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29/05/2021 às 14h06min - Atualizada em 29/05/2021 às 14h04min

A escultura tóxica

Artista plástica canadense estava sendo envenenada pela própria criação

Aila Beatriz da Silva Inete - Editado por Brenda Freire
Gillian Genser /Reprodução da BBC


É comum a arte imitar a vida, mas, às vezes, acontece o contrário: a vida imita a arte. Assim como na literatura gótica clássica, que a criatura mata o seu criador, na história real de Gillian Genser a sua “criatura” quase a mata. 

 

Gillian Genser, artista plástica canadense, durante 15 anos trabalhou em Adão, uma escultura que tinha como material conchas de mexilhão azul. A ideia era perfeita, já que Genser é apaixonado pela natureza. "Tenho um grande amor pela natureza. Ela é muitas vezes mais bela do que qualquer coisa que um artista poderia criar", disse a artista à BBC. 

 

"As conchas dos mexilhões eram perfeitas para fazer Adão. As estrias reproduzem de uma maneira tão bonita as fibras dos músculos." Adão tem uma presença forte, uma expressão marcante e peculiar. O trabalho, do qual tanto gostava, estava envenenando Gillian. 

 

Como?

 

Gillian já tinha problemas que ela relacionava a uma doença autoimune. Só que quando começou a trabalhar na escultura de Adão, ela começou a se sentir muito mais mal, sentindo sintomas de demência severa, dores que a imobilizavam, problemas de fala, desorientação espacial e perda de memória. "Eu me sentava em frente à obra e pensava: minha vida está acabando'' , disse ela para a BBC. 

Reprodução/BBC 

 

O laudo 

 

Depois de consultar vários médicos, e até tomar medicamentos antipsicóticos e antidepressivos, a artista foi diagnosticada com envenenamento por metais pesados. Ela tinha no corpo níveis altos de arsênico, além de encontrarem chumbo.

 

Depois de vários estudos, os especialistas identificaram que o problema eram as conchas dos mexilhões que davam forma a Adão. Mexilhões e ostras acumulam toxinas, só que não são afetados por elas, mas o ser humano é altamente afetado. Gillian já havia cortado milhares de conchas. A poeira do corte ficava no ar e isso a deixava exposta às toxinas. 

 

A artista não abandonou a sua criação - como muitos fariam - e finalizou Adão.  "Eu chegava à porta do meu ateliê chorando, porque sabia que as conchas estavam me envenenando. Mas não podia deixar a obra inacabada", relatou Genser à BBC.

 

Gillian Genser ainda vive com alguns problemas por causa do envenenamento. Suas obras continuam sendo feitas com materiais que, de alguma forma, são tóxicos. Genser sabe que precisa ter muito cuidado, mas não tem arrependimentos. "Não posso seguir pelo caminho do arrependimento. Temos que seguir adiante e não olhar para trás. Se foi assim que a vida se desenrolou, que assim seja",conta .

 

 

 

 


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