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14/06/2021 às 16h32min - Atualizada em 04/06/2021 às 00h44min

Brechós virtuais causam impacto na indústria da moda e influenciam práticas sustentáveis

Os brechós online tem causado bastante impacto na indústria da moda e na propagação da prática sustentável

Amanda Borges - Editado por Larissa Barros
Reprodução / Adobestock


Mesmo em tempos de crise, os brechós online vêm crescendo bastante nos últimos anos, principalmente no âmbito virtual. Os brechós não são assuntos que bombaram apenas nas redes sociais, eles também estão em sites de grandes proporções e ajudam a propagar a prática sustentável. 

Além de adquirir peças vintage em seu armário, aderir a essa prática se torna uma forma de economizar, e tem ganhado apreço dos jovens que não são só consumidores como também, empreendedores. Ademais, ele vem conquistando território em cima de um grande concorrente da indústria da moda, o fast fashion. 

De acordo com o relatório de revenda da empresa americana Thredup de 2020, o mercado de revenda de roupas tem estimativa de chegar aos US $64 bilhões até 2024, ultrapassando assim o comércio de itens novos. 

Segundo a historiadora e designer de moda, Cristiane Neves, o crescimento dos brechós já impactou a indústria em grande medida. “Muitas indústrias já estão vendendo seus próprios artigos antigos ou vintage, outras empresas estão fabricando apenas por encomenda e tem aquelas que oferecem reparos nos itens vendidos”, explica. 

Porém, Neves acredita que, por mais que o mercado de revenda tenha causado certo impacto, as empresas de moda ainda tentam maquiar as suas ações em forma de anúncio e propaganda de consumo consciente para ludibriar os consumidores mais ingênuos, conhecido como Green Washing.

No Brasil, existe o Repassa, que tem progredido no faturamento próprio nos últimos anos. O fundador da empresa, Tadeu Almeida, afirma que por meio da intermediação de vendas eles conseguem prolongar os ciclos de vida de 70% das roupas e acessórios que não são mais usados pelas pessoas, tendo como principal intuito, gerar um impacto socioambiental em todo seu processo.

 

“Em 2020, recebemos cerca de 250 mil pedidos, um crescimento de 130% comparado ao ano anterior, e a expectativa para este ano é mais do que quadruplicar esse volume”, diz. 


Um dos diferenciais do Repassa é que, além de propagar o consumo consciente, também apoia projetos sociais por meio de uma iniciativa chamada Repasse Solidário. O cliente solicita a chamada Sacola do Bem, uma embalagem desenvolvida para envio das roupas usadas, repassando as peças que não usa mais e o valor arrecadado delas. “No último ano, junto com nossos clientes e vendedores, conseguimos doar o montante de R$ 611 mil, o triplo de 2019. A expectativa é que em 2021 o valor chegue a R$ 2 milhões”, explica o CEO e fundador da empresa.

Sendo a moda a segunda maior indústria a contribuir para a poluição, tanto as marcas como os consumidores precisam analisar o produto que utilizam e que pretendem consumir. Conforme uma pesquisa realizada pelo Boston Consulting Group (BCG), 70% dos entrevistados -localizados em seis países- têm como principal motivo para consumir o mercado de revenda, o caráter sustentável atrelado com o contexto pandêmico.

A historiadora destaca que, um fator determinante para essa maior conscientização do consumo têxtil, - exclusivamente entre os mais jovens - se deve ao fato que os problemas ambientais se tornaram um assunto interdisciplinar nas escolas. 

 

“Crianças, jovens e os adultos na faixa etária de 35 anos, todos de alguma forma têm um certo conhecimento sobre a importância de pensar e fazer escolhas sustentáveis, embora muitos não levam a sério, ou simplesmente não importam”, completa a historiadora e também mentora do curso online Fashion as Design do, MoMA (NY).


Com essa ascensão meteórica  e uma expectativa de que o mercado de produtos usados seja maior que a moda rápida em 2029, o fast fashion ganha um competidor ao seu mesmo nível, segundo a Thredup, varejista americana, especializada na venda de roupas usadas. Pois, ambos almejam o mesmo público (classe média, baixa) e tem peças com custos baixos. 

Porém, o mercado de revenda usa a estratégia de reutilizar e criar peças novas, já as lojas de departamentos utilizam matérias primas inferiores e recursos não renováveis, aumentando o impacto no meio ambiente, criando peças que têm seu tempo de vida reduzido.

 

“Acredito que os brechós estão realmente incomodando os grandes conglomerados, pouco antes da pandemia tais indústrias já davam sinais de queda, como a Forever 21, que fechou suas lojas e a Zara que até abril de 2020 já havia fechado mais de 1500 lojas”, ratifica Neves.


Por fim, a historiadora e design completa: "O consumismo é algo que me perturba muito. Assim, o que eu aprendi foi aproveitar tudo que é possível. Como trabalho com moda sustentável gosto de transformar as coisas”. Cristiane tem uma relação com a moda sustentável desde sua adolescência, e hoje em dia tem seu próprio brechó, que além de vender roupas, transforma roupas usadas em criativas peças. 

É fonte de renda e amostra de criatividade 

“Descobri ser possível trabalhar apenas com o brechó, e hoje amo o que faço”, conta Nathane Gonzaga, 25 anos, dona do Juice Brechó. A loja tem o intuito de selecionar e fazer a curadoria de peças vintages que provavelmente seriam descartadas, fazendo elas circularem novamente. ”Minha renda vem totalmente do brechó. Com a pandemia ficou tudo mais difícil, mas ainda sim consigo me manter e ajudar minha família”, relata.

Assim como Nathane, a empresária  Jessie Corrêa, 25 anos, dona da Rouparia Cocteaus, afirma que a loja é sua única fonte de renda e o principal foco atualmente, a qual ela já tem planos para o futuro. “Ainda moro na casa do meu pai, então não tenho gastos com as contas de casa, mas meus planos são de crescer e ter um ateliê para trabalhar com a loja e expandir ela”, diz.

 Além de divulgar a importância e o hábito do consumo consciente, as lojas de itens usados têm evidenciado uma grande criatividade com métodos sustentáveis como o upcycling, e a técnica patchwork, que é o aproveitamento de vários pedaços de estampas de outras roupas, com a finalidade de criar uma peça inteira nova, que geralmente tem as costuras visíveis. 

 

“As ideias normalmente vêm de referências que encontro no Pinterest e no que eu tenho em mãos. E a partir disso eu vou montando a peça antes de costurar e vou vendo se tá combinando, se as cores estão bem harmônicas”, responde Corrêa.


Não há dúvidas que os brechós têm invadido o âmbito online, com a tendência de progredir cada vez mais. Não só sendo uma influência dentro da segunda indústria mais poluente do mundo, ademais, sua importância é visível nos tempos atuais de crise, vemos uma reinvenção no mercado de consumo de roupas, e uma inovadora e “vintage” forma de obter uma renda, a qual qualquer pessoa pode fazer parte. 

Talvez seja precipitado afirmar, mas a moda sustentável propagada pela venda de roupas usadas e pelos jovens, nos dão uma esperança de que o futuro possa ser revolucionário. 

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