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12/02/2021 às 10h03min - Atualizada em 12/02/2021 às 09h57min

O programa do governo: “Conta pra mim” e seu olhar simplista sobre os clássicos infantis

Aplicabilidade do projeto não teve o resultado esperado

Giovana Cerantola - Editado por Roanna Nunes
Foto/reprodução: Google.
Em dezembro de 2019, o Ministério da Educação (MEC) lançou o programa infantil “Conta pra mim”, com o intuito de “incentivar a cultura de leitura dentro do ambiente familiar”. Em relação às famílias, o projeto tem como “prioridade aquelas em condição de vulnerabilidade socioeconômica”.

Ao todo, o programa conta com uma coleção de 40 livros infantis, divididos por faixa etária. O material contém livros de ficção, de poesia, com imagens, para bebês e informativos. O programa visa desenvolver nas crianças quatro habilidades essenciais, que são as de ouvir, falar, ler e escrever. Tudo isso estimulado pelo próprio conteúdo e com o suporte dado pelo responsável da criança. No entanto, o programa não agradou a todos e foi alvo de duras críticas. Segundo especialistas, o programa literário empobreceu a história dos clássicos infantis e diminuiu suas problemáticas, a fim de criar um ambiente harmonioso que, na prática, não existe. 

Como o programa trabalhou com a releitura de clássicos, o primeiro problema encontrado em todo o conjunto foi a ausência do reconhecimento dos autores originais. Outra problemática encontrada foi a alteração da história. Em retrato, na tradicional história de "Chapeuzinho Vermelho”, o lobo não foi morto devido aos seus atos grotescos, ele, simplesmente, tropeçou e, coincidentemente, caiu no rio. Situações como aquelas, escritas anteriormente, eram conhecidas e ensinadas, para que as crianças pudessem ver que atos têm consequências, que existe maldade na intenção de outras pessoas, que mentir não traz vantagens, além de ensinar valores como educação e respeito, o convívio em sociedade e muitos outros exemplos, nas diversas morais que as histórias clássicas contavam.

Agora, a nova maneira de educar através dos livros pode ter um resultado diferente. Em decorrência disso, os escritores João Luiz Guimarães e Nelson Cruz decidiram recontar a história infantil “Os três porquinhos”. Porém, a nova ideia não é tão simples. Para isso, eles vão utilizar a tradicional linguagem Roseana, de Guimarães Rosa. Com escrita peculiar, Guimarães Rosa aproveitava o máximo da coloquialidade para tratar de diversos assuntos. Agora, aqueles irão utilizar o mesmo modelo de linguagem, para recontar a sagatrissuinorana, nome dado à história, narrada em pleno cerrado mineiro. Ela tem como objetivo desfazer toda a ideia simplista transmitida pelo programa do governo. 

O fato é que a literatura promove o desenvolvimento emocional das crianças, concede asas à imaginação, promove experiências, desenvolve a fala e estabelece um vínculo entre os familiares que estão com ela. Por esse motivo, é preciso que os responsáveis estejam sempre atentos: o livro em questão se adequa às necessidades reais da criança?

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