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23/04/2021 às 15h35min - Atualizada em 23/04/2021 às 14h54min

Escrito em 1870, ‘20 mil léguas submarinas’ continua como um marco da ficção científica

Livro aborda também assuntos que são atuais e agrada leitores do mundo todo

Anna Sales - Editado por Andrieli Torres
Foto/Reprodução: Internet

Quando se pensa em um livro escrito em 1870, logo pode vir a cabeça algo arcaico, cheio de palavras que não são mais utilizadas e uma narrativa cansativa, certo? Errado! Aventuras nos mares, criaturas históricas, uma fantasia que agrada a todas as idades: é isto que encontramos no livro ‘20 mil léguas submarinas’, do escritor francês Júlio Verne. O autor é considerado por especialistas, o pai da ficção científica e segundo a UNESCO, é o escritor cuja obra foi a mais traduzida em 148 línguas em toda a história.

 

O livro se passa em 1866, quando navios de diversas partes do mundo começaram a naufragar e sofrer misteriosos danos. Governantes e homens de ciência mobilizaram-se para identificar, localizar e deter o misterioso monstro marinho responsável por tais ataques. Buscavam algo descrito como “comprido, fusiforme, fosforescente em certas ocasiões, infinitamente maior e mais veloz que uma baleia”. A missão partiu a bordo do navio Abraham Lincoln, que saiu da costa dos Estados Unidos. Dentre esses homens da ciência estavam o professor naturalista Pierre Aronnax, o seu fiel escudeiro Conseil e o exímio arpoador canadense Ned Land. Após navegarem por diversos dias e quase desistirem, a missão não correu conforme os planos:  a besta desconhecida destroçou a fragata que fora em sua captura. Lançados ao mar, o professor Aronnax, Conseil e Ned Land foram resgatados e feitos prisioneiros pelo enigmático capitão Nemo, dono e líder do submarino Náutilus, que era na verdade o tal ‘monstro’ visto nos mares. 

 

Aronnax, Conseil e Ned Land descobrem então que o Capitão Nemo e seus tripulantes romperam para sempre com a vida em terra firme, falam uma língua própria e vieram de vários locais do mundo. Os três têm passe livre para circular pelo submarino, mas nunca poderão deixá-lo, pois agora sabem da existência do mesmo, o que era um segredo até então. O professor Aronnax e Conseil se animam, pois estudarão a vida marinha. Mas Ned não fica muito feliz e se sente como um ‘prisioneiro’, tentando bolar planos de fuga a todo instante. 

 

O submarino ‘Nautilus’ é descrito com uma impressionante riqueza de detalhes, dentre eles: como seria feita a troca de ar, como ocorre a energia elétrica à bordo e como são alimentadas as máquinas que fazem o submarino andar. O Nautilus tem de tudo: biblioteca, museu, salão e até mesmo uma parede de vidro para observar a vida marinha, que às vezes é fechada. Mas o mais impressionante de toda narrativa: não existiam submarinos como o retratado quando Júlio Verne escreveu o livro. Existiam apenas esboços rudimentares, que não duravam muito tempo embaixo d’água e não podiam comportar mais de quatro pessoas. Apenas 16 anos depois, em 1886, os espanhóis fizeram um submarino elétrico, mas este ainda dependia totalmente de baterias acumuladoras, que tinham de ser carregadas por um gerador de terra ou em outro navio.  Apenas em 1954, 84 anos depois do lançamento do livro, foi inaugurado o primeiro submarino nuclear do mundo, que também foi o primeiro a completar uma travessia submersa ao Polo Norte, em 1958. Ele recebeu o nome de ‘Nautilus’, também como uma forma de homenagem a Júlio Verne. 

