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24/04/2021 às 15h35min - Atualizada em 24/04/2021 às 15h10min

Ser jornalista no Brasil: vivendo na zona vermelha do ranking de Liberdade de Imprensa

Liberdade cerceada, negacionismo e desinformação, como é ser jornalista em um contexto como este?

Maria Mendes - Editado por Maria Paula Ramos
Fonte: Repórteres sem Fronteiras

“Salvo raras exceções, o ambiente de trabalho dos jornalistas, já complexo e hostil antes da crise do coronavírus, piorou ainda mais.” Essa é a situação da imprensa na América Latina segundo a ONG Repórteres sem Fronteiras (RSF), a região apresenta quase todos os indicadores do ranking de Liberdade de Imprensa vermelhos.

Pela primeira vez, o Brasil está na zona vermelha no ranking Mundial de Liberdade de Imprensa, o que significa que a situação vivida por estes profissionais é considerada difícil. No ranking, divulgado anualmente pela RSF, o Brasil caiu quatro posições em relação ao ano anterior, ano em que já apresentava uma queda de duas posições. Atualmente, o país ocupa a 111ª posição em uma lista de 180 países. 

“Vejo muitos amigos com medo de trabalhar, de exercer a profissão que escolheram por receio de represálias”, disse Everton, repórter da TV Clube Record TV e professor universitário.

Além disso, o RSF ressaltou que o país enfrenta problemas com a desinformação. Jair Bolsonaro contribui para disseminar informações falsas, tais como remédios sem eficácia comprovada no tratamento da covid-19, - e desaconselhados pela OMS - críticas às medidas de isolamento social e, também, desrespeitou medidas sanitárias para o combate ao coronavírus.

“Hoje, ser Jornalista no Brasil é você ter que fazer as pessoas acreditarem de fato no que é verdade e não a verdade delas e não ser valorizado por isso”, disse o jornalista.

Para entender melhor a situação que a imprensa no Brasil vive, Everson enfatizou a importância de entender o contexto da profissão no país nos últimos oito anos, em que, para ele, ficou ainda pior. Foi um caminho partindo desde os protestos de 2013, momento em que a imprensa passou a ser alvo de frequentes ataques, foi rechaçada e hora foi identificada como sendo de direita, hora de esquerda. E com a chegada de Bolsonaro na presidência, tudo ficou ainda mais delicado para os jornalistas.

“Perdemos o pouco de respeito que tínhamos de parte da população. Precisamos provar a nossa credibilidade e a necessidade do nosso trabalho todos os dias. A gente sofre agressões verbais todos os dias. Às vezes, a situação foge do controle e chegamos a ser agredidos pelo simples fato de noticiarmos o que aquele determinado indivíduo não quer que seja publicado”, contou o repórter.

Na análise do ranking feita pela RSF, também há uma explicação para o que a imprensa no Brasil enfrenta hoje. “O ambiente tóxico no qual os profissionais da mídia brasileira trabalham desde que Jair Bolsonaro chegou ao poder em 2018 explica em grande parte essa deterioração. Insultos, estigmatização e orquestração de humilhações públicas de jornalistas se tornaram a marca registrada do presidente, sua família e sua entourage”, diz a análise.

Com o início da pandemia, os ataques à imprensa no Brasil dobraram sua intensidade. “Para desviar a atenção de sua gestão desastrosa da crise sanitária, que já deixou mais de 318 mil mortos (em 31 de março de 2021), Jair Bolsonaro acusa a imprensa de ser a responsável pelo caos no país”, completou a análise da RSF. 

Everson percebe isso em seu dia a dia enquanto profissional da imprensa. “Infelizmente, o gerenciamento para combater a Pandemia no Brasil foi muito falho e a morte acabou sendo banalizada. E mais uma vez, sem termos culpa, somos apontados como culpados por noticiarmos a catástrofe”, disse.

Para completar o contexto brasileiro, o RSF fala sobre a falta de transparência do governo de Jair Bolsonaro quanto à gestão sanitária no combate à pandemia. E ressalta o consórcio de imprensa criado em junho de 2020 para obter as informações diretamente com autoridades locais dos estados e, assim, conseguirem os dados verídicos sobre o coronavírus no Brasil para poderem comunicar essas informações à população. 

No dia 3 de maio, é o Dia Mundial da Liberdade de Imprensa. Uma data, em tempos como o que vivemos, de extrema importância para ser instrumento de conscientização social, na visão de Everson. “Sem Jornalismo não há democracia, não há liberdade e muitos direitos sociais podem acabar”, finalizou o repórter. E, como é reforçado pela RSF, o jornalismo é a principal vacina contra o vírus da desinformação.

 

 

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