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25/03/2021 às 18h46min - Atualizada em 25/03/2021 às 18h16min

CARRO DA POESIA: O som da esperança pelos lares de Bertioga

Em parceria com o Sesc Bertioga, poetas criam projeto que leva poesia pelas ruas da cidade

Paulo Victor Alves dos Reis - Revisado por Mário Cypriano
Banner de divulgação do projeto Carro da Poesia - Imagem: Divulgação / Facebook Carro da Poesia

O som consegue chegar a diversos lugares, independente do território ou fronteira. Quem nunca ouviu o carro do ovo, da pamonha ou do gás? Esses sons reproduzidos fazem parte da nossa cultura. Pensando nisso, os artistas do litoral paulista, na cidade de Bertioga, Marcello Kanai e Mauricio Cardoso tiveram uma ideia inovadora para o cenário pandêmico: um projeto de intervenção urbana com poesia.

A ideia consiste em levar a poesia dos artistas locais aos lares da cidade através de um carro de som que faz o trajeto pelos bairros. Em parceria com o Sesc Bertioga, o início do projeto ocorreu em março, seguindo até o final de abril.

A responsável  pela contratação do projeto Carro da Poesia foi Sandra Regina, que trabalha no setor de programação do Sesc Bertioga. Ao ser questionada sobre a contração da ação cultural, relatou que foram diversos os motivos que levaram à concretização da parceria: ​“originalidade, adequação do formato durante o período da pandemia (não aglomera, as pessoas não precisam sair de casa para ter acesso à ação, o motorista também fica isolado e não se expõe ao contágio), oportunidade de participação dos artistas locais, possibilidade de desdobramento em outras ações como: curso de apreciação literária, por exemplo, e/ou de criação literária”, relatou.

A mensagem que o projeto quer transmitir para a sociedade é a esperança, momentos de reflexão e a importância da arte, principalmente agora.

 
 
A iniciativa cultural contou com a presença ilustre de três poetas locais, Leonardo Smith, Mariana Calil e Marisa Schmidt, que produziram três obras para o projeto. Seus textos foram gravados por uma locutora contratada para que fossem ouvidas pelos moradores durante o percurso.

“Saber que meu trabalho é ouvido pela população é algo imensurável. Só posso dizer que quando recebi a notícia eu me senti um dos malditos do simbolismo francês, Rimbaud sendo mais precioso, e comemorei tomando cerveja. Mais do que nunca precisamos de poesia, de um escape”, conta 
Leonardo Smith.
 

Mariana Calil descreve sua emoção ao dizer que “a poesia ouvida pelas pessoas é de um imenso prazer e orgulho. Perceber que a poesia está ganhando força e adeptos é muito bom. Precisamos realmente formar um público que consome poesia e que produz poesia em nosso país, recebo  um feedback maravilhoso. As pessoas realmente estão gostando da ideia e da poesia”.
A poeta ainda completa: “Emociona-me quando ouço um elogio, pois a poesia é visceral, ela sai de dentro da gente para o mundo, como um filho, que amamos sem saber ao certo onde chegará e o que alcançará. Apenas deixamos ela existir e persistir”.

Marisa Schmidt, poeta que participou de diversos projetos culturais na região como o jornal Eco de Bertioga, descreve que o convite gerou “uma sensação muito boa. Pensar que muitas pessoas talvez tomem contato com a poesia dessa forma incidental é gratificante”.


Carro de som levando as poesias pelos bairros - Foto: Divlugalção / Página Carro da Poesia
 

O condutor da esperança


Edinho Camargo, 68 anos, é o responsável por conduzir o veículo que traz a esperança por meio das poesias escritas. Trabalha com propaganda de carro de som desde os anos 90, atuando em Bertioga há 8 anos. “Já trabalho há muitos anos no ramo, entre divulgações e eventos culturais, mas nunca recebi um trabalho como esse apresentado pelo Sesc e idealizadores do projeto, fiquei muito surpreso” relata Edinho, entusiasmado com a iniciativa.

O condutor trabalha 4 horas por dia, de segunda a sexta. Edinho conta que vai deixando as poesias por muito tempo, e vai andando bem devagar para que os moradores possam ouvir bem. “Coloco o poema do Leonardo Smith para reproduzir e vou seguindo o percurso do bairro selecionado do dia”, relata.
 

"O que de fato se vive
esconde-se, encolhe-se,
mas timidamente, aparece
como um rio, atrai, encanta…
Todavia, sabe se manter calmo"
 
(Smith, Leonardo)

 
 
O condutor segue o trajeto e comenta: "em seguida de boa reprodução, já passo para a da Mariana Calil".
 

O personagem principal é o “eu” da rede social
Mudaram os papéis, mas as estórias são as mesmas
Trocou o cenário, o itinerário
Do trem, da vida, o ponto de partida, que eu decidia
Agora tem hora marcada e dia
A baldeação, pra mudar a rota
Era só virar a bota, e andar para o outro lado

(Calil, Mariana)

 
Por fim, Edinho coloca a poesia de Marisa Schmidt.
 

Felicidade é cada acordar
É a chuva e a gota a brilhar
Com o sol já ardendo na pele.

(Schmidt, Marisa)

 
 
Ao final do trajeto, Edinho retorna satisfeito, contando que recebe muitos elogios e a população tem gostado bastante da ideia.
 Em uma destas passagens pelos bairros, a moradora do bairro Maitinga, Vitória Baptistotti foi pega de surpresa. “Pensei, que fosse uma propaganda dessas que sempre passam oferecendo algum produto, mas resolvi ouvir, e fiquei impressionada com o projeto, fiquei muito emotiva, pois, as poesias passara-me a mensagem que existem pessoas boas neste mundo, e que há esperança de dias melhores apesar do cenário que enfrentamos” ressalta Vitória, com um sorriso no rosto.
 

Um escape em meio ao caos

 
A psicóloga Monique Vieira, especialista em saúde e psicanálise, aponta que “vivemos dias assombrosos, de incerteza, e muito medo. O desconhecido é normalmente assustador por si só, ainda mais em dias dos quais não se tem muitas respostas para o anseio da população. Qualquer categoria de arte pode ser um alento, um conforto, e por si só, uma distração. A indústria da cultura no nosso país acaba sendo bastante hostilizada, e por conta da falta de incentivo, acaba custando muito caro, tanto para os produtores, quanto para a população, portanto, pouco adquirida".

Monique ainda completa que "os ganhos psicológicos são infindáveis, e imensuráveis, sendo em vista, que cada indivíduo receberá a mensagem de uma forma, a poesia pode transmitir muitas mensagens, reflexões, pensamentos ponderativos, contemplações, e até mesmo ser recebida como uma forma de meditação”.

A intervenção cultural tem uma conta no Facebook, onde você pode acompanhar o cotidiano do projeto, além de imagens e vídeos. Se você ficou curioso para conhecer a iniciativa, basta clicar aqui ou buscar por Carro da Poesia e acompanhá-lo.

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