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06/06/2021 às 00h00min - Atualizada em 06/06/2021 às 00h01min

Número de ataques à imprensa cresceu em 2020

Total de casos registrados somam mais do que o dobro de 2019

Giovanna Toledo - Editado por Júlio Sousa
Freepik

De acordo com um relatório divulgado no dia 21 de janeiro de 2021 pela Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), o Brasil bateu recorde de ataques à imprensa em 2020. Ao todo foram 428 casos de agressões aos jornalistas, incluindo violência verbal, física, virtual, censura, intimidações e entre outros. É o maior número desde 1990, quando a Fenaj começou a coletar os dados, e aproximadamente, 106% a mais do que o registrado em 2019.

 

Um dos últimos ataques aconteceu no dia 23 de maio, durante um ato realizado no Rio de Janeiro em apoio ao Presidente da República, Jair Bolsonaro. Uma equipe de reportagem da CNN foi alvo de hostilização por alguns apoiadores e precisaram da ajuda da Polícia Militar para saírem da manifestação. Nesse contexto, o relatório da Fenaj aponta que Bolsonaro foi responsável por 175 ataques registrados contra a imprensa em 2020 e ainda, mostra que tal comportamento incentivou que seus auxiliares e apoiadores "adotassem a violência contra jornalistas como prática".

 

A Lei número 2083, sancionada no dia 12 de novembro de 1953, estabelecida na Constituição Federal, regula a Liberdade de Imprensa. O Artigo 1º determina que “é livre a publicação e a circulação no território nacional de jornais e outros periódicos”. José Alves Trigo, professor de comunicação na Universidade Presbiteriana Mackenzie e doutor em Análise do Discurso, explica que liberdade de imprensa é a liberdade dos veículos expressarem sua opinião e mostrarem a verdade sem serem ameaçados. “Essa é a questão mais importante, sem serem tolhidos por questões de publicidade, por questões de financiamentos da empresa ou por agressões aos próprios jornalistas”.

 

A liberdade de imprensa visa garantir o bem estar social, acima de quaisquer outros interesses. O jornalismo é fundamental para deixar as pessoas informadas para que “a partir daí, seja possível mobilizar para mudar o que é injusto e o que prejudica a população, em todas as esferas da vida”, afirma a repórter da Rede Globo, Eliane Scardovelli. Além disso, o professor José Alves Trigo explica que: “sem o jornalismo, sem imprensa e sem liberdade é uma sociedade anárquica, no sentido de que os governantes poderiam fazer aquilo que quiserem”. 

 

Em maio de 2020, ao ser questionado a respeito da troca na direção da Polícia Federal, Bolsonaro mandou jornalistas ‘calarem a boca’. Segurando a cópia da edição do jornal Folha de São Paulo, a qual a manchete era “Novo diretor da PF assume e acata pedido de Bolsonaro”, o presidente apareceu na porta do Palácio da Alvorada e chamou o jornal de ‘patife e mentiroso’. Após o ocorrido, internautas compararam as atitudes agressivas dele com as do General Newton Cruz, durante a ditadura militar, quando Cruz tratava jornalistas de forma violenta, e que em uma entrevista de 1983, também mandou um repórter ‘calar a boca’.

 

Segundo Trigo, governos autoritários influenciam no aumento do ódio à imprensa porque eles não aceitam ser questionados e, quando são, reagem de forma agressiva. "Normalmente, são governos que não foram preparados para conviver em um ambiente democrático”, completa. Eliane Scardovelli explica que governos autoritários querem ter total controle das mensagens que chegam à população. Entretanto, é papel da imprensa fiscalizar as atividades do governo e mostrar os erros, não falar dele positivamente. Logo, os apoiadores desse tipo de governo, provavelmente, terão ódio à imprensa, porque ela é naturalmente crítica. “Os jornalistas sérios sempre vão olhar para o que não está funcionando, e isso é fundamental para a democracia” acrescenta Eliane. 

 

Uma imprensa oprimida, como no caso do Brasil, não permite que a democracia exista em sua plenitude.
 

“Se houver opressão a um regime, seja ele a imprensa ou o judiciário, não há democracia. Por isso, não se pode dizer que no Brasil há democracia plena”, explica José Alves Trigo.  



 

Referências

Equipe da CNN é hostilizada durante manifestação no Rio de Janeiro. CNN. 24/04/2021. Disponível em:

https://www.cnnbrasil.com.br/nacional/2021/05/25/equipe-da-cnn-e-hostilizada-em-manifestacao-no-rj. Acesso em: 04/06/2021.

 

Brasil teve recorde de ataques à imprensa em 2020, diz relatório. DW. 26/01/2021. Disponível em: https://www.dw.com/pt-br/brasil-teve-recorde-de-ataques-%C3%A0-imprensa-em-2020-diz-relat%C3%B3rio/a-56354093. Acesso em: 04/06/2021.

 

LEI Nº 2.083, DE 12 DE NOVEMBRO DE 1953. Câmara dos Deputados. 10/02/1967  https://www2.camara.leg.br/legin/fed/lei/1950-1959/lei-2083-12-novembro-1953-366187-normaatualizada-pl.html. Acesso em: 04/06/2021.

Ataque à imprensa mostra disposição autoritária e antidemocrática de Bolsonaro, dizem estudiosos.  Folha de São Paulo. 05/05/2021. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/poder/2020/05/ataque-a-imprensa-mostra-disposicao-autoritaria-e-antidemocratica-de-bolsonaro-dizem-estudiosos.shtml. Acesso em: 04/06/2021.


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