Modelo do projeto da Janssen em desfile de W.A. (Foto: Hudson Cavalcanti)O mercado de bens e serviços está cada vez mais voltado para o âmbito digital, fortalecendo sua presença online através de ferramentas de divulgação, como os conhecidos “influencers”. Os mesmos usam suas redes sociais como seu ambiente de trabalho, por meio da produção de conteúdos diversos, apresentando um forte potencial lucrativo que se destaca no mercado.
Um estudo recente da multinacional Nielsen, apurou que o Brasil abrange mais de 500 mil influenciadores, destacando o desenvolvimento e o amadurecimento desse setor no país. Por ser um mercado novo e sem regulamentação, Bernardo Camargo, ativista e criador de conteúdo digital sobre a transgeneridade, afirma que não é fácil criar conteúdos o tempo inteiro, além de receber mensagens constrangedoras e desnecessárias. A modelo e influenciadora digital bauruense, com mais de 80 mil seguidores no instagram, Bárbara Souza - também conhecida por “Babi”- reforça: "às vezes você se dedica muito para aquilo e não tem o retorno esperado”.
As empresas têm considerado o marketing de influência importante em suas estratégias de comunicação, confiando na autoridade e na audiência que esses profissionais conseguem atingir, não somente no setor de consumo, como também na criação de uma conexão com o público, trazendo à tona a importância da representatividade no meio publicitário. A estudante do segundo ano de direito da Universidade Presbiteriana Mackenzie, Mariana Nascimento, relata que durante sua infância tinha dificuldade de se identificar em campanhas publicitárias enquanto mulher preta, e enfatiza:“a representatividade faz com que as pessoas se enxerguem nas marcas, ao invés de se moldarem para as mesmas”.
A décima onda da pesquisa "TODXS", realizada pela Aliança sem Esteriótipos da ONU Mulheres, analisou que em comparação com o ano de 2015 o percentual de mulheres negras em papéis de destaque nas propagandas de TV passou de 4% para 22% em 2020. Entretanto, o protagonismo continua sendo de mulheres brancas e magras, contando com cerca de 70%.
“Na maioria dos trabalhos que sou chamada é difícil ver outra menina negra, eu sou sempre a única. Nunca estamos ali na mesma proporção, está melhor do que antes, mas ainda é pouco. Não queremos esmola, mas sim igualdade”, afirma Bárbara Souza.
Bárbara Souza (Babi) em um ensaio fotográfico para a loja virtual Obsession — foto por “Leonardo Yamaguti”
De acordo com a pesquisa “Black Influence”, de 2020, da consultoria Youpix, os influenciadores que se consideram pretos têm a menor participação entre as raças, mesmo que cerca de 56% da população brasileira seja autodeclarada negra.
Segundo o relatório Diversity Matters, divulgado em 2015 pela consultoria McKinsey Company, o rendimento de empresas que praticam a promoção da diversidade chega a entregar 25% a mais do que organizações não inclusivas, constando que marcas que não aderem a esse percurso tendem a ficar para trás financeiramente.
“Mesmo que o interesse seja apenas financeiro, é sempre bom ter a representatividade”, ressalta Bernardo Camargo que já conta com cerca de 10 mil seguidores em seu Instagram.
No setor da moda, a SPFW de 2022 contou com a participação do estilista Walério Araújo que fez questão de aproveitar o seu espaço para enfatizar a necessidade da moda inclusiva e consciente para pessoas com Hipertensão Arterial Pulmonar, uma doença rara e dificilmente diagnosticada. Pacientes com HAP tiveram a oportunidade de desfilar com lindas peças inspiradas em uma "borboleta azul" (símbolo da campanha A Vida Merece um Fôlego), com enfoque na importância de serem vistos e admirados, não com pena, mas com respeito. A influenciadora Babi acredita que moda e maquiagem são manifestações de arte, que expressam a individualidade, “o que eu visto, eu vivo” destaca a modelo.
