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19/03/2021 às 10h36min - Atualizada em 19/03/2021 às 10h06min

Marielle Franco, presente!

Três anos do assassinato e a pergunta ainda ecoa: quem mandou matar Marielle?

Isabelle Gesualdo - Editado por Andrieli Torres
Fonte/Reprodução: Google

Era noite de quarta-feira, março de 2018, os cariocas estavam ansiosos pelo jogo. Flamengo contra Emelec, time internacional. Aproximando a hora do jogo, as notícias, instantaneamente, começam a chegar. O foco não é mais no jogo. Dor. Desespero. Angústia. 
 

Rua dos Inválidos, Lapa, Rio de Janeiro. Este foi o último lugar onde Marielle esteve. Lá, no andar de cima, ela mediou uma palestra na Casa das Pretas, embaixo, no estacionamento, estava Anderson Gomes, o motorista substituto; mal sabia ele que aquele era seus últimos minutos de vida e que os assassinos estariam atrás, no Cobalt de cor prata veículo clonado. 
 

 Marielle, ao terminar a palestra, entra no carro, no banco de trás, em um costume atípico. Durante o trajeto, trocou mensagens com a esposa e conversou com Fernanda, sua assessora e sobrevivente ao atentado. De repente, treze balas são covardemente disparadas contra o carro, matando a ex-vereadora de 38 anos, no exercício de seu mandato, e o motorista Anderson, que deixou uma viúva gestante.
 

Passado um ano do crime, as investigações apontam o sargento aposentado Ronnie Lessa como autor dos disparos, e o ex-policial militar Elcio Queiroz como motorista do carro em que os disparos da submetralhadora HK MP5 arma usada por forças especiais da polícia foram dados. Os assassinos se tornaram réus na esfera cível pelo crime, vão responder a um processo de indenização movido pela viúva da parlamentar, a vereadora Mônica Benício (PSOL), e tiveram todos os bens bloqueados pela Justiça.
 

 As balas disparadas pertenciam a um lote da Polícia Federal. A arma do crime nunca foi encontrada, Josinaldo Freitas foi preso em 2019, acusado de jogar a submetralhadora em alto mar, na Barra da Tijuca. A Marinha atuou nas investigações, à procura da arma no fundo do mar. Contudo, não obteve sucesso nas buscas.
 

A submetralhadora e o carro usado no crime são, talvez, as menores incógnitas. Passados três anos, três perguntas permeiam o caso: quem matou Marielle e Anderson, quem mandou matá-la e por quê? Apenas a primeira pergunta foi respondida.

Atualmente, as investigações encontram-se sob o comando do Ministério Público do Rio de Janeiro. O MP, em uma iniciativa do procurador-geral de Justiça, criou uma força-tarefa específica para atuar  nas apurações. A Justiça espera obter dados do Google, para chegar a uma ligação entre o mandante e os executores do crime. 

A família de Marielle, além de ter de lidar com a dor do luto, e com a ausência de elucidação do crime, vive, desde o dia do assassinato, bombardeada por Fake News. Estas, muitas vezes, vêm de atores políticos, em uma tentativa de silenciá-la, mesmo após sua morte. 

A desembargadora Marília Neves, ficou conhecida nacionalmente após publicar uma informação falsa sobre a ex-vereadora: "A questão é que a tal Marielle não era apenas uma 'lutadora', ela estava engajada com bandidos. Foi eleita pelo Comando Vermelho e descumpriu 'compromissos' assumidos com seus apoiadores``, escreveu Marília em uma rede social. A postagem inverídica foi parar na Justiça e a desembargadora foi absolvida do crime de calúnia pelo Supremo Tribunal de Justiça (STJ).

Um outro episódio de notícia falsa contra Marielle, após sua morte, partiu do deputado federal Alberto Fraga: “Conheçam o novo mito da esquerda, Marielle Franco. Engravidou aos 16 anos, ex-esposa do Marcinho VP (alcunha de dois traficantes do Rio), usuária de maconha, defensora de facção rival e eleita pelo Comando Vermelho, exonerou recentemente 6 funcionários, mas quem a matou foi a PM”. O deputado removeu a postagem como pedido de desculpas, alegando que se arrependia de não ter checado a informação antes de compartilhar. 

Sobre as Fake News, o deputado federal Marcelo Freixo, amigo de Marielle, diz: “O assassinato da Marielle foi no ano da ascensão de uma extrema-direita que traz à superfície um Brasil racista, machista, homofóbico, que conviveu com a tortura. O Brasil do linchamento, do justiçamento”.

Marielle Franco, mulher negra, mãe, lésbica, feminista, ativista dos Direitos Humanos e “Cria da Maré” referência que ela mesmo se dava, por ter nascido e crescido no Complexo da Maré. Ela lutou, veementemente, pelos Direitos Humanos na favela, defendendo o direito a uma vida digna, liberta de preconceitos, violência (uma das áreas de maior luta para os moradores da favela) e falta de oportunidades. Sua militância começou antes mesmo de entrar na carreira política, quando sua amiga foi assassinada em um dos confrontos entre policiais e traficantes na Maré, a dor e a indignação foram o estopim para Marielle entrar na vida política. 

Em 2016, Marielle foi eleita a vereadora do Rio de Janeiro, com 46.502 votos, sendo a quinta candidata mais votada e a segunda mulher com maior número de votos. Dos 51 vereadores eleitos nesse ano, apenas um, além de Marielle, era negro; o pleito também contou com apenas seis mulheres. O mandato da parlamentar foi de grande representatividade, visto que o Brasil é governado majoritariamente por homens. 

A vida política de Marielle, apesar de curta e interrompida, foi marcada pela sua atuação corajosa. Ela era vista discursando na câmara, diante de homens brancos engravatados. Seus discursos eram dotados de garra, não se esquivava perante às injustiças. Discutia com homens de igual para igual, defendia pautas que divergia das pautas defendidas pela ala conservadora. 

O assassinato foi repercutido internacionalmente, milhares de pessoas foram às ruas exigir Justiça por Marielle, foi homeageada em diversos países.

 

Sua morte causou muita dor e indignação. Contudo, Marielle foi uma semente, a perda dela impulsionou várias pessoas a continuarem sua luta. As bandeiras defendidas por ela começaram a ecoar com avidez por todos os países. Marielle virou sinônimo de luta, e referência para as mulheres, sobretudo para as negras, que ainda enfrentam muitos desafios relacionados às questões de gênero e raça. Marielle partiu, mas deixou um legado de luta e resistência.

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