com fome e não querem sair daquele lugar, você vai até aquela pessoa e ela agradece porque ela não estava querendo sair pra comprar em outro canto”.

Priscila Robert,
38 anos, também compartilha da vida sobre duas rodas. A carioca mora em João Pessoa na Paraíba a mais de oito anos e já possui uma clientela fiel aos seus produtos. Sobre uma bicicleta cargueira customizada, Priscila vende salgados fitness, sucos e saladas de fruta entre os bairros de Manaíra e Jardim Oceania. Ela conta como tudo começou. “Primeiro começou com um bom atendimento. Uma cliente virou minha amiga e me deu a bike. Com o pouco dinheiro que eu tinha guardado, comprei o que eu ia precisar para começar, em torno de uns 500 reais. Depois, fui montando sobre a farda e outra cliente também me ajudou. Aí tive a ideia de desenhar minha cobertura, pois o sol e a chuva estavam me prejudicando e isso custou uns 600 reais”.

A bicicleta de Priscila é totalmente personalizada, o que chama grande atenção das pessoas que ela afirma que consideram algo diferente. A bicicleta cargueira é acessível, saudável e funcional, porém, nem tudo são flores. A bicicleta de Maria Darlene não é customizada como a de Priscila, e ela expõe as dificuldades que enfrenta com o clima. "No tempo da chuva aí fica muito difícil de vender, de sair na bicicleta para vender. Fica difícil porque a bicicleta não tem aquele amparo para evitar da pessoa tomar chuva. Os salgados a gente tem que colocar a vasilha dentro de uma sacola, mas eu saio para vender. Na chuva é difícil de vender, não é fácil não”, explica, “o sol também atrapalha.”

Já Priscila, relata que sua principal dificuldade é com o trânsito. "Eu acho que no trânsito às vezes eles não respeitam, mas eu já estou acostumado já porque já faz um tempo que estou vendendo em uma bicicleta, então já me acostumei. No início, foi bem difícil ter que lidar com o trânsito, sobre as pessoas me respeitarem na rua, mas depois acho que eu conheço a minha rota, eu conheço a maioria do povo, são sempre as mesmas pessoas. Também no trânsito tento ficar sempre atenta porque é bastante perigoso”, relata.

A acessibilidade e o respeito no trânsito são as principais dificuldades que os ciclistas enfrentam no trânsito e são as grandes pautas do Cicloativismo, movimento ativista que busca melhores condições de mobilidade e segurança para os ciclistas. Luiz Aurélio Figueiredo, 41 anos, é natural de João Pessoa, professor municipal e cicloativista. Ele afirma que o cicloativismo é o ato de reivindicar o direito do ciclista, buscando alternativas mais seguras para o uso das bikes. Luiz já participou de várias palestras e conjuntos de cicloativistas.

De acordo com Luiz, para que o ciclista venha trafegar de forma segura em diferentes espaços muito ainda precisa ser feito. “Muita coisa ainda precisa ser melhorada, ainda precisa ser construída uma malha cicloviária maior, mas também precisa ser cuidada as que já existem. Os motoristas, motoboys e pessoas que andam de moto ou trabalham de moto, muitas vezes, não respeitam, eles invadem a ciclovia e não existe fiscalização com relação a isso” explica Aurélio.

O cicloativismo se torna ainda mais necessário quando se trata não só da locomoção, mas do trabalho sobre duas rodas. Os vendedores de bicicletas cargueiras são mães e pais de família, trabalhadores autônomos e microempreendedores que lutam pelo pão de cada em meio às movimentadas ruas e avenidas do País e assim, eles não podem parar. Assim como Priscila, Roberta afirmou: ‘Enquanto eu puder pedalar, eu vou vender. Enquanto tiver gente querendo comprar comida, eu estou aí’”.

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