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12/02/2021 às 08h54min - Atualizada em 12/02/2021 às 08h38min

Mohammed permanece em Zahra: a história do disfarce que derrubou barreiras

Atualmente, pode ser um absurdo que jovens sejam proibidos de ir a escola, mas no Afeganistão isso foi uma realidade para Zahra Joya, que surpreendeu ao tomar uma decisão ousada para estudar

Darlanny Ribeiro da Silva - Editado por Gustavo Henrique Araújo
Foto: Reprodução/BBC

 

Angustiada e presa em uma realidade que não escolheu, mas que lhe foi imposta. Vivendo com medo e acuada, Zahra e toda a sua família passaram por momentos apreensivos quando, no Afeganistão, o regime Talibã se instaurou. 

Toda a população era obrigada a seguir as ideias radicais do movimento islâmico, dessa forma, viviam sob a pressão dos ditadores que exigiam o cumprimento de todas as suas regras. As mulheres foram as que mais sofreram com esse cenário, tendo que abrir mão da sua liberdade, sendo proibidas de sair de casa, frequentar a escola ou ir ao trabalho; quando raramente saiam, precisavam estar cobertas com uma burca.

A pequena Zahra Joya tinha apenas cinco anos quando tudo isso afetou de forma significativa a sua vida. Ela mal podia entender o que de fato era aquela guerra de poderes, mas já sentia na pele a sensação de ter sua vida privada e ficar de mãos atadas.

Em meio a tudo isso, veio uma ideia que parecia loucura, vestir a garota de menino para que ela pudesse frequentar a escola. Com certeza muitas dúvidas passaram em sua mente e na de seus familiares. Será que isso vai dar certo? E se a descobrirem? O que faremos? Vale a pena tudo isso? As perguntas ficaram sem respostas, mas mesmo com tantas dúvidas, Joya convenceu a família de que esse plano faria bem a ela. Seria por um bem maior.

Seus tios a ajudaram com o disfarce e transformaram a garota no menino Mohammed, ainda sem jeito de homem, mas que foi aprendendo aos poucos como devia se portar na nova escola, o jeito de falar, andar, sentar e cumprimentar as pessoas. Tudo isso era novo, mas ela não queria desistir.

A escola ficava distante da sua cidade e lá ninguém conhecia sua história ou sua família, mas ainda assim ela ia todos os dias com um frio na barriga, cogitando ser descoberta.

Viver sendo Mohammed foi uma felicidade, ela podia se sentir livre ao sair de casa e estudar, como os garotos faziam. Ali, ela também pode perceber o quanto as mulheres sofriam com uma ideologia justificada pela religião e como essa diferença iria afetá-la por toda a vida. Mesmo assim, não deixou de aproveitar as horas que tinha de liberdade, fez amigos, aprendeu e cresceu sendo forte, sem jamais se arrepender da sua decisão.

O tempo passou e o Talibã deixou de dominar o Afeganistão, Zahra não precisava mais ser Mohammed, agora ela não precisava mais se esconder. Junto com a liberdade veio também alguns julgamentos, quando ela revelou sua história muitos a julgaram e se afastaram dela, mas a menina que foi perseverante em sua luta não se deixou abalar pelo comentário alheio. Ela aprendeu, com o garoto que habitou nela, a viver sem ter medo, enfrentar os obstáculos e não desistir do que, para ela, era importante.

A menina cresceu e continuou fazendo dos estudos a base da sua vida, tornou-se jornalista e segue incentivando as mulheres de seu país a realizarem seus sonhos. Sua luta não foi apenas por educação naquela época, mas segue sendo por respeito às mulheres, para que jamais deixem que os direitos sejam retirados delas.


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