 

Mas não foi só no submarino que o pioneirismo de Verne se mostrou presente. Em uma parte do livro, quando o Capitão Nemo convida o professor Aronnax para uma caçada em uma floresta subaquática, eles vestem escafandros, que já existiam desde 1839. Mas no livro, o Capitão Nemo possuía reservatórios individuais que armazenavam o ar. O jeito como foi descrito foi inventado por Jacques Cousteau 73 anos depois, em 1943. O escritor também foi pioneiro ao relatar a eletricidade a bordo. Apesar dos estudos sobre a eletricidade acontecerem desde a antiguidade, ela em escala industrial, como era descrito no livro, não existia. A primeira lâmpada, inventada por Thomas Edison, só foi descoberta nove anos depois. 

 

Com tantas aventuras marinhas misturadas com a ficção do autor, claro que a maior delas não podia ficar de fora: a navegação para a Antártida/Pólo Sul. O lugar mais frio do planeta ainda não tinha sido explorado, coisa que aconteceu apenas em 1911, com o explorador norueguês Amundsen, ou seja, 41 anos depois. Mesmo com todo o aparato do Nautilus, a aventura no livro surpreende e deixa os leitores sem fôlego esperando o próximo capítulo. 

 

O misterioso Capitão Nemo também era um homem preocupado com o mar, que tanto lhe dava a vida. Ele repreendia o arpoador Ned Land, que quando via uma baleia, tentava caçá-la. O Capitão por muitas vezes citava as destruições que os homens causavam ao mar e as espécies. Muitas espécies que na época estavam sendo caçadas abundantemente, hoje estão quase extintas ou em processo de extinção. Em alguns lugares do mundo, a caça à baleia é proibida, mas três países ainda permitem: Japão, Islândia e Noruega. 

 

O final em aberto, onde não descobrimos qual a verdadeira identidade do Capitão Nemo (em Latim, Nemo significa ‘ninguém’), continua intrigando gerações. O que será que aconteceu com o Nautilus, afinal? Mas isso não é impedimento para que novos leitores se formem a partir desse livro.

É o caso de Eduarda Lessa: “Depois de ler, eu fiquei com medo dos animais marinhos! Não queria nem entrar na piscina. Apesar disso, foi o primeiro livro que li completo. Apesar de grande, achei muito interessante e não fiquei cansada, pelo contrário: quis ler mais”, relata. Recentemente, em setembro de 2020,
a Biblioteca Parque Villa-Lobos, que promove o Clube do Audiolivro em parceria com a TocaLivros, escolheu “Vinte Mil Léguas Submarinas” como o livro do mês. O clube é destinado a jovens de 11 a 14 anos.

 
E de onde surgiu tanta inspiração para a escrita de Júlio Verne? Bem, acredita-se que a proximidade com o porto e as docas de Nantes, na França,  provavelmente foi o grande estímulo para o desenvolvimento da imaginação do autor sobre a vida marítima e viagens a terras distantes. Mesmo se formando em Direito, Verne queria ser escritor, e acabou indo contra a vontade do pai. Mas ele não desistiu fácil: a carreira literária do autor começou a se destacar quando se associou a Pierre-Jules Hetzel, editor experiente que trabalhava com grandes nomes da época, como Alfred de Brehat, Victor Hugo, George Sand e Erckmann-Chatrian. Hetzel publicou a primeira grande novela de sucesso de Júlio Verne em 1862, o relato de viagem à África em balão, intitulado Cinco semanas em um balão.

Essa história continha detalhes de coordenadas geográficas, culturas, animais. Os leitores se perguntavam se era ficção ou um relato verídico. Na verdade, Júlio Verne nunca havia estado em um balão ou viajado à África. Toda a informação sobre a história veio de sua imaginação e capacidade de pesquisa. A parceria entre Verne e Hetzel duraria por 20 anos. Hetzel apresentou Verne a Félix Nadar, cientista interessado em navegação aérea e balonismo, de quem se tornou grande amigo , introduzindo o autor ao seu círculo de amigos cientistas, de cujas conversas o mesmo provavelmente tirou algumas de suas ideias. Com tantas inspirações, Júlio Verne escreveu diversos livros que encantam gerações e não perdem a atualidade de suas fantasias.

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