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31/05/2021 às 05h06min - Atualizada em 31/05/2021 às 04h45min

Cultura do estupro

Machismo enraizado na sociedade culpa as vítimas e expõe mulheres ao medo e vergonha

Letícia Pessôa - Editado por Talyta Brito
Foto: Reprodução/Google
Colega de trabalho, professora, vizinha, parceira de academia ou a artista que você assiste quase todos os dias na televisão. Entre todas essas mulheres pode existir uma vítima de estupro, mesmo que ninguém saiba. Casos de violência sexual são mais comuns do que se imagina e atingem mulheres de diferentes classes sociais. Mesmo sendo um crime o estupro ainda encontra “brechas” na sociedade. Argumentos como “ela pediu”, “o que ela queria andando sozinha tarde da noite?” e “mas com essa roupa minúscula” são usados repetidas vezes e representam a “cultura do estupro”. A expressão é utilizada para explicar a mentalidade social de que mulheres são inferiores aos homens e, portanto, são vistas como suas propriedades e disponíveis para satisfazerem seus desejos e vontades.
 
Surgida nos anos de 1970 a cultura do estupro baseada na ideia machista também foi responsável por outro termo: a legítima defesa da honra. Ainda mais letal para as mulheres, essa ideia que foi usada até em julgamentos de feminicídio garante aos homens a inocência em casos nos quais ele, como o nome sugere, estivesse defendendo sua honra. A legitima defesa da honra se estendia para casos de estupro, uma vez que a sociedade entendia como dever das mulheres manter relações sexuais com seu marido. Nessa época, ainda não se levantava a questão do consentimento. Mesmo com o avanço no tempo ainda é difícil para as mulheres relatarem um estupro sofrido. Além do assunto ser delicado existe a vergonha, culpa, o medo de julgamentos sociais e o descaso em tentativas de realizar a denúncia contra seu agressor. Segundo levantamento do Ministério da Justiça 64% das agressões sexuais não são denunciadas.
 
Infelizmente, o número de mulheres vítimas de estupros na sociedade continua crescendo. Sendo assim, é necessário debater sobre a cultura do estupro no país e principalmente usar dos meios disponíveis para que essas vítimas tenham força e voz para denunciar. Na busca por ouvir ao testemunho dessas vítimas, a jornalista Ana Paula Araújo escreveu o Livro Abuso – A Cultura do Estupro no Brasil. A obra lançada em outubro de 2020 traz relatos de mulheres que passaram por essa situação cruel, além de mostrar como casos de estupro ainda são naturalizados:

“Estupro é o único crime em que a vítima é que sente culpa e vergonha. Sim, é crime, mas é algo tão comum e normalizado em nosso país (...) que quem o sofre acha que é culpado por ele, uma vez que a sociedade em si também alimenta essa mentalidade.”
 
O livro contribui para arrancar a venda sobre o assunto e mostrar a perversidade desse crime. Entretanto, o mais importante desse projeto é dar visibilidade para as vítimas e mostrar de uma vez que a culpa nunca foi e nem será delas.

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