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13/03/2021 às 00h34min - Atualizada em 13/03/2021 às 00h32min

Blaxploitation: o movimento negro que revolucionou Hollywood

Gustavo Domingos - editado por Luhê Ramos
Créditos: Melvin Van Peebles
A princípio, os filmes norte-americanos não tinham nenhum negro como protagonista. Os papéis sempre eram de coadjuvante, ajudante do personagem principal ou apenas o negro aleatório que vai morrer. No entanto, no início dos anos 70, um novo gênero surgiu em Hollywood. Essa nova forma de filmes ficou conhecido como “blaxploitation”.

Dito isso, vamos contar um pouco mais sobre o movimento, uma vez que boa parte dos amantes de cinema (especialmente os mais jovens) não conheceram essa revolução em Hollywood. Para isso, traremos os dois filmes que simbolizam bem o início dessa caminhada de igualdade no cinema.
 
Sweet Sweetback's Baadasssss Song e Shaft 
(1971)
Para falar de Sweet Sweetback's Baadasssss Song, é preciso falar diretamente sobre o diretor, roteirista e protagonista do filme, Melvin Van Peebles. Ainda mais, toda a fantástica trilha sonora do longa foi escrita pelo mesmo. Quem deu a voz para as músicas foi o, até então desconhecido Earth, Wind, & Fire?
 
Assim, o longa representa bem o início do gênero blaxploitation. Em primeiro lugar, o protagonista é negro. Além disso, a trilha sonora era de funk e cantada por um afro-americano, algo extremamente atípico para a época. Van Peebles sempre teve a intenção de criar um longa para comunidade negra, as pessoas do subúrbio dos Estados Unidos, porém não apenas por entretenimento, mas também para uma reflexão sobre suas posições na sociedade americana.

                                     
 
Do mesmo modo, Shaft (1971) segue uma linha semelhante. O longa é dirigido por Gordon Parks, um dos diretores que mais se destacou em Hollywood a partir dos filmes blaxploitation. A música ficou por conta do soul man Isaac Hayes, que acabou levando o Oscar de melhor trilha sonora original de 1972. Já o personagem principal ficou com a atuação de Richard Roundtree.
 
Os dois longas têm inúmeras relações desde as músicas até os protagonistas. Van Peebles faz Sweetback, um protagonista que não é o típico herói, mas o público torce por ele. Do mesmo modo, Roundtree encarna Shaft, um detetive negro que segue seus próprios princípios. Ambos os personagens têm relacionamentos com gangues e seus líderes, além de revolucionários que lutam por seus direitos e o subúrbio da comunidade negra. Ademais, Sweetback e Shaft não recebem ordens de policiais brancos e resolvem seus problemas como melhor entendem.
 
Um dos aspectos que casam e agregam muito nos filmes é a trilha sonora, como já foi mencionado. Isso deve-se ao fato de que tanto Parks quanto Van Peebles escreveram seus longas pensando em cada música para encaixar em determinado momento.

                                         
 
Outra questão é a rebeldia que os filmes trazem à tela. O “bad boy” perde feio para os “baadasss” Shaft e Sweetback. Ainda mais, essa rebeldia reforça o espírito da contracultura que os criadores dos longas tinha em si. Vale ressaltar que nos dois a figura que predomina é a revolução violente de Malcolm X e não o pacifismo de Mather Luther King. Ademais, em uma das cenas de Shaft, na qual os “irmãos” estão se reunindo, há um quadro de Malcolm X.
 
Por fim, há duas questões importantes para realização dessas obras que marcaram o cinema. Ambas produções tiveram apenas 500 mil dólares como orçamento. Dessa forma, a luta foi grande para fechar a conta e entregar bons filmes. Acima de tudo, a vontade dos diretores e envolvidos foi o que tornou a obra em realidade.

                                       
 
Legado e Influências

Ficou claro o quanto esse longas foram marcos na histórias e revolução em Hollywood. A partir deles outros diretores vieram e tiveram a coragem de colocar o negro em papéis principais. Ainda mais, revelar verdades de formas cruas e deixar bem claro o quanto a sociedade é racista.
 
Durante o filme Shaft, o personagem de Richard Roundtree é perguntado se tem algum problema e o mesmo responde “É que eu nasci preto e pobre”. Essa frase revela tantas coisas sobre a sociedade, sobre classes sociais, sobre o racismo e sobre o capitalismo que esmaga a população pobre.
 
Outra grande frase é no longa de Sweetback, onde o Van Peebles coloca “Este filme é dedicado a todos os irmãos e irmãs que não suportam mais o homem”. Em outras palavras, é preciso mudar o nosso meio, uma vez que o homem branco determina tudo que acontece. Por isso, a revolução cinematográfica contra essa cultura e cinema classicista foi impactante.
 
Pois bem, é válido mencionar que diretores como Spike Lee, Quentin Tarantino e Robert Rodriguez beberam muito da fonte de Van Peebles e Gordon Parks. Esses diretores negros criaram uma nova forma de fazer filmes, na qual personagens negros têm seus destaques e devido valor no cinema. Ademais, a influência do movimento blaxploitation vive até hoje em produções de Hollywood e permanecerá para sempre, pois os negros perceberam que devem lutar e mostrar suas caras na grande tela. 

                                         

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